Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Wendel de Novais
Publicado em 5 de março de 2025 às 17:06
Apesar de estarem em Fazenda Coutos, as localidades conhecidas como Madeirite e Theotônio Vilela têm atuação de facções distintas que entraram em confronto antes da ação policial que acabou com 12 mortos na tarde de terça-feira (4). Na primeira, o tráfico de drogas está na mão de ‘A Tropa’. Na segunda, onde os suspeitos foram mortos, há atuação histórica do Bonde do Maluco (BDM). Uma divisão geográfica que quase teve fim por conta de uma traição interna no BDM e da união da facção A Tropa com integrantes do Comando Vermelho (CV), como informa uma fonte policial. >
“Há dois dias, já existia a informação de que dois traficantes do BDM tinham virado, quando você sai de uma facção para outra, e estavam botando o terror no Theotônio. Depois, esse número subiu para três. Logo na madrugada de terça-feira, esses relatos se multiplicaram e a polícia teve acesso às imagens que atestavam o movimento dos da Tropa que estavam no Madeirite e desceram para o Theotônio, já com os integrantes do Comando Vermelho”, relata o policial, que terá nome e cargo preservados. >
A reportagem teve acesso às imagens dos criminosos circulando a pé e armados pelo largo de Fazenda Coutos em direção ao Theotônio. No vídeo, ao menos 13 suspeitos caminham encapuzados. Em coletiva de imprensa nesta quarta-feira (5) sobre a ação de intervenção da polícia, Marcelo Werner, titular da Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA), confirmou que a informação de invasão surgiu há 48 horas e que imagens ajudaram o setor de inteligência a encontrar os suspeitos. >
"Houve, inicialmente, uma área de conflito entre as facções, na disputa que eles promovem em violência para o domínio de território, para tentativas de domínio de território", disse. Informações colhidas por denúncias e videomonitoramento comprovaram "o bonde chegando àquela localidade para provocar terror e morte", acrescentou o secretário, destacando que, além de moradores expulsos de casas, há possibilidade de vítimas sob cárcere privado por horas na mira dos bandidos. >
As ruas principais das localidades do Madeirite e do Theotônio são separadas por apenas 500 metros. Moradores ouvidos pela reportagem contaram que o trajeto foi feito a pé pelos criminosos e confirmaram a traição no BDM. “Eles vieram a pé mesmo, bem pela rua. Chegaram com facilidade porque três que eram daqui viraram para o lado de lá e trouxeram eles. Depois que vieram, começaram os tiros. Ninguém conseguiu dormir de segunda para terça”, fala um morador, sem se identificar. >
Onde os 12 foram mortos? >
Outra moradora, que também tem medo de dizer o nome, confirma a traição e afirma que os três que saíram do BDM estavam entre os 12 que morreram em confronto com a Polícia Militar da Bahia (PM-BA). “Não sei dizer o nome deles de cabeça, mas eram daqui do Theotônio e fizeram isso de trazer o 5 [A Tropa] e o 2 [CV] para invadir aqui. Os três morreram, eles estavam na casa que ficou toda destruída. Por sorte, a casa estava vazia e só tinha gente deles dentro, os 12 morreram lá”, afirmou a moradora. >
O secretário Marcelo Werner, no entanto, não confirmou as mortes apenas em um imóvel. De acordo com ele, os policiais militares da Rondesp entraram em confronto com os criminosos em três momentos distintos. “Houve um primeiro confronto com a chegada dos policiais. Um segundo momento de confronto na residência onde eles haviam tomado e expulsado a população daquela residência e um terceiro momento também que culminou nos 12 resistentes que foram apresentados no hospital”, falou Werner, sem detalhar em qual lugar ocorreu o primeiro e o terceiro confronto. >
Segundo informações da SSP-BA, a investigação confirmou que todos os doze tinham invadido a localidade da região nos dias anteriores, fortemente armados. Na ação que acabou na morte dos suspeitos, de acordo com a pasta, foram apreendidas doze armas, entre submetralhadoras e pistolas, carregadores, balaclavas, rádios, drogas e balança de precisão. >
O Departamento de Polícia Técnica (DPT) e a Polícia Civil da Bahia (PC) vão investigar o caso. Por isso, investigadores já estão ouvindo moradores, todos os PMs envolvidos e analisando imagens de câmeras de monitoramento. O Ministério Público, de acordo com Marcelo Werner, vai acompanhar a investigação.>