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Maysa Polcri
Publicado em 16 de janeiro de 2025 às 05:00
Alunos da Universidade Federal da Bahia (Ufba) denunciam atraso no pagamento de auxílios de permanência estudantil. Os valores, que são destinados a estudantes em vulnerabilidade social, devem ser pagos até o 10º dia útil do mês. Porém, a previsão da universidade é que as bolsas só comecem a ser pagas a partir do dia 21 de janeiro (próxima terça-feira). >
Em um comunicado enviado aos alunos, a Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil (Proae) justifica que os atrasos são consequência do orçamento restrito da universidade. >
“No início de cada exercício, até a aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA), o Ministério da Educação (MEC) autoriza apenas uma fração (1/12 ou 1/8) do orçamento geral previsto, o que pode causar atrasos no pagamento de auxílios e bolsas, visto que os recursos disponibilizados muitas vezes são insuficientes para atender a todos os beneficiários”, explica. >
Ainda de acordo com a nota enviada na terça-feira (14), a Ufba aguarda a liberação do crédito financeiro após liquidação pela Coordenação de Contabilidade e Finanças. Os pagamentos dos auxílios de janeiro costumam ser realizados no final de dezembro, uma vez que os alunos estão de férias no primeiro mês do ano. Segundo a Ufba, essa prática só era realizada quando havia orçamento suficiente, o que não aconteceu neste ano.>
Estudantes enfrentam as incertezas no pagamento das bolsas, enquanto as contas se acumulam. É o que conta uma aluna do Bacharelado Interdisciplinar (BI) de Saúde, que tem 26 anos e prefere não se identificar. >
“A maior parte das pessoas que dependem desses auxílios está em situação de vulnerabilidade. Eu cheguei a ter que pedir dinheiro emprestado a familiares para pagar o aluguel”, lamenta. >
Ela recebe os auxílios moradia e alimentação da universidade. Além deles, a Ufba oferece outros 10 tipos de bolsas, que podem chegar a R$ 756. Os pagamentos têm como objetivo garantir a permanência de alunos na unidade de ensino. >
Desde outubro do ano passado, uma série de reportagens do CORREIO tem mostrado os efeitos da redução do orçamento da maior universidade da Bahia. A Ufba restringiu a oferta de sabão líquido e papel toalha naquela ocasião. Um mês depois, a oferta de alimentos do restaurante universitário de Ondina foi reduzida após atrasos no pagamento à empresa gestora. >
Um decreto do Governo Federal de julho de 2024 determinou a reprogramação da liberação de limites de empenhos de diversos órgãos, inclusive das universidades federais. A medida foi prorrogada até dezembro. Segundo a Ufba, 10% do orçamento do ano passado, o equivalente a R$ 18,6 milhões, foi contingenciado. A reportagem procurou a universidade, que não se manifestou sobre o atraso nos auxílios até esta publicação. >
Um estudante que saiu de uma cidade do interior para cursar Medicina também tem sofrido com o atraso nos pagamentos. Ele recebe o auxílio através do programa Permanência. O valor é R$ 400. >
“A gente sai das nossas cidades e vem enfrentar esse descaso na capital. Muitos estudantes não têm como trabalhar e dependem dos auxílios e de seus familiares. Os aluguéis e as faturas do cartão estão em atraso e a alimentação racionada. Lazer nem existe mais”, afirma. >
No perfil do Instagram da Proae, alunos também denunciam o atraso dos pagamentos. “Que situação é essa, meu senhor? Aluguéis, cartões, contas de luz, água e alimentação… Eu só tenho água na geladeira”, lamentou uma aluna. O Ministério da Educação (MEC) foi procurado, mas não se manifestou até esta publicação. >