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Fernanda Varela
Publicado em 28 de dezembro de 2024 às 10:50
A Jinjiang Construction Brazil, empresa terceirizada que prestava serviços na obra de construção de uma unidade da BYD na Bahia, negou as acusações envolvendo os 163 trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão. A empresa publicou um vídeo em que trabalhadores negam viver em condições de trabalho precárias.
O vídeo foi divulgado na quinta-feira (26). Na gravação feita pela empresa, um trabalhador lê uma carta conjunta e afirma que a empresa agiu sempre dentro da legalidade. "Essas acusações nos etiquetaram de 'escravos', o que nos faz sentir que nossa dignidade foi insultada e nossos direitos humanos violados, afirma.
O funcionário diz ainda que a empresa garantiu que eles seriam enviados de volta para a China e que o problema teria começado durante processos para regularizar a documentação dos trabalhadores.
Apesar do que diz a gravação, o Ministério Público do Trabalho (MPT) afirmou que os 163 trabalhadores chineses que estavam trabalhando na obra em Camaçari foram vítimas de tráfico internacional de pessoas. Eles foram resgatados na última segunda-feira (23) e a BYD informou que foram levados para hotéis. A empresa automotiva encerrou o contrato com a Jinjiang.
O MPT diz ainda que os trabalhadores tiveram os passaportes retidos pela empresa. Na carta, no entanto, o funcionário explica que os documentos foram recolhidos temporariamente para que a empresa, que nega ter recolhido os passaportes, pudessem regularizar os colaboradores.
Em nome dos funcionários, o homem garante ainda que receberam salário, benefícios e garantias, e que os funcionários não sofreram com nenhum tipo de restrição de liberdade. Por fim, o colaborador diz ainda que os trabalhadores valorizam o emprego e desejam continuar no Brasil.
De acordo com os auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), os trabalhadores foram resgatados em alojamentos com situações degradantes para os trabalhadores, como camas sem colchões ou com revestimentos inadequados; falta de armários; itens pessoais misturados com alimentos; além de banheiros insuficientes e precários. Em um caso, 31 pessoas dividiam o mesmo banheiro.
O espaço tinha ainda refeitório sem condições mínimas de higiene, banheiros químicos insuficientes e em estado deplorável, exposição à radiação solar sem proteção, além do registro de acidentes recorrentes devido às condições de alojamento e jornadas exaustivas. Um dos trabalhadores também disse ter sofrido um acidente nos olhos e não recebeu atendimento oftalmológico adequado, enquanto outro sofreu acidente por privação de sono, causada pelas longas jornadas e condições degradantes.
O MPT reforça ainda que há indícios de trabalho forçado. Os funcionários pagavam caução, tinham 60% dos salários retidos, recebiam apenas 40% em moeda chinesa, além de serem submetidos a ônus excessivo para rescisão contratual, o que impedia um eventual retorno ao seu país de origem.
Além disso, os funcionários trabalhavam 10h por dia, com folgas irregulares, e descansavam sobre materiais de construção, sem nenhum conforto.