Segurança que matou adolescentes em estação de trem de Salvador é condenado a 42 anos de prisão

Famílias celebraram o resultado do júri

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  • Da Redação

Publicado em 26 de setembro de 2023 às 07:49

Segurança Júlio César de Jesus Perpétuo
Segurança Júlio César de Jesus Perpétuo Crédito: Reprodução/TV Bahia

O segurança Júlio César de Jesus Perpétuo foi condenado a 42 anos de prisão pela morte de dois jovens na plataforma de trem do bairro do Lobato, em Salvador, em 2017, confirmou nesta terça-feira (26) o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA). Dois outros adolescentes foram baleados, um deles ficando paraplégico. A decisão foi tomada pelo júri após cerca de 11 horas de julgamento, nesta segunda, em Salvador. 

David Cruz Barreto, de 16 anos, e Cleidson Santos, de 15, foram mortos após uma discussão com o segurança, que trabalhava na estação de trem Santa Luzia. Os adolescentes estavam voltando da escola quando foram mortos a tiros. O segurança foi condenado pela morte dois dois e por homicídio tentado contra Felipe Oliveira dos Santos e Cleiton Pereira dos Santos. Ele foi absolvido da acusação de tentar matar uma adolescente. 

Na decisão da 1ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Salvador, a juíza levou em conta como atenuante a confissão espontânea do réu. Ela determinou a execução provisória da pena, sem prejuízo a possíveis recursos, com expedição do mandado de prisão, conforme prevê a lei.

Júlio César alegou que agiu por legítima defesa. O segurança não tinha autorização para trabalhar armado. Ele chegou a ficar um ano preso, mas depois passou a responder em liberdade.

Nesta terça, falando à TV Bahia, as famílias comemoraram o resultado. Vanilda Santos, mãe de Felipe que ficou paraplégico, celebrou. “A sentença foi muito esperada, foi o que a gente queria. A gente não acha justo ele cometer um crime e ficar solto, só ficou um ano preso. Agora ele pegou 42 anos de regime fechado. Estou muito feliz que a justiça foi feita“, disse. 

Kleidiane Santos, mãe de Cleidson, também celebrou. “Escutar a sentença ontem foi um alento ao meu coração. Não vou ter meu filho de volta, mas essa senteça significa dizer à sociedade que foi mais um jovem que teve sua vida ceifada inocentemente. Ele tirou todas possibilidades do meu filho crescer, se tornar um jovem, um homem. Até passei mal ontem, era tanto sentimento dentro de mim, que nem sabia expressar. Essa sentença que a justiça existe e pode acontecer“.

Crime

Dias após o crime, o CORREIO esteve na comunidade Voluntários da Pátria, no Lobato, e conversou com os parentes das duas vítimas, entre eles um dos irmãos de Cleidson, um dos sobreviventes do ataque. Na quinta-feira, ele, o irmão, David e o casal adolescente saíram de casa às 13h rumo ao Colégio Estadual Castro Alves, na Calçada, onde todos estudam no 7º ano, e às 13h10 já tinham embarcado como de costume em um dos vagões na estação de trem de Santa Luzia.

“O segurança já brigava com um grupo de rapazes que colocava o pé para não fechar uma das portas. Daí, ele foi na direção de David, que estava escorado em uma das portas fechadas e o mandou sair do lugar. David disse que sairia quando o trem andasse e ele não gostou, dando início à discussão”, contou o irmão de Cleidson. A mãe dele, que também tinha embarcado, mas em outro vagão, não percebeu a confusão.

Segundo o irmão de Cleidson, o segurança premeditou o crime. Após a confusão, ele ameaçou David. “Ele disse que, quando voltássemos, ia resolver o assunto com David. Ele já estava intencionado”, relatou o sobrevivente. Por volta das 16h, os cinco adolescentes desceram na estação e, ao invés de logo irem para casa, pararam no local para conversar.

“Estávamos resenhando sobre os acontecimentos da aula. Jamais imaginaríamos o que aconteceu”, contou o irmão de Cleidson. De acordo com ele, o segurança desceu do trem e caminhava na direção deles. “Ele estava com a camisa por fora, mas não maldamos que ele escondia uma arma. Quando se aproximou, sacou a arma e deu o primeiro tiro, atingindo o pescoço do meu irmão, que caiu na hora”, relatou.

Em seguida, o segurança deu início a uma sucessão de tiros, aumentando ainda mais o pânico na estação. “Ele mirou em mim, mas me abaixei. Então, disparou novamente e acertou três vezes nas costas de David, que foi ao chão. Ele atingiu de raspão a mão de minha amiga e alcançou o namorado dela, que tinha retornado para um dos vagões, baleando-o também nas costas. Quando saiu novamente do vagão, ele apontou novamente a arma para mim, mas escapei novamente quando pulei o muro da estação”, detalhou o irmão de Cleidson.