Salvador tem 3,5 mil baianas de acarajé: conheça algumas histórias

Na família da baiana Bulu, o ofício foi herdado por três filhos, um deles um homem

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  • Emilly Oliveira

Publicado em 24 de novembro de 2023 às 05:30

Baianas de Acarajé
Baianas de Acarajé Crédito: Ana Lucia Albuquerque/ CORREIO

Salvador tem mais baianas de acarajé do que dias suficientes para experimentar a iguaria em cada um dos tabuleiros durante um ano. Segundo a Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivos da Bahia (Abam), há cerca de 3,5 mil delas atuando na capital da Bahia.

Desde 2005, o ofício é registrado como patrimônio cultural do Brasil, no Livro dos Saberes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Responsáveis pela criação do bolinho de feijão mais famoso da Bahia, as quituteiras também têm o Dia Nacional das Baianas de Acarajé dedicado a elas, celebrado em 25 de novembro.

A baiana de acarajé Bulu, de 90 anos de idade e 74 anos de profissão, é responsável por três nomes dessa lista. Moradora do Nordeste de Amaralina, a matriarca criou cinco filhos com a venda dos acarajés que fritava em seu tabuleiro montado nos Largo das Baianas de Amaralina.

A baiana Bulu, como gosta de ser chamada, ainda faz abará, ajuda nos preparativos do vatapá, caruru e camarão que incrementam o bolinho, mas a venda ela já deixou de herança para os filhos há algum tempo. Dos cinco, três seguiram na profissão que aprenderam sentados do lado do tabuleiro.

Um deles é um homem: Nailton Barbosa Santana, o Baiano Cuca do Acarajé, com 54 anos de idade e 42 anos de ofício. Já sabendo fazer o bolinho, ensinado pela avó e pela mãe, ele passou a tomar conta do ponto quando as duas “demoravam de chegar”, ainda com 12 anos.

Cuca do Acarajé
Cuca do Acarajé Crédito: Arquivo Pessoal

O preconceito o acompanhou durante boa parte da profissão, mas ele persistiu e mantém o ofício que herdou da mãe e da avó até hoje. Com três tabuleiros em Salvador, instalados nos bairros de Ondina, Barra e Rio Vermelho, se declara como o primeiro homem do acarajé de Salvador.

“Começou com minha mãe e minha avó que levavam a cesta na cabeça para o ponto, quando elas demoravam, eu mesmo arrumava e começava a vender o acarajé. Tomei gosto e fui botando o meu aos pouquinhos. Enfrentei muita coisa por ser homem, mas hoje em dia sabem que é a nossa profissão”, conta Cuca do Acarajé.

As irmãs dele, Leni Barbosa, 54 anos, e Nelceli, 48 anos, formam uma dupla de baianas vendendo acarajé na porta de casa, no Nordeste de Amaralina. Desde que a baiana Bulu deixou o ponto que mantinha no Largo das Baianas, elas passaram a vender o bolinho no bairro em que moram e agora contam com a ajuda da matriarca em alguns preparativos.

“Eu amo porque é a profissão que a minha mãe me ensinou e eu gosto de vender acarajé”, afirma Leni. Para Nelceli, o amor pela profissão também é ancestral. “Era todo mundo no Largo de Amaralina, minha mãe vendendo acarajé e meu pai de pedreiro. Todo mundo estudou, mas o acarajé está no sangue”, garante Nelceli.

Ofício Ancestral

O ofício em Salvador é uma herança ancestral, herdada oralmente das mulheres negras escravizadas no Brasil Colônia. Quem perpetua esses saberes também carrega os adornos usados por suas ancestrais, especialmente o torço e as contas. O segundo acessório de pescoço, que se assemelha a colares de miçangas, é símbolo de proteção na religião do candomblé, cultuada pelas primeiras vendedoras de acarajé.

Palavras da baiana Doraci Batista dos Santos, 57 anos, dos quais 48 dedica ao ofício de baiana. A atividade entrou na vida dela aos 9 anos, vendo a mãe vender bolinhos de feijão, também no Largo de Amaralina. Hoje, o tabuleiro é cuidado por ela. Na época que começou a atuar sozinha, foi porque a mãe dela ficou doente.

Como ainda era uma criança, contou com a ajuda das outras baianas do Largo para manter o espaço da mãe. “É uma paixão, eu gosto de coração. Com doença ou sem doença eu estou aqui” garante Doraci.

Valorização

Para Doraci, o que tem faltado para a profissão é a valorização dos espaços conhecidos pela venda de acarajé, como o Largo de Amaralina e o Largo do Dendê, em Itapuã. Apesar das reformas realizadas em Amaralina há poucos anos, ela sente falta de programações culturais que atraiam o público para o largo.

“Aqui era ponto turístico, ficava cheio de gente, mas hoje não vemos mais o mesmo movimento. A gente quer uma banda, uma festa no final do ano para chamar as pessoas para cá, para o largo não morrer”, deseja Doraci.

Celebração aberta ao público

Em comemoração ao Dia das Baianas de Acarajé, a Abam está promovendo a campanha “Dia da Baiana Feliz” para angariar fundos, por meio da venda do acarajé por R$10 em 25 pontos de Salvador. A campanha acontece da seguinte forma: até o dia 25 de novembro, cupons serão vendidos em 25 tabuleiros da capital baiana. A troca pelo acarajé será feita nos dias 25 e 26 de novembro.

Quem comprar o voucher poderá fazer a troca do cupom por um acarajé completo no dia 25 de novembro, diretamente no Memorial das Baianas de Acarajé, no Pelourinho. Já no dia 26, a troca será realizada em outros 15 pontos da cidade. Confira a lista completa abaixo.

Além disso, acontecerá uma missa para baianas de acarajé na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no sábado (25), a partir das 10h. A programação também conta com um desfile de 100 baianas pelas ruas do Pelourinho.

Pontos de venda do cupom

Terreiro de Jesus - Em frente a Faculdade de Medicina

Praça da Sé - Em frente a Cruz Caída

Memorial das Baianas- ABAM Praça Cruz Caída - Pelourinho

Rua da Mouraria, nº 68 - Em frente a Pizzaria La Napolitana

Rua Miguel Torre, Barão de Macaúbas, 23

Avenida Leovigildo Filgueiras, 819 - Garcia

Rua General Labatut - Barris

Shopping Vila Laura - Rua Raul Leite, 279 - Quiosque 02

Rua Belo Horizonte - Jardim Brasil.

Porto da Barra - Em frente ao Artesanato da Bahia

Farol da Barra - Em frente ao Barra Center,

Farol da Barra - Em frente ao Farol

Farol da Barra - Na rampa que dá acesso a praia

Avenida Milton Santos, nº 1080 - Ondina. Em frente a clínica

Largo de Santana, ao fundo da Igreja de Santana - Rio Vermelho

Acarajé da Dinha Largo de Santana - próximo a igrejinha de Santana - Rio Vermelho

Praia de Amaralina - Ponto de Ref: Em frente ao Condomínio Anhanguera

Quiosque de Amaralina

Rua Itajuá, nº 24, Final de linha do Nordeste de Amaralina. Ponto de Referência:

Avenida Manoel Dias, em frente ao hotel VerdeMar - Amaralina/Pituba

Praça Belo Horizonte - em frente a Corretora de Imóveis

Imbuí - Rua das Gaivotas , 177 - Praça do Imbuí. Em frente ao Shopping Gaivotas -

Praia de Placaford. Avenida Otávio Mangabeira, s/n.

Rua Aristídes Milton. Ponto de Referência: Estátua de Dorival Caymmi

Itapuã - em frente ao posto 12

Pontos de troca do cupom pelo acarajé no dia 26 de novembro

Memorial das Baianas - Praça Cruz Caída, Pelourinho

Terreiro de Jesus - Em frente a Faculdade de Medicina

Praça da Sé - Em frente a Cruz Caída

Rua da Mouraria, nº 68- Em frente a Pizzaria La Napolitana

Rua Miguel Torre, Barão de Macaúbas, 23 - Barbalho

Porto da Barra - Em frente ao Artesanato da Bahia

Farol da Barra - Em frente ao Barra Center

Farol da Barra - Em frente ao Farol

Farol da Barra - Na rampa que dar acesso a praia, ao lado do Farol

Acarajé da Dinha Largo de Santana - Rio Vermelho

Praia de Amaralina - Ponto de Ref: Em frente ao Condomínio Anhanguera

Largo das Baianas - Amaralina

Rua Itajuá, nº 24, Final de linha do Nordeste de Amaralina.

Rua das Gaivotas , 177 - Praça do Imbuí.

Praia de Placaford. Avenida Otávio Mangabeira, s/n.

Rua Aristídes Milton. Ponto de Referência: Estátua de Dorival Caymmi - ao lado do Boteco do lambretão - Itapuã

Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo