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Saiba o que faz de Rio Real o maior produtor de laranja da Bahia

Cidade situada no Litoral Norte é responsável por 41,2% da produção do estado

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 26 de novembro de 2024 às 06:23

Laranja
Laranja Crédito: Senar/Divulgação

No Litoral Norte da Bahia, a apenas 2h45min de distância de Sergipe pela estrada, a cidade de Rio Real pouco se destaca diante da infinidade de terra e área verde comum a região. Contudo, a curiosidade – ou a mera intuição – fez daquele pedaço de chão a morada de pouco mais de 35 mil habitantes, que não apenas povoaram o local, como o transformaram no maior produtor de laranja do estado. Só em 2023, o município produziu 251.430 toneladas da commodity (equivalente a 41,2% da produção baiana) e movimentou cerca de R$ 156,5 milhões na economia do estado, segundo dados da Produção Agrícola Municipal (PAM), levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Fundada em 1880, Rio Real só passou a ser chamada pelo atual nome em 1931, mas sempre teve a agricultura como uma das maiores – por vezes a maior – forças econômicas da cidade. A posição de líder quanto ao cultivo da laranja se consolidou ainda mais quando a região de Cruz das Almas, que detinha a soberania quando o assunto era a citricultura, sobretudo no Recôncavo Sul da Bahia, teve declínio na produção. Isso ocorreu, dentre outras razões, pelas modificações climáticas.

“Rio Real tem uma altitude acima de 250 metros e constância de chuvas durante o inverno. Entre abril e agosto chove bastante, o que faz com que haja produtividade. A cidade se tornou uma região importante na citricultura, porque migrou da região de Cruz das Almas e Sapeaçu, que passaram a ter veranicos (épocas sem chuvas) maiores, implicando na diminuição da produtividade”, explica José Márcio Carôso, coordenador de programas do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), entidade vinculada à Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb).

Concorrência parada no tempo

Além dos fatores climáticos, a falta de tecnificação foi outro entrave que contribuiu para a perda do domínio da região de Cruz das Almas no que tange à citricultura. Isso ocorreu há pouco mais de uma década, justamente quando Rio Real e Inhambupe, que juntos despontam como grandes forças da citricultura, apresentaram um novo modelo de produção.

“É bem possível que os produtores de Cruz das Almas não tenham tido a oportunidade de incrementar a tecnologia que a região de Rio Real procurou, de renovar os pomares com plantas mais produtivas e mais resistentes em relação às pragas e ao solo. Rio Real chegou com um modelo mais inovador, com um manejo da planta diferenciado, inclusive nos processos de irrigação”, pontua Humberto Miranda, presidente da Faeb.

A eficiência do novo frente ao antigo modelo de produção ficou evidenciada quando a citricultura baiana viveu, há cerca de uma década, a crise desencadeada pela mosca-negra-dos-citros, um fungo que causa fumagina, uma doença que deixa a folha da planta preta, o que atrapalha a luminosidade e, consequentemente, a fotossíntese, levando a planta até a morte.

Segundo Assis Pinheiro, engenheiro agrônomo e diretor de Agricultura da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri), a região de Rio Real conseguiu combater a praga, enquanto a região de Cruz das Almas padeceu por falta de pessoas para assumirem o desafio.

“A tecnificação do Litoral Norte não existiu, nem existe no Recôncavo porque são pessoas já idosas que têm as propriedades com produção de laranja. Essas pessoas não estão conseguindo passar as propriedades para os netos e para os filhos tomarem conta, então eles estão baixando muito a produção e a tecnificação. Há uma crise na sucessão familiar e o que temos lá é o abandono da laranja”, constata Assis Pinheiro.

Incentivo externo

Somado ao clima com disponibilidade regular e grande insolação, Rodrigo Anunciação, que é coordenador das pesquisas agropecuárias do IBGE na Bahia, acredita que a liderança de Rio Real na produção de laranja se deve também a motivações externas, como a vinda de esmagadoras de laranja para a região.

“O preço favorável atraiu novos produtores, além da instalação e expansão da Maratá Citricultura, que tem propriedades com área e produção extremamente relevantes. Além de produzirem muito, [as esmagadoras] adquirem laranjas dos produtores locais o ano inteiro”, aponta.

Outro fator que tem impulsionado a citricultura em Rio Real é a presença da praga greening – também conhecida como Amarelão dos Citros – nas produções de laranja de São Paulo e Minas Gerais, que historicamente são os estados com maior produção da fruta no país. Com as plantações comprometidas, muitos produtores desses estados têm optado por migrar para a cidade baiana.

O maior impacto desse movimento migratório tem sido nos preços, já que, quando os estados não conseguem suprir a demanda, o fruto baiano tem o valor elevado. Para aqueles envolvidos na cadeia da laranja, há ainda a sensação de sorte, uma vez que a praga ainda não chegou na Bahia. Na perspectiva de Rodrigo Anunciação, no entanto, isso se deve à atuação da defesa sanitária no estado e à forma de produção da fruta.

“Os estabelecimentos que produzem laranja em nosso estado são majoritariamente compostos por agricultores familiares. Com áreas menores e uma empresa grande que está sempre adquirindo a produção, os citricultores tendem a zelar mais pelas suas áreas com o intuito de manter as plantas minimamente saudáveis e produzindo a contento”, finaliza.