Só 11 na capital: especialista vê número de bases da PM em Salvador 'muito abaixo' do ideal

Policiais denunciaram ineficácia das bases existentes por falta de efetivo e condições precárias

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  • Wendel de Novais

Publicado em 5 de julho de 2024 às 06:00

Base comunitária da PM de Narandiba
Base comunitária da PM de Narandiba Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

As bases comunitárias da Polícia Militar da Bahia (PM-BA) em Salvador, que operam com baixo efetivo e condições precárias, estão em um número aquém do necessário para que a política seja efetiva para o professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Luiz Cláudio Lourenço. Integrante do Laboratório de Estudos sobre Crime e Sociedade (LASSOS), ele analisa que as 11 unidades dispostas por bairros da capital não dão conta de efetivar a aproximação da PM com a comunidade e evitar crimes, principais objetivos das bases comunitárias.

“O fato é que, em uma cidade onde se tem 40% do território em comunidades – que antes eram chamadas de favelas - 11 bases comunitárias é um número muito abaixo do que é necessário para a construção de uma polícia cidadã, próxima às pessoas e que reduza a vulnerabilidade ao crime. É uma iniciativa que precisa ocupar mais lugares, de maneira efetiva, para afastar a violência dessas comunidades”, diz,

Dentro desse contexto, a gestão estadual, que é responsável pelas ações de segurança em Salvador e em todo o estado, tenta reposicionar projeto de bases comunitárias da PM. Na quinta-feira (4), através da Superintendência de Prevenção à Violência (SPREV), realizou workshop com as forças de segurança para reposicionar as bases dentro da proposta atual de segurança do governo de combate à violência.

No evento, a tenente-coronel Denice Santiago, superintendente da SPREV, foi questionada se o número está abaixo e afirmou que o aumento de unidade pode ser discutido. “Com o projeto Bahia pela Paz e com este evento aqui, nós vamos fazer esse processo de análise, de reestruturação, de aumentar, de ampliar. Então, esse é o momento de discussão. O evento quer discutir sobre a quantidade de bases, sobre localizações, tudo alinhado com o Bahia pela Paz”, garante ela.

Não há, no entanto, nenhuma sinalização oficial pela ampliação do número de bases. Para Denice, entretanto, é fato que as bases são de suma importância no combate à violência. "A base está dentro da comunidade, convivendo com ela, fazendo a política da boa vizinhança. É isso que o policiamento comunitário tem como objetivo principal. Além de levar projetos, ações sociais, é esse ponto de intermediação das outras secretarias que pautam grupos em vulnerabilidade. É um instrumento de paz e aproximação das bases de segurança com cada pessoa”, completa ela.

Luiz Lourenço pondera, porém, que a ampliação das bases e a efetivação do trabalho das unidades, ainda que distantes, não resolvem o problema de violência nos locais. Para ele, é preciso repensar também a forma como o policiamento ostensivo age dentro dessas comunidades.

“A base tem por característica um trabalho contínuo, onde se constrói confiança entre as comunidades e a PM. Isso leva tempo, mas, uma ação de policiamento ostensiva problemática e muito violenta pode colocar tudo a perder nesse processo. Não se pode pensar as bases sem refletir sobre o que as companhias fazem. Tanto uma como a outra são da PM e muitas vezes não são dissociadas pelas pessoas”, aponta.

A preocupação do professor é fruto de um contexto de agressividade dos grupos criminosos dispostos em Salvador, que recebem resposta da PM. Os confrontos entre agentes baianos e criminosos têm ficado cada vez mais letais. Nos primeiros quatro meses do ano, Bahia liderou o ranking de mortes em ações policiais no Brasil, com média de cinco registros por dia.