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Salvador e RMS tiveram cerca de 1,8 mil tiroteios em 2024

Em média, houve cinco ocorrências por dia, segundo levantamento do Instituto Fogo Cruzado

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 19 de fevereiro de 2025 às 05:10

Tiro atinge carro
Tiro atinge carro Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

A violência armada em Salvador e Região Metropolitana (RMS) não apresentou trégua em 2024. Durante o ano, foram registrados 1.795 tiroteios, gerando uma média de cinco ocorrências por dia, de acordo com o relatório anual do Instituto Fogo Cruzado. Dentre os tiroteios mapeados no ano, 77% deles fizeram vítimas. Ao todo, 1.725 pessoas foram baleadas, sendo que 1.380 morreram e 345 ficaram feridas.

Um dos principais alvos dessa violência foi a juventude. Segundo o relatório, 63 crianças e adolescentes morreram após serem atingidas por disparos de arma de fogo, sendo que, em dezembro, houve recorde de jovens mortos em apenas um mês, desde que o Instituto Fogo Cruzado iniciou o mapeamento na Bahia, em julho de 2022.

O entorno das escolas, ambiente que, via de regra, é mais frequentado por esses jovens, também foi palco de 20% dos tiroteios registrados em Salvador e RMS. O total de 327 escolas foram afetadas e 349 pessoas foram baleadas nessas áreas. Em pesquisa específica do Fogo Cruzado com a Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas, ficou constatado que 46% dos tiroteios registrados em um raio de até 300 metros de escolas, entre 6h e 22h, foram motivados por ações ou operações policiais.

Para Dudu Ribeiro, cofundador e diretor-executivo da Iniciativa Negra e integrante da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia, é sintomático que as escolas públicas sejam as mais afetadas pela violência, uma vez que outros indicadores reforçam que as principais vítimas de violência na Bahia e no Brasil são pessoas jovens, negras, moradoras de periferia e homens com nível de escolaridade reduzido.

Ele destaca que a escola deve ter prioridade na segurança e que, para isso acontecer, as polícias precisarão repensar o modo de ação. “Quanto mais tempo os jovens ficam na escola, mais tempo de prolongamento da vida eles terão. Então, ela deve ser um lugar prioritário de proteção da vida como política de segurança pública. [...] Por isso, é necessário que reconheçamos a necessidade de criação de protocolos especiais para a atuação da polícia em áreas escolares”, diz.

Os protocolos, como já tinha sido explicado por Dudu em entrevista ao CORREIO em novembro do ano passado, não visam limitar a ação policial, mas garantir que a escola seja um local de proteção e evitar a exposição de crianças e adolescentes à violência armada, bem como à insegurança ao redor e no ambiente escolar, que atingiu 161 dos 200 dias letivos da rede pública baiana.

38% dos tiroteios ocorreram durante ações policiais

As ações e operações das polícias baianas não apenas vitimaram pessoas no entorno das escolas, como também se estenderam a outras áreas das cidades baianas. A prova disso é que 38% dos tiroteios mapeados ao longo do ano aconteceram durante a atuação dos agentes de segurança do estado – o equivalente a 681 casos. Em média, a cada três tiroteios mapeados em 2024, um ocorreu com a participação policial.

Ao total, 630 pessoas foram atingidas por disparos feitos pela polícia. Isso representa 46% das pessoas que foram baleadas em Salvador e RMS no ano passado. Nessas circunstâncias, 514 pessoas morreram e 166 ficaram feridas. Em relação a 2023, a quantidade de tiroteios e de pessoas atingidas no último ano cresceu 1%.

Naquele ano, foram computados 1.804 tiroteios, uma média de cinco por dia. Do total, 37% ocorreram durante ações e operações policiais, somando 659 casos. Destes 639, 45% dos baleados foram atingidos, sendo que 529 morreram e 110 ficaram feridos.

Dudu Ribeiro analisa que o crescimento de 1% nas ocorrências de tiroteios desencadeados por operações policiais evidencia que as polícias não têm mudado a metodologia de combate ao crime. “Temos que reconhecer que as polícias continuam sendo uma grande parte do problema da segurança pública. Reconhecer que mais de um terço dos tiroteios são provocados em ações policiais deveria exigir que o Estado adotasse protocolos que revissem esse quadro e não movimentações que incentivam o confronto”, defende.

Ele aponta que as políticas de incentivo ao confronto, à ocupação de territórios negros e periféricos, e ao uso do armamento não só expõe a população como um todo, como também não reduz o índice de criminalidade das cidades e ainda provoca a exposição de agentes de segurança, que colocam a vida e a saúde em risco

Salvador lidera ranking da violência armada

Entre os municípios que fazem parte da região metropolitana, Salvador foi o mais impactado pela violência armada, concentrando 1.335 (74%) tiroteios, 949 (49%) mortos e 279 (81%) feridos mapeados em 2024. Em seguida, aparecem Camaçari, com 179 tiroteios, 170 mortos e 23 feridos; e Lauro de Freitas, com 71 tiroteios, 63 mortos e 14 feridos.

Por ser líder de violência armada, os bairros de Salvador foram os mais impactados por episódios com vítimas atingidas por arma de fogo. Os mais afetados foram Pernambués, Fazenda Grande do Retiro e Beiru/Tancredo Neves. Eles também foram os bairros mais afetados no ano passado.

Dudu Ribeiro enfatiza que esses bairros não são bairros violentos, mas sim espaços violentados, seja pela presença excessiva doestado, pelo ataque de grupos armados ou pela falta de investimento público para a saída do quadro de violência.

Confira os cinco bairros, em Salvador e RMS, mais afetados pela violência armada em 2024:

1) Pernambués: 47 tiroteios, 30 mortos e 2 feridos

2) Fazenda Grande do Retiro: 36 tiroteios, 31 mortos e 7 feridos

3) Beiru/Tancredo Neves: 36 tiroteios, 26 mortos e 12 feridos

4) Lobato: 36 tiroteios, 25 mortos e 9 feridos

5) Valéria: 33 tiroteios, 23 mortos e 7 feridos