Preço da batata sobe 40% e assusta soteropolitanos; entenda o que aconteceu

Alimento pressiona a inflação de junho, segundo o IBGE

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  • Maysa Polcri

Publicado em 5 de julho de 2024 às 05:00

Nos últimos 12 meses, a inflação acumulada é de 58%
Nos últimos 12 meses, a inflação acumulada é de 58% Crédito: Shutterstock

A batata-inglesa é o produto que acumula a maior alta de preço entre todos os alimentos analisados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15). Segundo o levantamento, que é uma prévia da inflação do mês de junho, a batata registrou aumento de 39,82% em um mês na Região Metropolitana de Salvador. Nos últimos 12 meses, a inflação acumulada é de 58% para o item.

O preço mais alto é resultado do aumento da procura pela batata-inglesa em todo o país. As enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul (RS), em abril deste ano, causaram prejuízos nas plantações. Os olhos dos compradores, então, se voltaram para o interior da Bahia, que passou a suprir um mercado ainda maior.

Apesar do aumento em junho ser de cerca de 40 % nas prateleiras, o valor pode pesar ainda mais no bolso do consumidor. O boletim de preços da Ceasa de Salvador, que mede os preços de atacado através da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) da Bahia, aponta que a saca de 50 quilos da batata comum custava R$ 300, no sábado (1º). Dois meses antes, em 3 de maio, a mesma quantidade custava R$120. O aumento foi de 150%.

“É uma questão de equilíbrio de mercado. Se um grande ofertante sai do mercado, os agentes demandantes vão procurar em outros mercados e o preço fica pressionado para cima. No Rio Grande do Sul, as dificuldades de plantação causaram impacto nacional. Minas Gerais também sofreu com o regime de chuvas”, diz Denilson Lima, economista da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI). A alta acumulada do grupo de alimentos e bebidas medido pelo IPCA -15 ficou em 35% nos últimos 12 meses. 

No estado gaúcho, a expectativa era que 530 mil toneladas de batata-inglesa fossem produzidas neste ano. Os produtores, no entanto, já confirmaram perda de 51 mil toneladas do alimento, o que representa 9,6% do total esperado. As informações são da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS).

Luis Bohn, gerente adjunto da Emater, explica que as chuvas extremas prejudicaram o final da colheita. "Não vejo a perda de 9% como algo perturbador no mercado. É provável que perdas por chuvas anteriores tenham causado impacto na produção ao longo do ano", pontua.

A situação é semelhante ao que ocorreu com às plantações de uva no Rio Grande do Sul, que já vinha sendo impactado pelas chuvas intensas. A tragédia de abril, no entanto, dificultou ainda mais a produção. Em maio, havia relato de falta de vinhos em estabelecimentos de Salvador. 

Além de atender um mercado interno maior, os produtores brasileiros estão mais requisitados fora do país. Isso porque as plantações de outros países da América do Sul também foram prejudicadas pelos extremos climáticos. Quem explica é o diretor de agricultura da Seagri Assis Pinheiro.

“Peru e Equador, que são grandes produtores de batata, tiveram as safras prejudicadas pelo El Niño, que causou aumento das chuvas. Assim, o Brasil conseguiu entrar no mercado de exportação para os Estados Unidos e Europa, o que reduziu ainda mais a oferta interna”, ressalta. A expectativa é que as safras sejam regularizadas a partir dos próximos meses nas plantações gaúchas e mineiras.

Na Bahia, a produção é concentrada nas cidades de Mucugê e Ibicoara, na Chapada Diamantina. O estado chegou a ultrapassar o Rio Grande do Sul na produção do alimento em 2020, quando ocupou a quarta posição entre os maiores produtores do país.

Foram colhidas 390,7 mil toneladas do tubérculo naquele ano, segundo a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia (Seagri). A produção interna do estado, no entanto, não é suficiente para suprir a demanda interna. Os produtos vendidos no estado são importados de estados como Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais.

Somente em maio deste ano, a Bahia produziu 111,33 mil toneladas do alimento, ocupando a sexta posição no ranking nacional. Minas Gerais aparece em primeiro lugar (410 mil), seguido de Rio Grande do Sul (397 mil), Paraná (393 mil), São Paulo (288 mil) e Santa Catarina (148 mil). 

Além da batata inglesa, a batata doce também tem pressionado a inflação. O IPCA - 15 de junho indica que a variação no último ano foi de 40%. Em comparação com o ano anterior, no entanto, o aumento foi tímido: 2,6%. José de Jesus Vieira produz batata doce em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. O quilo do produto vendido por ele subiu para R$6. No mês passado, custava R$4.

O produtor notou ainda o aumento da procura. “O preço do adubo que usamos na plantação subiu bastante, acredito que seja por causa da alta do dólar. Além disso, a procura está maior. Trouxe 20 quilos para a feira hoje pela manhã e vendi em pouquíssimo tempo”, diz. O início do inverno, que aumenta a incidência de chuvas na Bahia, também atrapalha a produção.