Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Maysa Polcri
Publicado em 20 de outubro de 2023 às 05:00
A cada mês, Salvador consolida seu posto como um dos destinos mais procurados do Brasil. A taxa de ocupação dos hotéis da capital, que atingiu 90% na terceira semana de outubro, é um dos indicadores do momento positivo. Se em plena primavera a cidade está bombando, já imaginou no verão? Entre dezembro e março do ano que vem cerca de 3,4 milhões de pessoas devem passar por aqui, o que representa um aumento de 16% em relação ao mesmo período do ano passado.
A projeção da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult) indica que a canção de Moraes Moreira “Chame Gente” nunca fez tanto sentido. Depois da crise da pandemia que fez hotéis ficarem, em média, oito meses sem receber turistas, o verão de 2024 deve concretizar a retomada do setor. Diárias chegam a ficar 80% mais caras na capital durante o período.
Para demarcar a posição da capital baiana como destino desejado em todo o país, a prefeitura da cidade lançou o Festival Virada Salvador 2024 em um evento em São Paulo. A programação da festa de réveillon, que tradicionalmente ocorre na Boca do Rio, terá 12 horas ininterruptas de músicas e mais de 485 artistas entre os dias 28 de dezembro e 1º de janeiro. O prefeito Bruno Reis também anunciou o Viva Verão Salvador, encontro de grandes nomes da música nacional que acontecerá depois do Carnaval, mas que ainda não teve detalhes divulgados.
As divulgações realizadas no centro financeiro do país têm como objetivo atrair investimentos de patrocinadores que tornem as festas sustentáveis e visitantes, como explica Pedro Tourinho, secretário à frente da Secult. “Nosso esforço é para divulgar as programações o quanto antes. Assim as pessoas têm tempo para se programar, então estamos cada vez mais puxando para mais cedo esse trabalho que demanda muita articulação”, afirma.
Dizem que quem conhece Salvador não perde uma oportunidade para voltar à cidade. Esse é o caso do empresário Luiz Felipe Carvalho, de 25 anos, que mora em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Ele passou o Carnaval do ano passado na folia baiana e pretende retornar para a cidade em fevereiro. Enquanto a prefeitura divulga os atrativos para o verão, ele procura passagens para curtir a estação mais quente do ano em Salvador. “É uma cidade repleta de cultura, com lugares lindos e várias atrações para curtir”, diz o turista.
É na alta estação que a cidade recebe mais turistas e os setores que fazem parte da rede de comércio e serviços veem os negócios lucrarem. Enquanto que na baixa temporada os visitantes gastam, em média, R$700 por dia, no verão o ticket médio atinge R$1 mil, segundo Luciano Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis da Bahia (Abih-BA).
A procura maior reflete no preço das hospedagens e diárias que custam R$500 chegam a custar R$900 no período. “Nós tivemos o melhor setembro dos últimos dez anos em Salvador e a ocupação média dos hotéis ficou em 63%. Para o verão, nossa expectativa é que a taxa média seja de 80%”, projeta Luciano Lopes. No réveillon e no Carnaval, a expectativa é que os principais hotéis da cidade estejam totalmente ocupados.
Equipamentos culturais como os museus Cidade da Música e a Casa do Carnaval da Bahia, alinhados à requalificação do Centro Histórico e as atrações nacionais que se apresentarão na Virada Salvador engrossam o caldo de atrativos da capital baiana. “O réveillon de Salvador é forte e se firmou no mercado do turismo, atraindo muita gente. Temos boas perspectivas em relação à chegada de visitantes, mesmo no momento delicado da segurança pública”, analisa Glicério Lemos, presidente da empresa Salvador Destination e coordenador da Câmara Empresarial de Turismo da Fecomércio-BA.
O bom momento do turismo na capital ajuda a explicar o destaque da Bahia no setor. O estado teve o maior crescimento do turismo do país em agosto em comparação com o mês anterior. A alta foi de 13%, enquanto a média nacional ficou em 4,9%, de acordo com a Pesquisa Mensal de Serviços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O desempenho do turismo na Bahia nos oito primeiros meses do ano é o segundo maior do Brasil, com alta acumulada de 13%. O estado só perde para Minas Gerais, que registra alta de 17%
A Bahia, inclusive, aparece em 4º lugar em um levantamento feito pelo Itaú Unibanco, que aponta que o estado representa 7% das transações com cartão de crédito relacionadas ao turismo no Brasil. Segundo a instituição financeira, os gastos no setor cresceram 27% nos primeiros oito meses de 2023 em comparação com o mesmo período de 2022.
Para receber os turistas que partem de outros estados e até de fora do Brasil, a prefeitura de Salvador incentiva a criação de novos hotéis na capital. A previsão é de que as obras do hotel da rede de luxo Rosewood comecem ainda neste ano. O hotel boutique de 70 quartos funcionará no icônico Palácio Rio Branco, antiga sede do governo da Bahia, no Pelourinho.
“O acompanhamento das taxas de ocupação dos hotéis justifica os investimentos em novos hotéis em Salvador. Temos o antigo Pestana e o Othon que serão reativados. Além disso, as obras do hotel Rosewood começam em breve e o hotel Espinheira, no Convento do Carmo, já está em obras”, afirma o secretário de Cultura e Turismo Pedro Tourinho. Apesar de não haver prazo para que os hotéis comecem a funcionar, o intuito é que a rede hoteleira da capital seja ampliada para a alta temporada de 2025.
Parte do trade turístico, no entanto, acredita que esse não é momento ideal para atrair novas grandes redes de hotéis para Salvador. Glicério Lemos, presidente da Salvador Destination, defende que empreendimentos menores, como o que funcionará no Palácio Rio Branco são os ideais. “Para pensar em novos hotéis, é importante que os que já existem tenham ocupação de 90% anualmente. No momento em que estamos, de recuperação, não é interessante novos grandes hotéis”, analisa.
Glicério lembra ainda que muitos hotéis ainda arcam com empréstimos feitos durante a pandemia. “As empresas todas recorreram aos empréstimos bancários e são volumes altos de recursos que precisamos arcar”, afirma o presidente da Salvador Destination.