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Saiba de onde vem o peixe consumido pelos baianos na Semana Santa

Fornecedores vão do Sul ao Norte do país; baixa quantidade de pescado produzida faz Bahia perder espaço

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 20 de março de 2024 às 07:15

Peixes são trazidos do Nordeste, Sul, Norte e Sudeste do Brasil Crédito: Marina Silva/CORREIO

A fartura de peixes nos boxes do Mercado de Água de Meninos, no Comércio, é de longe o principal indicativo da preparação dos permissionários para abastecer os baianos que vão atrás das iguarias para as comemorações da Semana Santa. Nos mais de 20 boxes, é possível encontrar todo tipo de peixe: vermelho, cabeçudo, corvina, pescada-amarela, arraia. E, assim como há variedades de espécies, a origem delas são das mais distintas, perpassando o Pará, no Norte do Brasil, a Santa Catarina, no Sul do país.

Apesar da diversidade, os peixes mais procurados para consumo na Semana Santa eram a corvina, vermelho, pescada-amarela e badejo. No boxe 12 do mercado, o permissionário Eder Fernando, de 40 anos, exibia para quem passava os exemplares vindos de Vitória, no Espírito Santo, Fortaleza, no Ceará e de Belém, no Pará. “Não compro os peixes lá por questão de escolha, é que aqui na Bahia não existe essa diversidade toda. Nós só produzimos muito robalo, cabeçudo, olho-de-boi e guaricema. Então, de Vitória eu trago muito peixe vermelho e pescada-amarela. De Fortaleza, caçonete, beijupirá e arraia”, diz.

Eder Fernando Crédito: Marina Silva/CORREIO

Há 14 anos atuando como permissionária no local, Mahatma Santos, 33 anos, só vende peixes vindos do Pará. Segundo ela, a escolha da origem do fornecedor se dá por conta do custo-benefício e pela busca por diversidade. “Compro do Pará porque a quantidade de peixes que vem é maior. Além disso, aqui também não tem tanta variedade”, queixa-se.

No boxe de Antônio Silva, 54 anos, a oferta de peixes é grande para agradar todos os gostos. Lá, tilápia, badejo, pescada-amarela, robalo, beijupirá, cavala, corvina, arraia e camarão são mercadorias certas de serem encontradas – e cada uma delas vem de um canto. “Meus peixes vêm de todo lugar. Peixe vermelho, budião-azul, garoupa e badejo vêm de Valença, no Litoral Sul, Porto Seguro e Alcobaça, no Extremo-Sul do estado. Da Linha Verde, compro vermelho e arraia. E do Pará, trago pescada-amarela e corvina”, relata.

Já na peixaria Sol & Mar, localizada no início da Ladeira da Água Brusca, além da corvina, robalo e pescada-amarela, a guaricema e atum também estavam na lista dos peixes mais procurados. “A corvina e a guaricema geralmente vêm lá do Sul, especificamente de Santa Catarina. Também vem do Rio de Janeiro, no Sudeste. Mas, principalmente, o Porto de Itajaí, em Santa Catarina, é um grande fornecedor de peixe para a Bahia”, aponta o proprietário do estabelecimento Cezar Santana, de 60 anos.

Pouca quantidade dos peixes preferidos dos baianos

Na Bahia, a escassa quantidade dos peixes mais procurados pelos baianos para a Semana Santa é explicada pelo biólogo, pescador e assessor técnico da Bahia Pesca Roberto Pantaleão como reflexo das características naturais do litoral baiano. “A gente chega a ouvir muito frequentemente que a Bahia poderia ser a maior produtora de pescado do Brasil [porque] tem o maior litoral. Na verdade, a plataforma continental da Bahia é estreita”, afirma ele durante a palestra ‘A excelência do peixe baiano e seus desafios’, na feira gastronômica Origem Week, realizada na última semana.

“A produção pesqueira mundial nos oceanos fica muito concentrada nessas zonas da plataforma continental. No nosso caso, ela é bem estreita. Para se ter ideia, em Santa Catarina a plataforma continental chega a ter quase 100 milhas e vai quase em torno de 200 km. Aqui, em Itapuã, ela tem seis milhas. É uma diferença muito grande”, constata.

Como característica da plataforma estreita, está o fundo rochoso dos oceanos, o que faz com que a locação pesqueira seja predominantemente artesanal. “Todo pescado recifal é capturado de um em um. É diferente de uma embarcação industrial em Santa Catarina, onde uma rede é lançada uma rede e arrasta rede no fundo, conseguindo pegar grandes quantidades de peixe. Aqui não tem como fazer isso porque os peixes recifais moram nas pedras”, explica o especialista.

Embora os peixeiros reclamem da pouca variedade dos peixes escolhidos para compor a mesa na Sexta-Feira da Paixão, Roberto Pantaleão defende que há diversidade de espécies no litoral baiano – de modo que o grande impedimento para que o estado se consolide como um fornecedor para os peixeiros e peixeiras seja a falta de abundância. Entre as espécies apresentadas pelo biólogo e pescador na palestra, estão o badejo, vermelho, cabeçudo, olho-de-boi, guaiuba, cioba, cavala e guaricema.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro