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Larissa Almeida
Publicado em 14 de janeiro de 2025 às 20:06
Morar de aluguel em Salvador se tornou mais caro no último ano. Entre janeiro e dezembro de 2024, o preço da locação na capital baiana cresceu 33,07%, de acordo com o Índice FipeZap, que acompanha o preço médio de locações de apartamentos prontos em 22 capitais e 14 cidades do Brasil. A publicação foi divulgada nesta terça-feira (14). A alta percentual é a maior da década, ou seja, o aluguel nunca foi tão caro nos últimos dez anos como foi em 2024.
Entre as capitais analisadas pelo levantamento da FipeZap, também foi Salvador a que registrou maior aumento no preço do aluguel no ano passado. Em seguida, aparecem Campo Grande (26,55%), Porto Alegre (26,33%) e Recife (16,17%). Para se ter ideia da alta no valor de locação, Salvador não tinha alcançado 20% de aumento em nenhum dos levantamentos feitos desde 2015, conforme gráfico abaixo:
Para Erotildes Silva, corretor de imóveis e conselheiro do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado da Bahia (Creci-BA), o encarecimento do aluguel em Salvador está relacionado à inflação imobiliária que vem atingindo o setor nos últimos anos – sobretudo no ramo de vendas, mas não apenas nele.
“As taxas de juros de financiamento também impactam no aluguel. Houve imóveis do Minha Casa, Minha Vida que nós não conseguimos vender porque havia muitos juros e os bancos estavam sem recursos para bancar. Também houve aumento da procura por aluguel devido a grandes construções em áreas mais nobres, que traz mais valorização para o mercado”, destaca Erotildes.
O corretor de imóveis Gustavo Reikdal explica que, geralmente, o preço do aluguel está diretamente atrelado ao valor dos imóveis, de modo que já era possível esperar um aumento nos valores de locação. “Em 2024, Salvador figurou entre as cidades com maior aumento nos preços de venda, chegando a quase 17% de aumento médio nos valores, o que influenciou diretamente o mercado de locação. Esse é um movimento natural, pois os proprietários buscam retornos sobre seus investimentos, ajustando os valores dos aluguéis à valorização dos imóveis”, pontua.
A inflação do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), avançou 4,83% no ano passado, mas pouco impactou o mercado imobiliário, conforme enfatiza o conselheiro do Creci-BA. Uma vez que, no Brasil, o aumento do aluguel foi de 13,50% em média, a aumento real do aluguel – com desconto da inflação – foi de 8,67%. No caso de Salvador, essa alta real foi de 28,24%.
Segundo o Índice FipeZap, o preço médio de um imóvel alugado em Salvador é de R$ 44,22. Isso significa que, em uma residência de 80 m² na cidade, o aluguel custaria, em média, R$ 3.537,60 por mês. Antes, ao final de 2023, esse mesmo apartamento de 80 m² na cidade poderia ser locado, em média, por R$ 2.648,00.
Apesar do aumento dos contratos residenciais de aluguel, Salvador não é a capital mais cara para viver de locação. Esse lugar é ocupado São Paulo (R$ 51,62) e, na sequência, por Florianópolis (R$ 49,81), Recife (R$ 47,78) e Rio de Janeiro (R$ 45,10). A terra dos soteropolitanos aparece em 9º lugar.
Dentre os que sentiram o aumento de preço, os mais afetados foram aqueles que buscaram alugar imóveis nas áreas mais nobres da capital baiana, como Ondina e Barra, que tiveram os preços médios de locação mais caros em 2024: R$ 64 e R$ 59,70, respectivamente.
“Ondina e Barra têm uma situação específica do ambiente da Orla de Salvador, que teve um aumento maior no mercado de aluguel, principalmente com os novos empreendimentos que estão surgindo. Há novos tipos de apartamentos studios, com quartos menores, que dão um retorno maior de aluguel para os investidores”, aponta Erotildes Silva.
Para quem sonha em viver em bairros bem localizados da cidade, mas está sendo intimidado pelos altos valores do aluguel, Gustavo Reikdal garante que ainda há alternativas. “Salvador ainda oferece excelentes opções de bairros com boa localização e valores mais acessíveis. A dica é realizar uma pesquisa cuidadosa, ampliar o raio de busca e, se for preciso, abrir mão de itens de lazer optando por imóveis mais antigos para encontrar melhores custos-benefícios”, aconselha.
De acordo com os dois especialistas ouvidos pela reportagem, a tendência é que os preços do aluguel subam ainda mais. “Com o aumento das taxas de juros, é esperado um cenário de retração no mercado imobiliário. Em períodos como esse, muitas pessoas tendem a preferir investimentos financeiros que oferecem resultados mais imediatos e atrativos, em detrimento da aquisição para locação. Isso afeta a oferta e pode impactar ainda mais no aumento dos valores dos aluguéis, especialmente em regiões valorizadas e com infraestrutura consolidada”, ressalta Gustavo.
Bairros como Ondina e Barra, já citados na matéria, também tendem a ser ainda mais valorizados. “A tendência hoje é que os empreendimentos menores sejam ocupados por aqueles que procuram um espaço para viver bem e perto do mar. Então, vai ficar um pouquinho mais caro, até porque há vezes em que o aluguel aumenta mais do que as vendas por conta da alta procura”, diz o conselheiro do Creci-BA
“Tem muita gente vindo para o lado da Orla, porque precisa trabalhar em casa sozinho. Hoje mesmo aluguei um apartamento na Barra para um cliente que não está conseguindo conviver com a família porque não está conseguindo trabalhar em casa. Ele optou por alugar um quarto e sala. Assim como ele, esse será o comportamento de muitos soteropolitanos neste ano”, finaliza Erotildes Silva.