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Larissa Almeida
Publicado em 16 de agosto de 2023 às 05:00
Em Salvador, o apagão que acometeu a cidade na manhã desta terça-feira (15) não apenas afetou o trânsito e o comércio, como também comprometeu os serviços essenciais para o cidadão. Por aproximadamente três horas, os soteropolitanos ficaram sem conseguir fazer ligações para o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU). De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), mesmo dispondo de gerador e sistema em pleno funcionamento, as operadoras de telefonia não completavam as chamadas para a emergência, motivo pelo qual tiveram de ser redirecionadas para o 190. >
Nas primeiras horas da manhã, pontos focais da SMS deram início ao monitoramento presencial da rede composta por 17 unidades de urgência e emergência, bem como foram acionados todos os geradores desses equipamentos assistenciais. Durante a intercorrência, 1.043 pacientes foram acolhidos pela classificação de risco dessas unidades e 74 assistidos nas salas vermelhas, sendo 10 em ventilação mecânica. >
O Hospital Municipal de Salvador funcionou normalmente. Na rede ambulatorial, composta por postos básicos e multicentros, os pacientes tiveram suas consultas e procedimentos remarcados. Na Unidade de Saúde da Família Lealdina Barros, situada no Vale do Muriçoca, na Federação, não houve energia para o funcionamento dos equipamentos do sistema, o que impediu a realização de consultas e exames. >
“Sem internet, não funcionou nenhum setor. A vacina e o curativo foram suspensos, porque tudo é lançado no sistema, então ficou tudo parado. Alguns pacientes ficaram aguardando, mas a única parte que funcionou foi o laboratório, porque os nomes dos pacientes já haviam sido lançados na máquina. Cerca de 35 pessoas tiveram consultas marcadas ou canceladas”, conta Maria Santos, funcionária da unidade de saúde. >
Moradora do bairro do Nordeste, a dona de casa Edelzuita Batista, 67, foi uma das pessoas que tiveram uma consulta marcada com o médico clínico da USF do bairro e precisou remarcar por conta da falta de energia. “Eu fiquei muito chateada por conta desse apagão, porque eu queria passar pela consulta. Eu vou ter que viajar essa semana e o médico só atende uma vez. Meu atendimento agora é para a próxima terça-feira”, lamentou. >
Na rede estadual de saúde, de acordo com a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), os hospitais tiveram o funcionamento dos serviços essenciais – como equipamentos das UTIs e dos centros cirúrgicos – garantido em virtude do uso de geradores. >
Das 422 unidades de ensino municipais de Salvador, aproximadamente 18% (cerca 76 unidades de ensino) tiveram que suspender as aulas na manhã desta terça-feira. No turno da tarde, esse percentual foi de 33% (cerca de 140 unidades). No total, aproximadamente 19,5 mil alunos ficaram sem aula, o que representa 13% do total de alunos matriculados na Rede Municipal de Salvador, que conta com cerca de 150 mil estudantes. Os dados são da Secretaria Municipal da Educação (Smed). >
Já na rede estadual de ensino, o funcionamento das escolas foi mantido pela manhã, com algumas restrições impostas pela falta de energia, como a impossibilidade de uso de equipamentos eletroeletrônicos – como ventiladores e ar-condicionados. Segundo a Secretaria Estadual de Educação, as aulas estavam previstas para acontecer normalmente nos turnos vespertino e noturno. >
Nas escolas particulares, o funcionamento dependeu exclusivamente do uso de geradores. O Colégio Antônio Vieira, no Garcia, o Colégio Integral, na Pituba, e o Villa Global Education, na Paralela, mantiveram as aulas. Já a unidade da Escola Sesi, em Piatã, suspendeu as atividades apenas pela manhã e manteve o funcionamento normal pela tarde. >
“Pela manhã as aulas foram suspensas na metade da aula. Pela tarde, de 43 alunos, só 28 vieram na minha sala. Soube que foi a escola toda nessa faixa”, conta a estudante Cecília Almeida, de 15 anos. >
Durante o apagão, as unidades do Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC) localizadas em postos de shoppings, que abrem às 9h, ficaram fechadas até o restabelecimento da energia elétrica. As unidades dos bairros de Salvador, que abrem às 7h, não fecharam. O funcionamento foi restabelecido por volta das 11h30. A estimativa é de que cerca de 75% do público previsto para atendimento no turno da manhã tenha sido afetado. Sem remarcação, os cidadãos foram orientados a realizar novos agendamentos. >
O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) também acabou não realizando atendimentos pela manhã em função da falta de energia elétrica. A autarquia orienta os segurados a não remarcarem o atendimento agendado e aguardar um novo agendamento do INSS. >
No Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA), o apagão afetou o funcionamento do Núcleo Virtual de Atendimento ao Eleitor (Nave) e da Central de Atendimento ao Público (CAP). Os serviços foram restabelecidos por volta das 11h. >
Já os bancos Itaú e Banco do Brasil informaram à reportagem que não registraram interrupção de funcionamento em suas agências. Por sua vez, o Bradesco teve falta de energia e disse que todas as agências restabeleceram o atendimento em horários diferentes em Salvador. A CAIXA e o Santander também foram procurados, mas não responderam à solicitação feita pelo CORREIO. >
A falta de energia elétrica ainda provocou a interrupção dos sistemas de abastecimento de água em Salvador, que só começaram a ser restabelecidos na tarde desta terça-feira. Conforme a Embasa, o período de interrupção dos sistemas afetou o nível dos reservatórios e o volume de água disponível para abastecer a população de Salvador e Região Metropolitana (Lauro de Freitas, Candeias, Simões Filho, São Francisco do Conde e Madre de Deus). >
Em Mussurunga, a aposentada Maria das Graças Pereira, 67, ficou impedida de realizar suas tarefas domésticas. “Foi horrível. Não lavei roupa, não tratei carne e não lavei prato. Foi um transtorno e eu nem sabia o motivo da falta de água. Eu supus que tivesse sido pela falta de energia”, relata, chateada. >
A expectativa é de que nas próximas 48 horas o fornecimento de água esteja regularizado em Salvador e demais municípios afetados. A Embasa recomenda que, neste momento de contingência, as pessoas utilizem água da forma mais econômica possível, evitando usos que possam ser adiados. >
Com todo o caos instalado por conta do apagão, muitos soteropolitanos também não puderam comprar gás a tempo de fazer o almoço por falta de internet e sinal para fazer ligações. Pelo WhatsApp Ultragaz, o serviço de entrega de botijões estava indisponível no Cabula e na Federação, só havendo data disponível a partir desta quarta-feira (16). A distribuidora, por meio de nota, negou dificuldade na obtenção do serviço e ressaltou que sua operação não foi afetada e permaneceu normal nesta terça-feira. >
No Calabar, no período da tarde, quando a energia já havia sido restabelecida, moradores da região compraram botijões reservas porque o preço estava em conta graças a grande demanda. “Comprei um [botijão] e eu nem precisava, mas estava por R$85. Eu já deixei preso ali na calçada. Não podia perder”, disse um morador.>
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo>