Salvador registra 11 furtos de hidrômetros por dia; prejuízo chega a R$ 450 mil este ano

Recorde de ocorrências aconteceu em abril, com 710 casos

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  • Larissa Almeida

Publicado em 17 de outubro de 2024 às 05:15

A falta de medição e a perda de água implicam diretamente no aumento de custo de produção
A falta de medição e a perda de água implicam diretamente no aumento de custo de produção Crédito: Divulgação

Encontrados na frente de prédios e casas, nem os hidrômetros estão a salvo da criminalidade em Salvador. A prova disso é que, entre janeiro e setembro deste ano, a cidade registrou 3.147 furtos do equipamento, gerando uma média de 11 casos por dia. De acordo com a Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), além dos impactos causados a população, os furtos já deram prejuízo de R$ 450,8 mil às contas públicas.

Segundo Luzivane Souza Cunha, gerente de suporte comercial da Embasa, o furto de hidrômetros causa vazamentos e prejudica o abastecimento. Isso porque, o equipamento é utilizado para medir a quantidade de água que abastece uma edificação. Só em abril, 710 ocorrências foram registradas – o recorde de 2024 até então – nos mais diferentes bairros da capital baiana. “As regiões com maior incidência de furto de hidrômetros são as atendidas pelas unidades da Embasa em Salvador nas áreas do Cabula, Uruguai, Liberdade, Bonfim, Roma e São Caetano”, destaca.

No bairro do Cabula, os autores dos furtos são chamados popularmente de ‘sacizeiros’. De acordo com o morador Ricardo Alberto, 47 anos, há anos a comunidade local sofre com a atuação deles, que se dá sempre na madrugada. “Esses homens arrancam o hidrômetro e deixam a água jorrando durante a noite toda. Só no mês passado, isso aconteceu de oito a 12 vezes. Além de termos prejuízo com a falta da água, somos impactados com o valor da conta”, reclama.

Ricardo conta ainda que não só os hidrômetros são alvo dos furtos, como todos os materiais com metais. “Eles levam qualquer coisa que seja de alumínio ou cobre. Já chegaram a levar a tampa dos tanques dos prédios e portões de alumínio. Já tentamos intermediar com a segurança pública, mas não há jeito. Eles continuam roubando de madrugada e ninguém vê. É complicado”, ressalta.

O problema é persistente não apenas no Cabula, mas em toda Salvador. No ano passado, foram computados 3.162 furtos de hidrômetros na cidade, que geraram prejuízo de R$ 453 mil. De acordo com Horacio Nelson Hastenreiter Filho, professor do Mestrado em Segurança Pública, Justiça e Cidadania da Universidade Federal da Bahia (Ufba), esse tipo de crime costuma ser praticado para financiar o uso de drogas.

“Algumas das instalações públicas têm determinados componentes e materiais com valor de revenda para os criminosos. Eles acabam criando prejuízos de ordem cem vezes maior do que o benefício que retiram a partir da revenda do produto. Muito frequentemente, encontramos uma relação entre usuários de drogas, principalmente de crack, e esse tipo de furto. São pessoas desesperadas e viciadas, que não medem a relação custo-benefício”, esclarece o especialista.

A partir do momento que o hidrômetro é furtado, a falta de medição e a perda de água implicam diretamente no aumento de custo de produção, conforme explica Jonatas Sodré, que é engenheiro sanitarista. “Se a companhia de saneamento gasta para produzir água e não fatura essa água, ela acaba tendo que absorver esse custo, que vai ser considerado na hora que for solicitada a revisão da tarifa. Ou seja, esse risco de perda de água, que a companhia não controla por ser decorrente de furto, pode depois representar um aumento significativo na tarifa”, reitera.

Para além dos impactos financeiros, os impactos ambientais, em virtude do desperdício de água, são problemas decorrentes dos furtos. Por conta disso, Jonatas Sodré relata que a Embasa já tem buscado substituir, progressivamente, os materiais que compõem o hidrômetro. A preferência, agora, é por plástico no lugar do cobre.

No intuito de evitar esse tipo de crime, a Embasa diz que reforça a estrutura de segurança do equipamento como tampas e lacres, e também busca a parceria da Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP). “No ano passado, por exemplo, a Embasa foi uma das parceiras da Operação Metallis, deflagrada pela SSP para combater furto, roubo e venda ilegal de equipamentos de prestadoras de serviço públicas e provadas”, pontua Luzivane Souza Cunha.

Quem for usuário da Embasa e tiver o hidrômetro furtado, deve informar a ocorrência à companhia pelo telefone 0800 0555 195. A Embasa também orienta que o usuário faça o registro da ocorrência na delegacia mais próxima para que a polícia possa realizar as devidas investigações.