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Salvador poderá ficar inabitável durante 200 dias por ano; entenda

Em entrevista ao CORREIO, cientista Carlos Nobre alerta para aumento da temperatura

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 19 de dezembro de 2024 às 14:55

Climatologista Carlos Nobre participou de evento do MP-BA
Climatologista Carlos Nobre participou de evento do MP-BA Crédito: Adriano Cardoso/Imprensa MPBA

Um dos maiores climatologistas do mundo, o cientista Carlos Nobre adora Salvador. Lamenta que a passagem pela capital baiana, nesta quinta-feira (19), tenha sido rápida. Queria ter ficado mais tempo. No dia em que participou de um evento no Centro Administrativo da Bahia (CAB), os termômetros marcavam 29ºC e a sensação era de abafamento. Sua preocupação com o futuro - climático - da cidade pode até ter um toque pessoal. Mas o alerta tem fundamento científico: Salvador pode ficar inabitável durante mais de 200 dias por ano por conta do calor. 

Em entrevista ao CORREIO, Carlos Nobre falou sobre os impactos da ação humana para o aumento da temperatura do planeta. Há 17 meses, ela sobe consideravelmente. Em 2015, no Acordo de Paris, países se comprometeram a limitar o aquecimento global em 1,5ºC. Mas a previsão está defasada. 

Os efeitos disso serão sentidos em Salvador a longo prazo. "Se atingirmos a temperatura de 1,5ºC, e só zerarmos a emissão de gases [poluentes] em 2050, vamos atingir 2,5ºC. O que é quase como o 'fim' do planeta", avalia. "Se continuarmos com as emissões do jeito que estão, podemos chegar a até 4ºC no próximo século. Nessa temperatura, toda a região equatorial se torna inabitável, inclusive, Salvador", avalia Carlos Nobre.

O cientista também chama atenção para o avanço da desertificação na Bahia e aumento do nível do mar. Não é exagero dizer que paisagens da capital baiana podem desaparecer. Carlos Nobre participou da conferência sobre mudanças climáticas promovida pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA), nesta quinta. O evento encerrou a programação da Semana do MP - que debateu temas de interesse público, como sustentabilidade e segurança. 

Membro da Academia Mundial de Ciências para Nações em Desenvolvimento (TWAS), ele é um dos mais renomados especialistas sobre aquecimento global do mundo. Confira abaixo a entrevista exclusiva. 

Quais são os maiores desafios climáticos que a Bahia enfrenta atualmente? 

Há 17 meses, a temperatura global tem estado 1,5ºC mais quente do que no início do aquecimento global, entre 1850 e 1900. Isso aconteceu dez anos antes do que a ciência previa. Com isso, há aumento dos eventos extremos (ondas de calor, chuvas extremas e incêndios). Nenhum lugar do mundo está preparado para os efeitos do aumento de temperatura, especialmente nos países em desenvolvimento. 

Se atingirmos a temperatura de 2,5ºC, é quase como o 'fim' do planeta. Se continuarmos com as emissões do jeito que estão, podemos chegar a até 4ºC no próximo século. Nessa temperatura, toda a região equatorial se torna inabitável. Aqui mesmo, em Salvador, será inabitável durante mais de 200 dias por ano. Inabitável porque o corpo ano precisa perder calor. Quando as temperaturas estão muito elevadas, não perdemos calor e atingimos o estresse térmico. 

Quais são as projeções para o aumento do nível do mar e os impactos disso para Salvador

O nível do mar cresceu muito nos últimos quatro anos, por conta do derretimento de gelo acelerado da Groelândia. Antes, se dizia que o nível do mar poderia subir, no máximo, um metro até o final deste século. Mas as projeções são de três a quatro metros. Com isso, 160 milhões de pessoas no mundo precisariam deixar o lugar onde vivem por conta do avanço do mar. 

Claro que não estamos falando em [mudanças] anos, mas de séculos. Mas os números são preocupantes. Em áreas que são muito planas, paisagens podem desaparecer. 

Um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) identificou características de clima árido no norte da Bahia pela primeira vez, em 2023. Quais são os efeitos disso? 

Os estudos mostram que o norte da Bahia se tornando semideserto é uma combinação do desmatamento da Caatinga e o aquecimento global do oceano Atlântico. O risco é muito grande. Se continuar a aquecer, 50% do semiárido vai virar semideserto, no mínimo. Se a temperatura chegar a 2,5ºC, em 2050, metade do Cerrado vai virar semiárido, o que é um grande risco. Até 2100, poderemos ver mudanças em todos os ecossistemas. 

Quais são os outros sinais de mudanças nos ecossistemas por conta do aquecimento global? 

Com a temperatura global chegando a 2,5ºC estamos caminhando para o que chamamos de ecocídio, que é o suicídio ecológico do planeta. Um dos dados do suicídio ecológico está acontecendo aqui na Bahia: os recifes de corais estão ficando branqueados em Abrolhos. Se a temperatura passar de 2,5ºC, todos os recifes de corais do mundo serão extintos. Também passamos do ponto de não-retorno da Amazônia, que será perdida pela metade em até 50 anos. 

Ainda é possível reverter esse cenário? 

O gás carbônico liberado permanece na atmosfera durante 150 anos. Não existe solução a curto prazo. Nós precisamos zerar logo as emissões de gases de efeito estufa.