Saiba quais são e como evitar as principais causas de endividamento das empresas

Especialistas analisam cenário de inadimplência na Bahia, que tem mais de 300 mil empresas no vermelho

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  • Larissa Almeida

Publicado em 26 de junho de 2024 às 06:00

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Setor financeiro Crédito: Pexels

Na Bahia, mais de 300 mil empresas estão inadimplentes, segundo os dados mais recentes do Indicador de Inadimplência das Empresas da Serasa Experian, divulgados em março deste ano. Entre os fatores para esse cenário, é destaque a falta de planejamento financeiro, problema que afeta a gestão de inúmeros negócios e pode até mesmo deixá-los sob risco de fechar.

Adriana Pereira, analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), afirma que o primeiro sintoma do endividamento ocorre quando o empresário recorre ao dinheiro que sobrou no caixa para fazer investimento ou retirada para uso pessoal, uma vez que o valor seria fundamental para pagar um compromisso da empresa mais adiante.

“Ele acaba usando o dinheiro que já estava teoricamente comprometido, mas como não tem o planejamento financeiro, ele não enxerga o problema nisso, não considera a sazonalidade, o período de baixa das vendas, não faz reserva de emergência, calcula mal o mercado”, aponta.

Além da falta de planejamento, a má gestão do negócio é outra chave para o endividamento. São exemplos disso o fornecimento de prazo de pagamentos para clientes menor do que os prazos a serem cumpridos com os fornecedores, a compra errada de estoque – que faz com que o dinheiro fique estagnado porque não há vendas e a falta de conhecimento sobre o próprio negócio.

“Quando o empresário se endivida, porque não tem uma noção clara de como é que está o fluxo financeiro do seu negócio, ele não tem uma clareza de quanto tem a pagar e do que tem a receber. A falta dessa clareza faz com que ele tome decisões no dia a dia que, a médio e longo prazo, vão impactar no caixa da empresa e levá-la para um processo de endividamento. [...] A empresa vai perdendo fluxo de caixa e, em determinado momento, o empresário vai perceber que ele não consegue pagar as contas, vai tomar um empréstimo no banco, depois o segundo, e vai gerando o processo de endividamento. Esse cenário vai fazer com que a empresa em algum momento estrangule.”, detalha o economista Edisio Freire.

Um terceiro fator que contribui para a inadimplência das empresas diz respeito ao cenário econômico. De acordo com Guilherme Dietze, consultor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), os custos das empresas aumentaram ao longo dos últimos anos, de modo que as vendas e faturamento não necessariamente representam lucro.

“Pode ser que muitas dessas empresas estejam faturando mais, mas com prejuízo, porque o valor da compra com o fornecedor aumentou, o empresário em que pagar mais caro aluguel do imóvel, tem que pagar funcionário e equipamento, e fazer mais investimento. Então, houve um processo muito difícil de aumento de custo para as empresas”, pontua.

Ele ainda acrescenta que os juros elevados também desempenharam papel desfavoráveis às empresas. “Nós tivemos uma taxa de juros muito elevada até o meado do ano passado, de quase 14%. Começou um ciclo de queda a partir de agosto, mas o custo financeiro do crédito também ficou caro. Evidentemente, nesse período teve aumento importante da inflação no final do ano passado e início desse ano, dificultando um pouco as vendas, que agora começaram a melhorar. Então, não está sendo fácil. Por mais que alguns dados sejam positivos, não representam necessariamente o dia a dia das empresas”, enfatiza.

Para as empresas que já se encontram no vermelho, a analista Adriana Pereira recomenda que a gestão financeira trace todas as dívidas, calculem as taxas de juros, calcular o tempo para quitação do débito e priorizar o pagamento dos fornecedores, bem como os compromissos que têm taxas de juros mais altas. “Se for o caso, fazer portabilidade de dívidas de um banco para outro que tenha taxas de juros mais baixas e, antes de mais nada, fazer um planejamento financeiro que cabe no orçamento”, aconselha.

Caso a empresa não veja possibilidade alguma de honrar as obrigações financeiras, o administrador de empresa, consultor de gestão empresarial e sócio fundador da ARCOS Consultoria, Danhil Medeiros, explica que uma alternativa é a renegociação. Segundo ele, os empresários devem chamar os credores e renegociarem os pagamentos. No entanto, isso deve ser feito com cautela. “Antes de tentar uma renegociação, deve-se fazer uma análise de quanto está devendo e quais instituições ou empresas poderão atender, com mais vantagens, ao seu pedido de negociação”, ressalta.

Danhil Medeiros Crédito: Acervo pessoal

Em meio ao processo de negociação, o empresário também precisa promover mudanças na empresa para que ela não caia na inadimplência novamente. Sendo assim, de acordo com o também administrador de empresa, consultor de gestão empresarial e sócio fundador da ARCOS Consultoria, Alexandre Bouzas, “o gestor deve planejar o futuro do negócio e colocar na balança já os possíveis desafios e oportunidades que podem surgir para evitar contratempos financeiros”, finaliza.

Confira dicas para não deixar sua empresa entrar no vermelho, segundo a ARCOS Consultoria:

1. Fazer um planejamento financeiro detalhado tendo um orçamento claro, acompanhando de perto todas as despesas e receitas da empresa.

2. Controlar rigorosamente o fluxo de caixa garantindo que haja dinheiro suficiente para cobrir todas as despesas.

3. Identificar e eliminar gastos supérfluos que não contribuem para o crescimento do negócio.

4. Negociar prazos de pagamento mais favoráveis com fornecedores e parceiros comerciais.

5. Diversificar as fontes de receita, não dependendo apenas de um cliente ou de um produto/serviço.

6. Manter um bom relacionamento com os clientes, uma vez que clientes satisfeitos tendem a comprar mais e com mais frequência, ajudando a manter o fluxo de caixa sempre positivo.

7. Estar sempre atento ao mercado, acompanhando de perto as tendências e ajustando a estratégia de negócios conforme necessário.

8. Investir em marketing e vendas, que pode ajudar a impulsionar as vendas e aumentar a receita da empresa.

9. Manter uma reserva de emergência para lidar com possíveis imprevistos, como crises econômicas ou problemas operacionais.

10. Consultar regularmente um consultor financeiro, pois o profissional qualificado ajudará a manter as finanças da empresa em ord

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro