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Elaine Sanoli
Publicado em 16 de março de 2025 às 10:00
A Bahia é mágica, o tempo é rei e Gilberto Gil é atemporal. Salvador parou para ver, em primeira mão, a última turnê do mestre. Para além dos fãs da casa, a cidade deu aquele abraço na galera que chegou só para ver um dos maiores nomes da música popular brasileira. A professora Viviane Alves, 51, e o administrador Marcelo Pimenta, 52, sentiram a magia de ouvir Gil em solo soteropolitano pela primeira vez. "A gente já viu show do Gil em diferentes lugares: em Londres, São Paulo, também assistimos Tropicália 2, há trinta anos atrás, vimos o Unplugged e várias outras apresentações nesses quarenta anos", relembraram. >
Ansiosos para ouvir as primeiras notas das canções selecionadas para o show da turnê, os paulistas chegaram à Arena Fonte Nova antes das 16h, embora os portões só abrissem às 17h. Ver o ídolo em Salvador se tornou uma verdadeira operação para o casal, que levou canga, água, protetor solar e chapéu para ficar com tranquilidade na fila. "A gente não ia aguentar esperar até o show de São Paulo", diziam, alegres. Apesar disso, eles ainda pretendem ir para um dos quatro shows a serem realizados na capital paulista no mês de abril.>
O jornalista cearense Pedro Nobre, 43, também chegou à cidade às 5 da manhã deste sábado (15), dia da primeira apresentação de 'Tempo Rei', só para ver o cantor. "Ele é um homem catedrático. É um orgulho para a gente, enquanto brasileiro, amante da língua portuguesa e nordestino, vê-lo se apresentar para um estádio cheio. É de encher o coração e o peito para respirar cultura", expressou. Apesar de ter assistido à abertura da turnê em Salvador, como forma de celebrar o aniversário do marido, ele afirmou que estará presente no dia 15 de novembro para ver Gil em Fortaleza.>
O casal paulista Rafael Furtado, 35, e Letícia Dias, 34, para não correr o risco de perder um bom lugar no show histórico, chegou à Arena Fonte Nova por volta das 16h30. Lá dentro, eles ficaram de plantão na grade divisora dos espaços. Enquanto aguardavam o início do show, o casal debatia entre si sobre o que faz de Gil um cantor único.>
"Ele é atemporal, um compositor e intérprete de si mesmo fenomenal. Canta, toca e compõe muito bem e é muito cheio de boas energias. Por mais que ele tenha passado por um período muito nebuloso de ditadura, ele é um artista que sempre se manteve muito pra cima, ele traz muita esperança", descreveu Rafael, que também é músico.>
O período, inclusive, foi lembrado durante a apresentação de Gil com a canção "Cálice", em parceria com o cantor Chico Buarque. Chico, em vídeo exibido no telão, relembrou a censura da música pelo governo militar e foi acompanhado pelo público, que, em coro, pedia: "sem anistia!".>
Assim como grande parte de sua trajetória na música, o show foi fortemente marcado pelo trânsito entre diferentes ritmos. Se, em um momento, o baiano cantava canções de reggae, como a sua versão de 'No Woman, No Cry' (Não chore mais), originalmente do jamaicano Bob Marley, em outros, Gil trazia mais um pedacinho da cultura nordestina para o palco ao cantar “Xodó”, do rei do baião, Luiz Gonzaga, por exemplo.>
Espaço não havia, já que o estádio ficou praticamente lotado, mas tornou-se praticamente impossível ficar parado ao ouvir músicas cantadas por Gil. O público aproveitou qualquer brechinha para dançar conforme a música. Nem mesmo o próprio cantor se segurou e caiu na dança entre uma canção e outra. Em 2h30 de show, Gil demonstrou a potência e vitalidade que seus quase 83 anos de vida e mais de 40 anos de carreira lhe renderam.>
"Não tem coisa mais mística do que ouvi-lo tocar na casa dele", dizia, animado, o engenheiro João Vitor Teles, 39. Ao lado da esposa, Raquel Teles, 46, carioca que veio pela primeira vez a Salvador para ver o cantor.>
Durante o show, Gil relembrou momentos da própria trajetória e fez questão de enaltecer a potência da musicalidade negra afrodiaspórica com a canção "Refazenda", acompanhado dos percussionistas Leonardo Reis e Gustavo de Dalva. As letras das canções "Realce", "Expresso 2222" e "Andar Com Fé" ecoaram pela Fonte Nova na voz do público, que, atônito, dançava fervorosamente.>
'Drão' foi a escolhida para homenagear a filha, Preta Gil. A cantora recebeu alta médica na sexta-feira (14), após passar por um quadro de infecção urinária, e pôde voltar para casa a tempo de acompanhar a apresentação do pai. "Esse show é para todos nós, mas especialmente para minha filha Preta", declarou o músico ao iniciar a canção.>
Até mesmo quem estava nas arquibancadas se levantou para cantar, dançar e aplaudiu de pé a maestria de Gil em conduzir as músicas. As participações de Russo Passapusso, vocalista da Baiana System, e da cantora e ministra da Cultura Margareth Menezes, nas canções 'Emoriô / Dia da Caça' e 'Toda Menina Baiana', levaram o público à loucura. 'Esperando na janela' e 'Aquele abraço', clássicos do repertório de Gil, foram a cereja do bolo e colocaram fim ao primeiro show da turnê 'Tempo Rei'. >