Símbolos da cidade, balaustradas da orla são tombadas pela prefeitura de Salvador; entenda o que muda

Estruturas não poderão ser alvo de intervenções

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  • Maysa Polcri

Publicado em 29 de maio de 2024 às 14:10

Balaustradas de 14 pontos da cidade foram tombadas em Salvador
Balaustradas de 13 pontos da cidade foram tombadas em Salvador Crédito: Marina Silva/CORREIO

Antes da caminhada, elas servem para apoiar as pernas durante o alongamento. São usadas como bancos por quem aprecia o pôr do sol com vista para a Baía de Todos-os-Santos, além de fazerem parte da composição das fotos da orla de baianos e turistas. As icônicas balaustradas espalhadas por 13 pontos de Salvador, entre eles a Barra e o Rio Vermelho, agora são salvaguardas pela prefeitura. Na manhã desta quarta-feira (29), o prefeito Bruno Reis assinou o decreto de tombamento das estruturas da cidade pela primeira vez na história.

Pintadas de branco, feitas de concreto e com estilo europeu. Assim são as balaustradas que fazem parte da paisagem da capital baiana. O termo vem do italiano balaustra, que representa as colunas usadas para amparar cercas ou espaldares. Muito antes da construção de prédios modernos em Salvador, elas já embelezavam a cidade. Segundo o historiador Rafael Dantas, a criação das balaustradas remonta ao século XX, quando foram criadas pelo arquiteto Felipe Santoro.

“Ele foi um arquiteto que teve atuação importante nas primeiras décadas do século XX em Salvador. Marca um momento de embelezamento e projetos urbanos que visavam dar um ar europeizante na cidade”, explica o historiador. “Entre 1912 e 1915, quando a Avenida Sete de Setembro foi inaugurada, em etapas, passou por esses projetos de paisagismo e elementos para compor o ladeamento da via”, completa.

Os marcos não representam apenas a história da cidade. Eles fazem parte da vida de quem circula por ela. O Porto da Barra, um dos 13 pontos onde as balaustradas estão presentes, se confunde com a história de Maria José Barbosa, de 65 anos. Ela trabalha desde os 15 como barraqueira na praia. Tradição que herdou da família e atravessa gerações.

“Quando a geponte pensa na orla, logo lembra delas [balaustradas], então é bom que elas estejam preservadas”, comentou Maria José. Mesmo sem trabalhar na manhã de quarta-feira, ela fez questão de conferir de perto o evento da prefeitura de Salvador que celebrou o tombamento das estruturas, na Barra. O prefeito Bruno Reis comemorou a iniciativa, que faz parte do projeto de preservação Salvador Cidade Patrimônio.

Na mesma ação, a prefeitura revitalizou o painel de azulejos  do Marco da Cidade,  na Barra
Na mesma ação, a prefeitura revitalizou o painel de azulejos do Marco da Cidade, na Barra Crédito: Marina Silva/CORREIO

“Um povo que não tem capacidade de preservar sua história, não tem condições de viver o presente e projetar o futuro. Se existe algo que é nosso diferencial, é a nossa história. O que estamos fazendo é garantido, para o presente e para o futuro, que nosso rico patrimônio histórico seja preservado e possa se perpetuar para as gerações que estão por vir”, disse Bruno Reis.

Tombamento

Na prática, o tombamento pela prefeitura protege os monumentos de qualquer tipo de intervenção, exceto obras de restauração, como explica Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Mattos. “As balaustradas são um grande patrimônio da cidade, mas que, às vezes, passam despercebidos. É importante que nós tenhamos projetos de modernização da cidade, mas modernizar também significa preservar a história e a identidade. É o que estamos fazendo”, explicou.

Além da Barra e do Rio Vermelho, as balaustradas tombadas estão no Centro, Campo Grande, Centro Histórico, Barroquinha, Barris e Bonfim. As 13 estruturas estão espalhadas em oito bairros. Segundo o prefeito Bruno Reis, nos últimos 12 anos, foram investidos cerca de R$25 milhões na preservação histórico-cultural dos patrimônios da cidade. Nos últimos cinco meses, R$1 milhão foi investido, através da Fundação Gregório de Mattos (FGM).

“Tombar as balaustradas traz para nós a responsabilidade de preservação, cuidado e zelo por essa edificação, que é importante para a segurança das pessoas e para a história da cidade”, ressaltou Chico Assis, diretor de patrimônio da FGM. Além do decreto de tombamento, a prefeitura de Salvador entregou uma série de monumentos históricos revitalizados. Entre as peças estão o Marco de Fundação da cidade, no Porto da Barra, e os bustos dos heróis da Conjuração Baiana, na Praça da Piedade.