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Larissa Almeida
Publicado em 16 de fevereiro de 2025 às 07:38
Nas horas finais de preparação das finalistas da 44ª Noite da Beleza Negra, era possível ver, por todos os lados do camarim, malas com as indumentárias que denunciavam a riqueza da produção de cada uma das candidatas. De tecidos importados a jóias de ouro, houve quem investisse mais de R$ 5 mil em material e preparação para alcançar o sonho de se tornar a nova Deusa do Ébano - título que, esse ano, ficou com a moradora de Itapuã Lorena Bispo. >
A recifense Nayara Temporal, 33 anos, teve gastos que nem ousou calcular ainda, porque precisou se deslocar de Recife para Salvador mais de três vezes durante as fases de seletiva do concurso. De acordo com ela, houve investimento de aproximadamente R$ 2 mil em figurino e mais de R$ 3 mil em passagens aéreas.>
"Eu moro em Recife, mas, com esse objetivo da Deusa do Ébano, vim para cá estudar e conhecer a dança e a sonoridade do Ilê. Eu sou dançarina e sempre gostei muito da dança afro. O amor ao Ilê me fez vir tentar esse sonho", destaca.>
Nayara conta que tudo começou em 2017, quando o bloco afro ofereceu uma oficina de dança em Recife para profissionais. À época, ela ainda não trabalhava na área, mas acabou sendo selecionada mesmo assim. "Mudou a minha vida. Com o passar do tempo, fui me identificando com a ideia de retorno à África, de maneira filosófica, e isso casou perfeitamente com o Ilê", relata.>
A pedagoga Rafaela Rosa, 29 anos, que pela quarta vez consecutiva participa do concurso, diz que teve gasto aproximado de R$ 3 mil reais. "Eu digo que estar aqui me custou um sonho, mas me custou também valores em dinheiro. Teve todo um investimento em preparação e aula de dança, além do figurino em si", pontua.>
Eleita princesa do Ilê em 2024 e rainha do Malê Debalê em 2023, a dançarina, comunicadora e escritora Lorena Bispo, 22 anos, tenta pela segunda vez o sonho de ser escolhida como Deusa do Ébano. Segundo ela, este ano está sendo diferente quando comparado a última edição, até mesmo no que se refere aos gastos. >
"Eu estou conseguindo viver o processo com tranquilidade e leveza. A felicidade é o que está me contagiando, ano passado era a ansiedade. [...] Esse ano eu ainda não sentei para fazer minha contabilidade, mas desta vez decidi abrir uma vaquinha, porque entendo que isso é um compromisso de comunidade. A partir do momento que eu preciso da minha comunidade e ela me entende nesse espaço, eu convoquei a todos", conta.>
"A meta da minha vaquinha foi de R$ 4 mil, que foi o que estimei para gastar com figurino, mobilidade, alimentação, mão de obra, aulas de dança, ensaios e a mobilidade e alimentação dos profissionais que vieram me ajudar. São muitas mãos que dão conta para que tudo isso aconteça", completa Lorena.>
Entre as candidatas, houve também quem conseguiu gastar menos ao investir no trabalho manual de familiares. Esse é o caso da arte-educadora Caroline Lopes, 30 anos, que pela oitava vez participa do concurso. Este, no entanto, é o segundo ano em que chega até a fase final do certame. Para ter tanta persistência, ela conta que o segredo de tudo é o apoio da mãe. >
"Concorrer ao título de Deusa do Ébano é um sonho de minha mãe que se tornou meu de uns anos para cá. Eu queria muito honrar minha comunidade do Subúrbio Ferroviário e a minha família, [...] e minha mãe foi minha base todinha nessa preparação. Nós gastamos quase R$ 2,5 mil com transporte, tecido, búzios e palha-da-costa, indumentárias e adereços", detalha.>
Para além do gasto financeiro, houve investimento emocional. Caroline conta que a mãe passou noites sem dormir para costurar à mão o figurino que ela usou na segunda apresentação da noite. Ednalda Lopes, 52, confirmou o relato da filha e acrescentou que faria tudo outra vez. >
"Desde menina eu acompanhei o Ilê, mas nunca tive oportunidade de fazer parte porque pessoas entraram na minha vida e quiseram bloquear esse sonho. Mas a minha filha cresceu ouvindo o Ilê e vendo que o bloco é tudo de bom. Para mim, é referência", enfatiza.>