Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Millena Marques
Publicado em 14 de fevereiro de 2025 às 06:30
Filha de um fabricante de licor junino, a aposentada Gisélia Souza, 71 anos, experimentou bebida alcoólica aos nove. Há 14 anos sóbria, a baiana relata as consequências do alcoolismo em mais de seis décadas de vida e quais foram os principais desafios para conseguir a sobriedade. “Foi muito sofrimento. Se não tivesse parado de beber, estaria morta. Hoje, a bebida não me faz falta nenhuma”, relata. >
Leia o relato: >
“Meu pai fazia licor para o São João. E você sabe como é criança, né? Tomava um golinho e outro. Aí fiquei adolescente e comecei a beber no Carnaval, no São João, em festas. Estudei até a oitava série, mas quando fiquei moça, depois dos 20, ia para os carnavais com minhas irmãs e sempre bebia demais. Eu era a que mais bebia entre quatro, cinco irmãs. Não sabia por que bebia tanto. >
Quando me casei, eu fui morar perto de um vizinho, que bebia muito também, assim como meu marido. E aí bebia todo o final de semana. A pessoa vai viciando, vai ficando com problema sem saber. O marido ficava zangado. Tive três filhos, não sei como são saudáveis, porque bebi em toda gravidez. >
Comecei a trabalhar em uma loja de confecção na Barra Às vezes, deixava de trabalhar para beber. Minha colega batia o portão para me chamar para ir trabalhar, eu dizia que não ia, que ia beber. Ficava no bar o dia todo. E aí, minha filha, a minha patroa não suportou porque eu chegava bebendo para trabalhar e me colocou para fora. E isso me fez beber mais ainda. >
Fui me acostumando. Deixava a casa à toa, os meninos iam crescendo naquela vida de alcoolismo sem saber o que era. Qualquer briga que tinha em casa, ia para rua beber. Eu comecei a beber todos os dias. Todo tipo de bebida, cerveja, vodka, cachaça, tudo. Amanhecia tremendo para beber uma, largava a casa e não estava nem aí. Meu esposo me trancava, eu pulava a janela e ia para o bar. Era uma sofredora. >
Minha filha, eu saía de manhã e chegava de tarde. Onde eu morava, tinha um barzinho, e eu ajudava a dona do bar a limpar. Ela não me dava dinheiro, não, me dava bebida em troca. Imagine. Minha mãe me levou ao CATA (Centro de Acolhimento e Tratamento de Alcoolistas das Obras Sociais Irmã Dulce) em 2004, mas eu não quis ficar. Não fiz tratamento. Depois, minhas irmãs me trouxeram em 2010 e, graças a Deus, fui salva. Eu não percebia que estava ruim, minhas mães e minha irmã que percebiam. >
Foi muito sofrimento. Se não tivesse parado de beber, estaria morta. Hoje, a bebida não me faz falta nenhuma. Me sinto tão bem agora, cuido mais dos meus filhos. Eles entenderam que eu era uma mulher doente. Tive o acolhimento dos funcionários do CATA. Esse é um lugar de acolhimento e cuidado dos pacientes. Agradeço muito a Santa Dulce pelo CATA.” >
Em fevereiro, mês em que se comemora o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, o CORREIO separou uma lista com locais onde os dependentes podem buscar tratamento gratuito em Salvador: CATA e Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas (Caps AD) - (unidades Gey Espinheira e Pernambués). >