Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Maysa Polcri
Publicado em 31 de outubro de 2023 às 06:00
Procuradas por baianos de todas as regiões do estado, cinco cidades vão contra a tendência de envelhecimento populacional e têm as menores proporções de idosos da Bahia. São elas: Luís Eduardo Magalhães, Porto Seguro, Ibicoara, Rodelas e Cairu. Mas o que explica municípios de extremos geográficos diferentes terem tão poucos idosos entre a população? A reportagem conversou com moradores e especialistas para revelar os segredos das cidades mais jovens da Bahia.
No extremo-oeste baiano, Luís Eduardo Magalhães tem apenas 11,8 pessoas acima dos 65 anos para cada 100 crianças de até 14 anos - a menor proporção de idosos do estado. A informação foi revelada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através do Censo 2022. Grande parte dos moradores veio de fora da cidade em busca de oportunidades de emprego.
A partir da década de 60, o bioma do cerrado foi alvo de políticas de estímulo à exploração econômica através, principalmente, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O avanço tecnológico do agronegócio favoreceu a ocupação e fez cidades do oeste da Bahia crescerem de forma acelerada. Em Luís Eduardo Magalhães, a população aumentou em 79%, entre 2010 e 2022, chegando aos 107,9 mil habitantes.
Os postos de trabalho serviram de imã para novos moradores, especialmente os jovens adultos, que se mudam para a cidade em idade reprodutiva. “Não há dúvidas de que a cidade do agronegócio, com forte atividade econômica, atraiu migrantes jovens que, normalmente, têm filhos”, analisa Clímaco Dias, geógrafo e professor do departamento de Geografia da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Mas não é só o agronegócio que tem capacidade de atrair vizinhos. Jefferson Fellipe Pinheiro, de 31 anos, se mudou há pouco mais de um ano depois que passou em um concurso para ser atendente do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) na cidade. O processo seletivo até tinha postos de trabalho em Barreiras, sua cidade natal, mas ele preferiu se mudar para o município localizado a 90 quilômetros de distância.
“Considero aqui um grande e sofisticado polo industrial e agrônomo com grande potencial de geração de renda. Por isso decidi me mudar, almejando capacitação profissional e oportunidade de emprego”, afirma Jefferson Felipe.
No extremo-sul do estado, Porto Seguro aparece como a segunda cidade menos envelhecida da Bahia. Lá, são 24,8 idosos para cada 100 crianças, de acordo com o IBGE. Para o professor e geógrafo Clímaco Dias, as oportunidades de trabalho no turismo é o que atrai pessoas de fora. Por isso, Cairu, onde Morro de São Paulo está localizado, aparece como a quinta cidade menos envelhecida da Bahia, com 28 idosos a cada 100 crianças.
Esse foi o caso de Daniel Isidório, de 59 anos. Natural de Salvador, ele passou parte da vida em São Paulo, até que retornou para o estado de origem, mas não para a capital. Há 30 anos ele trabalha com passeios turísticos em Porto Seguro. O filho mais novo, de 25 anos, segue os passos do pai e trabalha no mesmo ramo.
“Muitos jovens que se formam não tem muita opção de trabalho além do turismo e comércio, ou se tornar funcionário público”, afirma Daniel. Para ele, a chegada de novos moradores também está ligada às oportunidades de estudo. O campus da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e do Instituto Federal da Bahia (IFBA) são chamariz para universitários de outras regiões.
Daniel Isidório analisa ainda que a cidade não oferece estruturas adequadas para o envelhecimento da população. "É uma cidade de praia, o que é bom para pessoas de idade, mas falta saúde de qualidade. O idoso que não tem condições tem muita dificuldade para ser atendido porque falta médicos e remédios", reclama.
Acompanham Luís Eduardo Magalhães e Porto Seguro na lista de cidades menos envelhecidas os municípios de Ibicoara (centro-sul) e Rodelas (norte). Para Clímaco Dias, a migração para essas cidades pode ser explicada pela produção de café e de coco, respectivamente.
“Em Rodelas há um fenômeno que não é acompanhado pelo resto da região. A atividade do coco ganhou proporção e, provavelmente, atraiu uma população mais jovem”, pontua. “Em Ibicoara, acredito que tenha relação com a produção de cafés finos. Mas o que vemos são movimentos populacionais muitos localizados porque os municípios das regiões mais próximas registram queda da população jovem”, analisa Clímaco Dias.