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VLT: nova licitação é anunciada

Obra não executada gerou prejuízo para governo e população

  • R
  • Raquel Brito

Publicado em 18 de agosto de 2023 às 05:30

Linhas de trem do Subúrbio foram extintas em 2021
Linhas de trem do Subúrbio foram extintas em 2021 Crédito: Paula Fróes

O governo do estado anunciou ontem a realização de uma nova licitação para salvar o projeto de construção do VLT no Subúrbio. A obra se arrasta desde 2019, quando foi assinado o contrato com Consórcio Skyrail - formado pela chinesa Build Your Dreams (BYD) e Metrogreen – que venceu a licitação para construir a alternativa aos trens que ligavam o subúrbio ao bairro do Comércio. O anúncio, porém, não especificou datas ou volume de investimentos. O governador Jerônimo Rodrigues (PT) afirmou apenas que os prazos que tem para lançar novo edital é “final deste mês ou início do outro” .

O gestor nada falou sobre investimentos. O primeiro edital previu um custo de R$ 1,5 bilhão com prazo de conclusão de três anos. Porém, da assinatura do contrato para cá, o que se viu foi prejuízo. Um deles dos cofres públicos. O valor da obra passou para R$ 5,2 bilhões, um aumento de 246% em uma obra que sequer saiu do papel.

Já os moradores dos bairros do subúrbio tiveram uma perda média de R$ 6,5 mil com a desativação do sistema de trens que ligava Paripe à Calçada em 2021. A passagem do trem custava R$ 0,50. A de ônibus, atualmente a única opção de mobilidade da região, custa R$ 4,90.

Nesse meio tempo, entre a primeira licitação e o anúncio da segunda, o contrato foi alvo de diversas desconfianças. No mês passado, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) concluiu uma auditoria sobre a obra e elencou 14 irregularidades. Na ocasião, pela primeira vez, a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) admitiu a possibilidade de rompimento com a Skyrail. O distrato veio, enfim, nessa quarta-feira (16).

Custo alto

Maria do Rosário Pereira, de 56 anos, é uma das pessoas que dependiam dos trens. Para a moradora da Comunidade Guerreira Zeferina, em Periperi, uma simples consulta médica torna-se um grande obstáculo. “Estou precisando ir ao médico. Mas pagar R$ 5 para ir em Paripe e mais R$ 5 para voltar é difícil. Inventaram o VLT para substituir o trem. Agora, não temos nem trem e nem VLT”.

De acordo com um levantamento feito pela coluna Satélite, do CORREIO, as pessoas que utilizavam a linha de trens entre Paripe e Calçada nos cinco dias úteis perderam, em média, R$ 6,5 mil desde que o sistema foi desativado.

O cálculo se refere ao período de fevereiro de 2021, quando a operação dos trens foi extinta, e julho deste ano, levando em conta a soma das passagens de ida e volta de ônibus, com base na tarifa unitária praticada, hoje, na capital, R$ 4,90.

Se o transporte público utilizado por esses moradores ainda fosse o trem, a R$ 0,50, o valor gasto nesse período seria de R$ 650.

Mobilidade

Para o arquiteto e urbanista Armando Branco, atualmente, a opção ideal de transporte para a mobilidade da população suburbana seria o VLT. “Não se trata de melhorar o trem. Tem que ser o VLT, mas de superfície, face ao desenho do subúrbio. O aproveitamento do leito da ferrovia reduz custos de desapropriação, apesar da mesma permitir a integração com outros modais praticamente por um só lado. A melhor posição [do veículo] é quando o acesso de passageiros é realizado numa distância de 500 metros nos dois lados da ferrovia”.

Também arquiteta e urbanista Thay Fortunato diz que o VLT seria a melhor opção de transporte para o subúrbio, mas a obra precisaria ter um número de linhas maior, já que o número de passageiros desse modal é menor que a capacidade dos trens.

Maria do Rosário trabalha com reciclagem em Periperi
Maria do Rosário trabalha com reciclagem em Periperi Crédito: Paula Fróes

Problema é discutido com a população

Nesta quinta-feira (17), durante um evento no Hospital 2 de Julho, o governador Jerônimo Rodrigues afirmou que os investimentos feitos não são um desperdício de orçamento público, uma vez que os novos trens não haviam sido comprados ainda. O governador prometeu, ainda, uma nova licitação do VLT até o mês que vem.

“Eu espero que nós possamos fazer as tratativas de total desligamento da BYD neste aspecto do VLT, e nós estaremos abrindo a licitação. Nós temos os prazos, mas o prazo que tenho em minha mesa é final deste mês ou início do outro”, disse. Também nesta quinta, o Governo do Estado participou de uma audiência pública para dialogar com a população do Subúrbio sobre obras de mobilidade urbana na região e sobre o projeto do VLT. A reunião foi organizada pela Comissão Permanente de Transporte, Trânsito e Serviços Públicos Municipais, da Câmara Municipal de Salvador, e foi realizada no auditório do Colégio Estadual Barros Barreto, em Paripe. Cerca de 200 moradores e lideranças comunitárias participaram do encontro.

Sem esperança

Cláudio de Carvalho, de 62 anos, nasceu e foi criado no Subúrbio. Entre suas memórias com o trem, estão passear com sua mãe aos domingos e, mais recentemente, usar o meio de transporte para ir à farmácia comprar remédios para ela, hoje debilitada.

Cláudio Carvalho lamenta a falta de opções de transporte no Subúrbio
Cláudio Carvalho lamenta a falta de opções de transporte no Subúrbio Crédito: Paula Fróes

O trajeto, que costumava fazer em menos tempo e por R$ 1 (ida e volta), hoje leva ao menos uma hora e custa quase R$ 10.

“Nós tínhamos um transporte mais rápido e com mais segurança. Agora, [só com ônibus], temos um transporte sem conforto nenhum e com mais risco de assaltos”, lamenta.

A sensação de desesperança é compartilhada por Edivalda Neri Conceição, de 64 anos. A antiga marisqueira, que utilizava os trens regularmente para vender seus produtos na Feira de São Joaquim e em Paripe, precisou mudar de profissão com a extinção do sistema ferroviário. “A gente tem que se virar sem o dinheiro do transporte. Sem dinheiro nem para comprar pão. Se eu quiser ir até a Feira, preciso pagar o valor de uma passagem de ônibus. Hoje, só [sobrevivo] reciclando”, diz.

*Com orientação de Fernanda Varela