Técnica de enfermagem denuncia agressão por filhos de paciente em Salvador

Profissional foi chamada de "cínica", "preguiçosa" e chegou a ter o pescoço arranhado e a bolsa rasgada

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  • Saulo Miguez

Publicado em 5 de julho de 2024 às 11:08

Luanda
Imagem da agressão sofrida pela técnica de enfermagem Crédito: Arquivo Pessoal

A técnica de enfermagem Luanda Silva Santos de Pinho, 36 anos, denunciou à Polícia Civil um casal de filhos de uma paciente que teriam a agredido durante o seu trabalho. Na última segunda-feira (1º), Luanda foi chamada para um plantão de 24 horas onde cuidaria de uma senhora de 82 anos, no bairro da Ribeira. O atendimento foi agendado através da Cooperativa de Trabalho de Profissionais de Saúde do Brasil (Homecoop), da qual Luanda é cooperada. 

Enquanto preenchia o prontuário da paciente acrescentando os procedimentos realizados até então, a técnica conta que foi surpreendida pelos agressores com ofensas, xingamentos e ameaças. "Precisei sentar para fazer as anotações e eles começaram com as agressões verbais. Não houve outra motivação a não ser o fato de eu estar sentada", disse.

Ela lembra que durante a manhã, enquanto os dois irmãos estavam dormindo, ela ficou dando assistência à paciente. Quando eles acordaram, já por volta do meio-dia, sentou para fazer as anotações. Ao vê-la sentada, o filho da paciente a chamou de "preguiçosa", "cínica" e a ameaçou. "Ele disse que se eu não levantasse me pegaria pelo braço à força para me fazer cuidar da mãe dele. Também falou que iria me enxotar da casa".

Diante das ofensas e ameaças, Luanda respondeu que iria deixar a residência, mas, ao pegar a chave para abrir a porta, foi impedida de sair do imóvel e teve início a série de agressões físicas. "Tomaram a chave da minhã mão, me derrubaram. Ele [o filho da paciente] me puxou pelo cabelo, rasgou minha bolsa e lesionou meu pescoço com a unha", relatou.

Luanda gritou por socorro e alguns vizinhos foram até a entrada da casa ver o que estava acontecendo. Por conta disso, os irmãos abriram o portão para que ela saísse. Ela conta caminhou bem debilitada até a Largo da Madragoa, onde pegou um mototáxi e seguiu direto para a 3ª Delegacia, onde foi registrado o boletim de ocorrência.

Em nota, a Polícia Civil informou que a 3ª Delegacia Territorial (DT/Bonfim) apura um caso de lesão corporal, ocorrido na segunda-feira (1), na Rua Lelis Piedade, no bairro da Ribeira. A comunicante, que atua como técnica de enfermagem, informou no relato que foi agredida verbalmente e fisicamente pelos filhos de sua paciente durante um atendimento em home care.

A nota diz ainda que a vítima realizou exame de corpo de delito e depoimentos já estão em andamento, bem como diligências para esclarecer a motivação do fato. Por conta das agressões sofridas, Luanda precisou passar por exames laboratoriais, além do exame de corpo de delito, e está recebendo acompanhamento médico.

Coren-BA repudia agressão

O Conselho Regional de Enfermagem da Bahia (Coren-BA), também em nota, repudiou o ato de violência sofrido pela profissional. "É inaceitável que profissionais de Enfermagem, que dedicam suas vidas ao cuidado e à promoção da saúde, sejam alvos de qualquer forma de violência", diz o comunicado.

Ainda segundo a nota, "esses atos não só comprometem a integridade física e psicológica dos profissionais, mas também afetam negativamente a qualidade do atendimento prestado aos pacientes".

O Coren-BA ressaltou que entrou em contato com Luanda e está prestando todo o apoio necessário. Além disso, exige que as autoridades competentes conduzam uma investigação rigorosa e que os responsáveis sejam punidos exemplarmente.

Homecoop

Luanda, que é técnica de enfermagem há nove anos e atua na assistência domiciliar há seis, contou que ao ser notificada do caso a Homecoop entrou em contato com ela por telefone lamentando o ocorrido. No entanto, não enviou nenhum responsável para auxiliá-la no registro da ocorrência e de outra questões.

A cooperativa também comunicou à Luanda, na última quarta-feira (3), que eles não manterão mais o serviço com essa paciente. A reportagem do CORREIO tentou entrar em contato com a Homecoop através do número de telefone disponível no site da instituição, porém, não obteve retorno.

Outro caso de violência

Infelizmente, esse não foi o primeiro episódio de violência vivido por Luanda no seu ambiente profissional. Ela contou que no ano passado, enquanto realizava um plantão em uma casa no bairro do Tororó, algo semelhante aconteceu.

Luanda cuidava de uma paciente obesa quando a mãe da moça exigiu que a técnica virasse a paciente sozinha. A profissional, para não colocar em risco a integridade física dela e da paciente, disse que não teria como fazer aquela manobra sozinha.

"Por ter me recusado, a mãe da paciente me xingou, foi atrás de mim até o banheiro e me imprensou contra uma pia", disse Luanda. Na ocasião, ela não registrou boletim de ocorrência, mas relatou o ocorrido à cooperativa da qual faz parte.