Tiros e explosões em Tancredo Neves são ouvidos em outros bairros de Salvador

Bairro registrou segunda madrugada seguida de confronto entre facções

  • Foto do(a) author(a) Wendel de Novais
  • Wendel de Novais

Publicado em 19 de junho de 2024 às 08:59

Marcas de tiros em casas de Tancredo Neves
Marcas de tiros em casas de Tancredo Neves Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

O som do terror que acontece em Tancredo Neves ecoou em outros bairros de Salvador na madrugada desta quarta-feira (19). Enquanto traficantes trocavam tiros na região do Arenoso e da Engomadeira, moradores de outros pontos da capital se assustaram com o volume de uma disputa que teve seu ápice entre as 3h e 5h da madrugada.

Jorge Santos, 35 anos, morador de Mata Escura, afirmou que não conseguiu dormir por conta de um tiroteio incessante. "Ouvi muitos tiros, parecia que não ia acabar. Era em sequência, como se fosse uma metralhadora e, depois, ainda teve duas explosões. Acordei umas 2h30 e não consegui pregar o olho porque só ficou pior", conta ele. Tancredo Neves e Mata Escura são bairros separados apenas pela Estrada das Barreiras e, portanto, vizinhos.

Porém, até quem estava mais distante foi capaz de ouvir o barulho causado pelo confronto. Fernando Matos, 29 anos, é morador do IAPI. Ele conta que mora em uma região alta do bairro, o que facilita ouvir barulhos mais distantes. Mesmo assim, quando notou os disparos e as explosões, não imaginou que viessem do bairro de Tancredo Neves, que está do outro lado da BR-324.

"Me assustei na madrugada ouvindo, mas não é incomum ter tiros no IAPI. Achei que fosse aqui, só que estava distante. Perguntei a uns vizinhos pelo celular e o pessoal falou que vinha lá de Tancredo. Quase não acreditava, porém eram muitos tiros e rolou até explosão. Quando vi na TV de manhã, me dei conta que era isso mesmo", relata ele.

Se moradores de bairros distantes não conseguem dormir e se assustam com o problema, quem mora em Tancredo Neves tem o direito à cidade e ao trabalho limitado. Um motorista de aplicativo, que prefere não se identificar e mora no bairro, relata que está há dois dias sem trabalhar por conta dos tiroteios entre as organizações criminosas.

"Eu saio às 5h da manhã para rodar antes de ir ao trabalho e também rodo à noite na volta. Para sair, é impossível e até atrasei no meu trabalho porque só tive coragem de sair de casa depois das 7h. Antes disso, na minha cabeça, poderia voltar a ter tiros a qualquer momento. Na volta, é o mesmo medo e não estou saindo", relata ele.

Os tiroteios acontecem, principalmente, nas localidades do Arenoso e no Canal 13, ambas com atuação da facção do Bonde do Maluco (BDM). A disputa teve início após traficantes do Comando Vermelho (CV), que está estabelecido na localidade do Buracão, tentarem invadir e tomar a área.