Suspeito de matar delegada diz que era ameaçado e que não premeditou crime

Em depoimento, Tancredo Neves Feliciano de Arruda diz que eles brigaram antes do crime

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Publicado em 13 de agosto de 2024 às 10:10

Tancredo Neves Feliciano de Arruda havia sido preso por agressões contra à delegada
Tancredo Neves Feliciano de Arruda havia sido preso por agressões contra à delegada Crédito: Reprodução/Redes sociais

Tancredo Neves Feliciano de Arruda, réu confesso da morte da delegada Patrícia Neves Jackes Aires, afirmou em depoimento à polícia que reagiu a uma suposta agressão da vítima no momento em que a matou. Ele disse ainda que o casal tinha brigado horas antes do crime, e que a delegada teria usado uma arma para ameaçá-lo.

Tancredo tem uma série de passagens pela polícia em seu histórico. Além de ter sido preso por agressões contra a vítima anteriormente, Tancredo Neves foi indiciado pela Polícia Civil por exercício ilegal da medicina e falsidade ideológica. Ele também já tinha sido detido por agressão a Patrícia em Santo Antônio de Jesus, onde a vítima trabalhava e residia. Em maio deste ano, o suspeito foi levado à delegacia com base na Lei Maria da Penha, depois de ter quebrado um dos dedos da esposa. A Justiça decretou uma medida protetiva em defesa da vítima, mas o casal se reconciliou e Tancredo Neves foi solto.

No depoimento à polícia, após a audiência de custódia, ele parece chorar ao lembrar da morte da delegada. "Não é legal lembrar, eu não sou um monstro, eu não sou um bicho. Foi o cinto, vei. Ela veio para cima de mim, nessa hora eu perdi a cabeça", diz. Os policiais questionam como aconteceu a cena e ele diz que enrolou o cinto no pescoço da delegada e puxou para trás.

Tancredo diz que o casal brigou antes de ir a um bar, em Santo Antônio de Jesus, na noite de sábado (10). "Na noite do ocorrido, eu estava em santo antonio de jesus, eu já tinha falado com ela que eu queria embora. Não estava aguentando algumas situações. Patrícia é uma pessoa muito agressiva, sempre foi uma pessoa muito agressiva. Eu tinha feito a minha mala para sair de casa. Quando eu falei isso, ela não deixou, ela pegou a arma. Tanto que quando vocês chegaram [policiais], a arma estava lá em cima da mesa. Depois de tudo o que aconteceu em casa, ela se acalmou mais, a gente decidiu sair, ir para rua, 'ah, vamos tentar de novo'", disse.

Depois eles seguiram para dois restaurantes e, ao sair, segundo Tancredo, Patrícia resolveu que eles iriam para Salvador. Na estrada, enquanto dirigia, ele teria tentado discutir a relação novamente. "Quando passou do primeiro pedágio, ela estava dormindo e não aconteceu nada, ela acordou. E eu disse: 'Patrícia, vamos aproveitar que estamos indo para Salvador, deixa eu passar um tempo lá'. E aí começou de novo com as ameaças, a gritaria. Mas eu não tinha medo das ameaças, mas nesse dia ela puxou o volante e a gente foi parar onde a gente parou. Ela puxou o volante e a gente entrou no mato, e ela disse: 'Agora que eu vou botar para f* em você. Vou acabar com a sua vida, vou matar sua mãe, seu pai, sua filha, seu irmão'. Coisas que ela já fazia, inclusive por telefone. Tem todos os registros de quando eu tentei me afastar. Já foi atrás de mim em Salvador, em Itamaraju, e não foi a priemira vez. Patrícia não aceitava o término, e eu amava ela. Mas sempre voltava o mesmo lugar", afirmou.

Depois, segundo ele, a delegada teria partido para cima dele, e ele a enforcou com o cinto. Tancredo diz ainda que não tinha certeza que a delegada estava morta e desceu do carro em direção à estrada. Foi nesse momento que teria decidido inventar a história do sequestro. "Eu decidi ligar e contar o que aconteceu, mas eu fui com medo do que podia acontecer porque ela era delegada", explica.

Prisão preventiva

Tancredo teve a prisão em flagrante convertida em preventiva em audiência de custódia na tarde desta segunda-feira (12). A informação é da TV Bahia. Procurado, o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) informou que o caso está em segredo de justiça. O Ministério Público do Estado da Bahia confirmou ao CORREIO que o caso seguirá sob sigilo.

Tancredo foi colocado em uma viatura com as mãos e pés algemados e levado ao Fórum Cândido Santos, em São Sebastião do Passé, por volta das 14h. A audiência durou cerca de duas horas. O suspeito deixou o local sob gritos de "assassino" entoados por pessoas que aguardavam do lado de fora.

Em seguida, Tancredo foi saiu escoltado por policiais que o levaram de volta para a delegacia da cidade, onde passou por exame de corpo de delito no Departamento de Polícia Técnica (DPT) - ele tinha marcas aparentemente de unhas no pescoço. Agora, ele está custodiado em São Sebastião do Passé e deve ser transferido para o Complexo Penintenciário da Mata Escura.

Primeira versão do crime

Anteriormente, Tancredo Neves havia contado que estava com a namorada, na noite de sábado (10), quando ela pediu que parasse em algum lugar para ela ir ao banheiro. Nesse momento, três homens armados teriam abordado o casal e dirigido por um tempo. Ele teria sido liberado após o pedágio e os bandidos seguido caminho com a delegada no carro. A historia contada pelo suspeito levantou suspeitas dos policiais.

"A historia tinha muitas inconsistências. Diligencias foram realizadas, equipes trabalharam até a manhã desta segunda-feira (12) para a conclusão do auto de prisão. Agora com a prisão preventiva precisamos aprofundar, principalmente, com o rastreio de imagens ao longo do caminho e sinais de celulares para compor a linha do tempo desde que aconteceu", disse a delegada geral da Polícia Civil, Heloísa Brito à TV Bahia.