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Elaine Sanoli
Publicado em 20 de janeiro de 2025 às 02:15
Salvador tem assistido, ao mesmo tempo, o declínio de grandes impérios nacionais do ramo dos supermercados e a ascensão de redes regionais. Com o encerramento de antigos mercados e a proliferação de novas unidades das marcas locais, as redes tradicionais foram perdendo espaço até mesmo como ponto de referência. Se antes era comum ouvir um "logo ali, do lado do Bompreço", agora é mais fácil escutar um "na rua do Hiper Ideal", ou "atrás do Rede Mix, ou ainda "próximo ao Atakarejo". A movimentação, para gestores das marcas, pode ser explicada, principalmente, pela proximidade com os consumidores e personalização do serviço.
“As operações regionais entendem o comportamento do consumidor local, oferecem atendimento mais personalizado e produtos que se adequam aos desejos dos clientes. Além disso, há maior flexibilidade e rapidez para se adaptar às mudanças do mercado”, explica a presidente da Associação Baiana de Supermercados (Abase) e diretora do Comercial, Marketing, Auditoria e T.I do Hiper Ideal, rede baiana de supermercados, Amanda Vasconcelos.
A visão é compartilhada por João Claudio Andrade, diretor da Rede Mix, outra marca baiana. Para o gestor, ao se posicionar constantemente próximo de seus consumidores, é possível, não apenas compreender a necessidade do público da cidade, mas também a necessidade e especificidade de cada unidade, localizadas em bairros distintos. "Nós temos 17 lojas em Salvador e Região Metropolitana [RMS] que têm comportamentos completamente diferentes umas das outras. Eu jamais poderia cuidar dessas lojas de maneira igual, eu não estaria atendendo a necessidade do público de cada localidade", explica. "Acaba que a grande empresa cria uma média, uma regra geral e termina deixando de cuidar da particularidade de cada ponto", acrescenta Andrade.
A essa complexa equação, soma-se, ainda, as constantes mudanças no comportamento de consumo dos soteropolitanos. Ambos os gestores assumem que, hoje, uma das principais demandas do cliente em Salvador é acessar o supermercado de forma rápida: perder tempo em longas filas não cabe mais na agenda. "O tempo hoje é o ativo mais importante das pessoas. Em muitas lojas nossas, principalmente as que estão dentro dos bairros de vizinhança, a gente percebe o consumidor sempre exigindo uma solução muito mais rápida: entrar na loja e não ter fila, e encontrar um produto muito mais fácil para ganhar tempo nessa operação. Eu acredito muito nesse formato", destaca o diretor da Rede Mix.
A praticidade, é claro, precisa estar acompanhada de um bom uso de ferramentas digitais, que agilizem a experiência de ir ao supermercado ou, até mesmo, proporcionem economia ou vantagens para o bolso dos consumidores. "O público de Salvador busca uma combinação de praticidade, qualidade e bom atendimento. Além disso, há uma demanda crescente por produtos frescos, orgânicos e que reflitam a cultura local. Os consumidores também valorizam iniciativas sustentáveis e a presença de tecnologias que facilitem a experiência de compra, como aplicativos de fidelidade e entrega", comenta Vasconcelos.
Em um mercado com tantas marcas e diferentes possibilidades, destacar-se é uma tarefa que envolve conhecimento do público, tendências de consumo, marketing e capacitação. Andrade conta que, para a Rede Mix, um fator crucial para o bom desempenho é expandir o próprio conceito de supermercado. Fazer compras é, no final das contas, consumir uma experiência. Para isso, integrar a loja à comunidade é a chave para alavancar as vendas. "Você consegue fazer com que o consumidor tenha aquela loja como dele, eu vou na loja do meu pai ou na minha loja, aquela que o gerente conhece ele pelo nome, recebe ele de sorriso no rosto e a equipe está treinada para entregar esse nível de serviço", argumenta o diretor, que investe constantemente no treinamento dos 2,3 mil funcionários das lojas. "Nós vamos no mercado comprar um serviço. O supermercado, na minha opinião, já deixou de ser uma atividade comercial, é um prestador de serviço", completa.
Por outro lado, no Hiper Ideal, o diferencial se centra na curadoria dos produtos que vão das prateleiras às casas dos consumidores. A variedade de produtos importados exclusivos e novidades nacionais cuidadosamente selecionados para cada unidade. "Priorizamos a qualidade e a variedade, sempre focando em oferecer uma experiência de compra única para cada cliente. O nosso maior desafio é, sem dúvida, manter essa excelência de forma consistente, ao mesmo tempo em que nos adaptamos às mudanças do mercado e a manutenção nas relações com os mais de 40 mil clientes fiéis que nos escolhem todos os dias", explica Vasconcelos. Para ela, o formato, em um tamanho menor, em comparação às redes de atacado, também colabora para uma maior atenção aos desejos e necessidades do público.
Com suas 17 unidades em Salvador e RMS, a Rede Mix registra um crescimento variando entre 10 e 12% ao ano. A análise levou em conta os últimos três anos, período em que a marca não teve inaugurações de novas unidades. Para 2025, no entanto, a expectativa é que os números aumentem com a abertura de duas lojas na capital baiana até o final do primeiro trimestre, em fevereiro e março. Os novos mercados serão no Chame-chame e no Rio Vermelho. "O Rio Vermelho é um bairro que tem várias características, por ser um bairro nobre, boêmio, da noite, muita gente que mora no Rio Vermelho cultua aquele bairro. Então, a gente está lá fazendo pesquisa, entendendo o comportamento desse consumidor para entregar um serviço que converse com ele, com o comportamento dele", diz Andrade.
A reportagem procurou a rede baiana de supermercados Atakarejo, mas não teve retorno até o momento.
*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro