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Millena Marques
Publicado em 31 de dezembro de 2024 às 06:30
A autônoma Jozinete Dantas, de 56 anos, mora em Barra do Jacuípe, em Camaçari, no Litoral Norte da Bahia, há quase sete anos. Nesse período, não houve um verão sequer sem registros de problemas com o fornecimento de água no bairro. Neste ano, as interrupções começaram antes da chegada da estação mais quente do calendário. Jozi, como é conhecida no bairro, está sem água há 15 dias. Para realizar as necessidades domésticas e de higiene, a alternativa é recorrer aos famosos carros-pipa, que, segundo ela, não atendem à demanda da população.
No feriado do Natal, último dia 25, Jozinete pediu um carro-pipa às 7h. No entanto, o serviço só foi ofertado oito horas depois, às 15h. Além da quantidade limitada dos carros, os preços estão cada vez mais caros. “Tem gente que está cobrando R$1500 para um carro de 11 mil litros. Eu consegui um carro de 5 mil litros por R$500, mas ele (dono do carro) pediu mais”, relatou. Neste domingo (29), Jozi pediu um carro para abastecer a casa da vizinha às 11h. O serviço, no entanto, não havia chegado até às 19h.
A situação poderia ser pior caso a autônoma não tivesse uma caixa d’água de 10 mil litros. No entanto, o uso da água é muito restrito. “Na minha casa, só mora eu e meu esposo, não temos visitas, não esbanjamos água, mesmo assim a gente fica limitando as coisas. A nossa caixa está quase vazia”, complementou.
O número elevado de turistas que procuram as cidades do Litoral Norte exige uma oferta maior. A própria Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), responsabel pelo serviço, informou que mais de 1 milhão de pessoas se deslocam à região para as festas de fim de ano. A prefeitura de Camaçari foi procurada pela reportagem para informar a expectativa de turistas para o verão deste ano, mas não respondeu.
Segundo os moradores, no entanto, a companhia não toma as providências necessárias para evitar a falta de água frequente no verão. “É um pouco de descaso pois é sabido que todo ano acontece isso”, disse a estudante de Publicidade e Propaganda Yasmim Bezerra, que também mora em Barra do Jacuípe.
No sábado (28), Yasmim teve que tomar banho de mangueira, com a água da rua, porque o serviço foi interrompido no Natal. Gerente de uma loja de material de construção no bairro, ela contou que, além do carro-pipa, os moradores recorrem à caixa d’água e aos tanques para armazenar o máximo de água possível. “As pessoas estão tentando se prevenir. A venda desses produtos cresce entre 90% e 100%”, disse.
Em Guarajuba, a situação é a mesma. A estudante Clarice França, 18, contou que a interrupção do abastecimento de água não é mais surpresa. "É como se fosse pré-requisito. Para ser fim de ano, tem que faltar água e luz", disse. A família de Clarice e os vizinhos, aliás, preparam-se antecipadamente para esse problema. "A gente lava roupa mais cedo, enche todas vasilhas de água porque vai faltar água potável, muda toda uma rotina", contou.
Por outro lado, a Embasa, em nota, informou que investiu R$2,5 milhões na implantação de um novo poço no sistema Machadinho Norte, que atende parte do Litoral Norte. "Mesmo com investimentos crescentes. a elevação gigantesca do consumo na região durante alguns duas impacta no sistema de abastecimento porque desregula as pressões (e com a pressão mais baixa não é possível alcançar todos os imóveis) e aumenta a possibilidade de vazamentos (que exigem interrupção do fluxo da água para reparo)", diz trecho do comunicado.
Em outra nota, enviada nesta segunda-feira (30), a Embasa não respondeu quantas interrupções no serviço de água ocorreram em Barra do Jacuípe neste ano ou no ano passado, conforme solicitado pelo Correio. Contudo, disse que o fornecimento de água tem sido reforçado nas áreas das praias, como Guarajuba, Arembepe e Barra do Jacuípe, em Camaçari; e Praia do Forte e Açú da Torre, em Mata do São João, visando atender a demanda extra deste período do ano, causada pela alta demanda de turistas e residentes.
“Além da água da rede distribuidora, carros pipas vêm sendo direcionados para atender a demanda sazonal e temporária, garantindo a oferta diária necessária para abastecer estas localidades”, informou a empresa.
Ainda de acordo com a Embasa, há um contingente maior de equipes neste final de ano para intensificar o monitoramento das redes adutora e distribuidora e para a manutenção de bombas e equipamentos elétricos. A empresa também instalou geradores em instalações prioritárias do sistema para acionamento emergencial de bombas da captação e estação de tratamento em casos de paradas ou oscilações de energia elétrica, além de contato permanente com a Neoenergia Coelba para reduzir o tempo nas retomadas.
Mesmo com todos os esforços, a empresa não descartou a possibilidade de novas interrupções. “Podem ocorrer ao longo do dia, a depender do aumento repentino do consumo em determinado trecho da rede distribuidora, principalmente em horários de pico de consumo no final da tarde e início da noite, por isto, medida fundamental é ter um reservatório domiciliar (caixa d’água) no tamanho certo para atender os habitantes e convidados”, finalizou.
*Com colaboração de Larissa Almeida