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Raquel Brito
Publicado em 13 de junho de 2024 às 05:00
Na tarde de terça-feira (11), o taxista Regivaldo dos Santos Santana, de 51 anos, foi morto a facadas por um colega de profissão. O crime aconteceu devido a um desentendimento por uma vaga no ponto de táxi em que trabalha, no Itaigara. O suspeito teria furado a fila e Regivaldo, que seria o próximo, não gostou e reclamou. Mais de um mês após a briga, ele foi surpreendido pelo colega enquanto almoçava dentro do carro.
O caso levanta a dúvida sobre como funciona a organização das filas em pontos de táxi de Salvador. Na capital baiana, os pontos de táxi são regulamentados e implementados pela Secretaria Municipal De Mobilidade (Semob).
De acordo com a pasta, esses pontos são de livre utilização para os táxis cadastrados pela secretaria. Os taxistas devem se estabelecer por ordem de chegada para estacionar e aguardar o passageiro, sempre respeitando o quantitativo de vagas indicados pela placa e a sinalização da via.
Segundo a Semob, os pontos mais buscados pelos taxistas são a Avenida da França, no Comércio (Travessia Salvador x Mar Grande), Aeroporto, Rodoviária e Ferry Boat, além dos que ficam próximos de shoppings ou pontos turísticos, como na Barra e Centro Histórico.
Para organizar os veículos no limite de vagas estabelecidos pela placa de cada ponto, o esquema não é feito de forma oficial, mas sim pelos próprios taxistas nos pontos onde trabalham. Quem explica é o presidente da Associação Geral dos Taxistas (AGT), Denis Paim.
Funciona assim: os taxistas que rodam sempre pelo Campo Grande, por exemplo, se juntam e se organizam para preencher a fila dessa região. Hoje, esse planejamento é feito principalmente via grupos de WhatsApp. Quando o motorista que ocupa a vaga pega um passageiro, eles enviam no grupo uma mensagem para que o próximo do estoque (a fila de espera), ocupe seu lugar no ponto.
Cada grupo tem as suas regras. No caso da comunidade do Itaigara, onde Regivaldo atuava, o líder é seu irmão, Reinaldo Santana, e o próprio Regivaldo era o vice. Hoje, são 15 membros. O suspeito de matar o taxista não é um deles.
“Ele nunca quis dar o telefone dele para acompanhar o grupo. Então não tinha como ele colocar o carro na vaga, porque quando sai um veículo, a gente chama outro. Nós temos ordens: o colega que pega a corrida do outro é suspenso por cinco dias. Se desrespeitar outro, toma uma suspensão de três dias”, conta Reinaldo.
De acordo com Denis Paim, não é raro presenciar brigas de taxistas por lugar na fila. O presidente da AGT disse lamentar pelas duas partes quando conflitos assim acontecem.
“Quem chega de fora reivindica seus direitos, porque de fato é um direito dele parar ali. Eu espero que com esse fato, em que o taxista destruiu a vida do outro e a dele mesmo, a Secretaria organize os pontos para que isso não volte a acontecer, porque é inadmissível”, disse.
Há dez anos, em janeiro de 2014, uma briga semelhante no posto de táxi do Terminal Rodoviário de Salvador resultou em um dos trabalhadores gravemente ferido. Na ocasião, um taxista furou a fila para pegar o próximo passageiro, um colega reclamou e o esfaqueou. O agressor, identificado como Sandro Novais, foi preso.
Procurada, a Semob, responsável pela Cotae, afirmou fazer fiscalizações rotineiras, “com abordagem aos taxistas, quando são verificados os documentos do condutor e dos veículos”.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.