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Raquel Brito
Publicado em 10 de novembro de 2023 às 21:02
Para Matheus de Morais, produtor cultural de 28 anos, é essencial reverenciar o passado para olhar para o presente e construir um futuro melhor. Foi pensando nisso que o jovem, criador do evento Samba de Quinta, marcou presença no Seminário Nacional de Samba, no Espaço Cultural da Barroquinha, nesta sexta-feira (10). >
“Tem muitos artistas, produtores, donos de blocos e tudo mais, que passaram por dificuldades que eu não passei, que enfrentaram desafios que eu não enfrento. E olhar para eles hoje, o caminho que eles ainda estão trilhando e onde já chegaram, me inspira”, conta. >
Foi para lembrar que o samba é natural da Bahia e preservar sua força no estado que nasceu o Seminário Nacional do Samba. Além da beleza do ritmo e da sua importância enquanto manifestação artística, o evento trouxe à tona o aspecto econômico dessa prática, abordando os desafios da empregabilidade e da geração de renda do segmento. >
O Seminário foi realizado pela União de Entidades de Samba da Bahia (Unesamba) e reuniu profissionais da produção, comunicação, das artes e do ramo empresarial, do carnaval e da gestão pública. >
Jairo da Mata, presidente da Unesamba, explica que incluir o empreendedorismo na discussão é importante para o fortalecimento da cultura do samba. “É essencial entender de onde viemos e aonde nós queremos chegar, mas também saber a nossa importância na participação do mundo econômico da cidade, considerando que nós somos a principal massa consumidora de tudo que é produzido na cidade e o retorno é quase zero”, afirma. >
Este ano, além das discussões acerca da reparação e da inclusão dos blocos africanos dentro do contexto geral, nós fizemos um seminário para discutir não só a cultura, mas o empreendedorismo.>
A mesa de abertura do evento aconteceu às 10h30, com Pedro Tourinho, secretário de Cultura de Salvador, Ivete Sacramento, secretária da Reparação, Vadinho França, diretor da Unesamba, e Mazé Lúcio. >
Após a primeira mesa, o evento se dividiu em dois painéis. Do primeiro, que teve início às 14h30, participaram os cantores e compositores Nelson Rufino e Juliana Ribeiro, a articuladora, produtora cultural e CEO da Aquilombar Produções Fatini Forbeck e a doutora em cultura e sociedade Carol Fantinel. Os participantes reforçaram a força do samba como arte e como meio de manifestação política. >
“O samba é uma forma de falar de amor, de falar de cuidado e de experiência, mas também de falar de revolta, de ódio e de raiva. E a gente percebe que ele está vivo quando a gente vê o nosso movimento, porque a gente também está falando disso”, disse a produtora Fatini durante o painel. >
Para Nelson Rufino, um dos nomes notáveis do samba na Bahia, a sensação de ver a consagração do samba como fonte de renda é de felicidade. Entretanto, ele salienta que o samba ainda deveria ser mais respeitado na Bahia. “O samba é verdadeiramente nosso. Mas, eu gostaria muito que o samba tivesse mais um pouco de valorização entre o nosso povo. [Assim como o axé], o samba também nasceu aqui, nas nossas entranhas, e deveria ter um pouco mais de respeito”, afirma.>
Na segunda mesa, o assunto foi a sustentabilidade econômica e os negócios no samba. A conversa foi integrada por Cristiane Santana, empresária e idealizadora do Samba Vivo, o vereador Cláudio Tinoco e a Coordenadoria de Economia da Cultura, Stefane Souto (representando Maylla Pita, que perdeu o voo de Belém, no Pará, e não conseguiu comparecer). >
Em sua fala, Cristina contou a trajetória do Samba Vivo, negócio que abriu em 2013 para tornar mais acessível a venda de blocos de matriz africana para o Carnaval em Salvador. Segundo ela, as fantasias costumavam ser vendidas apenas em locais de difícil acesso e seu objetivo era mudar isso. Foi então que ela montou uma central de blocos de matriz africana no Shopping Piedade.>
“O pessoal estranhava, porque nunca tinha visto, não conhecia. Eu criei um balcão para venda e merchandising desses blocos, no espaço onde eu fazia exposições falando o histórico dos blocos, para que os turistas visitantes no shopping conhecessem, e um palco para rodas de conversa e apresentações culturais”, contou.>
Já o vereador Tinoco ressaltou a necessidade de pôr em prática as políticas públicas em prol do samba na Bahia, além da potência desse estilo como um vetor econômico. “É preciso enxergar o samba como um negócio rentável e que dá sustentabilidade àqueles que vivem dele”, disse. >
O evento contou ainda com uma apresentação musical da cantora Gal do Beco como ato de encerramento. O Seminário Nacional do Samba faz parte da Rota do Samba, que teve início no dia 6 de novembro, com o coquetel de lançamento, e vai até o dia 26 deste mês, quando acontece a Caminhada Nacional do Samba. >
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo>