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Larissa Almeida
Publicado em 13 de junho de 2024 às 05:45
Começa com dor nos nervos, formigamentos, sensação de agulhadas, pressão e adormecimento. Em alguns casos, causa ardor, coceira local, mal-estar, dor de cabeça e febre. Dias depois, diante do espelho, uma lesão vermelha com bolhinhas de água é o indicativo final de que algo está mesmo errado. sses são os sinais do herpes-zoster, doença provocada pelo vírus Varicela Zoster, causador da catapora. >
A doença, que causou 155 internações na Bahia em 2023, não tem cura, mas pode ser prevenida por meio de vacina. De acordo com o Ministério da Saúde, o herpes-zóster, que também é conhecido como cobreiro, se manifesta quando o vírus adormecido da pessoa com catapora é reativado. Essa reativação, via de regra, ocorre na idade adulta, sobretudo em pessoas com mais de 50 anos, ou em pessoas com comprometimento imunológico, como os portadores de doenças crônicas (hipertensão e diabetes), câncer, Aids, transplantados e outras. >
De maneira excepcional, há pacientes que desenvolvem herpes-zóster após contato com doentes de varicela e, até mesmo, com outro doente de zóster, o que indica a possibilidade de uma reinfecção em paciente já previamente imunizado. É também possível uma criança adquirir varicela por contato com doente de zóster. >
De acordo com Claudilson Bastos, infectologista e consultor técnico do Sabin Diagnóstico e Saúde, a evolução da doença se divide em fases. “Tem a fase prodrômica, antes do aparecimento das lesões, com dor de cabeça, mal-estar, sensações anormais na pele, dor e febre. Depois, a fase aguda, com vesículas (bolhinhas com líquido) em um lado do corpo e com dor, que pode evoluir para neuralgia pós herpética (dor em queimação, ardência, agulhada ou choque), com dores persistentes por tempo indeterminado”, aponta. >
No caso do psicólogo Rodrigo Varela, 37 anos, a doença não chegou a evoluir para neuralgia. “Começou com manchas, dores e, depois que iniciei o tratamento, passou. Eu estava vivendo um período de estresse. Estava na universidade, na época. Procurei um dermatologista, que diagnosticou como herpes-zóster. Não lembro qual foi o tratamento indicado, pois tem quase 15 anos isso, mas não tive complicações”, relata. >
Com a funcionária doméstica Vera Lúcia Pereira, de 58 anos, os sintomas da doença seguiram o quadro típico. Primeiro, ela sentiu algumas dores dias antes das primeiras bolhinhas aparecerem nas costas. “Apareceu um calombo que me incomodou e, depois, vieram as bolhinhas de água que incomodavam e doíam muito. Era muito ruim. Na hora de dormir, eu tentava deitar e incomodava. Na época, lembro que eu tinha passado por um estresse por conta de uma viagem. Estava muito ansiosa e acho que isso tenha contribuído para baixar minha imunidade”, conta. >
Segundo o Ministério da Saúde, o herpes-zóster leva de dois a quatro dias para se estabelecer. Quando não ocorre infecção secundária, as bolhinhas dissecam, formam crostas e o quadro evolui para o desaparecimento em um período de duas a quatro semanas. No entanto, nem sempre as vesículas somem sem deixar sequelas. Em pacientes imunodeprimidos, ou seja, que fizeram transplante e tomam imunossupressores, as bolhas surgem em localizações atípicas e, disseminadas, podem gerar complicações. >
O envolvimento do nervo facial (o sétimo par craniano), ou seja, de nervos que fazem conexão com o cérebro, leva à combinação de paralisia facial periférica e rash (lesão) no pavilhão auditivo, denominada síndrome de Hawsay-Hurt, com prognóstico de recuperação pouco provável. O acometimento do nervo facial (paralisia de Bell) apresenta a característica de distorção da face. Já lesões na ponta e asa do nariz sugerem envolvimento do ramo oftálmico do trigêmeo (uma das três divisões do nervo trigêmeo, que é o quinto nervo craniano), com possível comprometimento ocular. >
No quadro típico, as bolhinhas com água costumam seguir o trajeto de um nervo. Desse modo, as lesões podem aparecer em qualquer lugar do corpo, mas, em geral, surgem na região do tórax, da lombar e cervical, com o diferencial de sempre ocuparem apenas um dos lados, sem jamais ultrapassar a linha média que divide o lado esquerdo e direito do corpo. >
A arquiteta e urbanista Karine Alves, 25 anos, teve vesículas no lado direito da testa após o aparecimento de um pequeno caroço nas costas, que coçava. “Depois, começaram a multiplicar os carocinhos já com água, que começaram a migrar para a frente do corpo, debaixo do peito, com bastante queimação, a ponto de eu não poder vestir a roupa. Procurei um médico, que disse que se tratava do herpes-zóster e que poderia ser estresse. Ele mesmo preparou uma mistura de pomada. Fiquei passando, até que melhorou. De complicação, somente tive queimação e fiquei com manchas na região”, detalha. >
Sem cura, o herpes-zóster, de modo geral, tem tratamento com drogas antivirais e também pode ser prevenido. “A forma mais eficaz de prevenção é a vacina recombinante a partir dos 50 anos e a partir dos 18 anos para pessoas com risco elevado de desenvolver a doença. Esta vacina ainda só se encontra em clínicas privadas e o custo é considerado alto, mas vale ressaltar que o custo do internamento e de perda de qualidade de vida é significativamente maior que o preço da vacina”, finaliza o infectologista Claudilson Bastos. >
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro >