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Rodovias federais que cortam a Bahia registraram mais de 4 mil acidentes no último ano

Maior parte com óbitos foram causados por transitar na contramão

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 28 de fevereiro de 2025 às 19:36

Movimentação de trânsito
Movimentação de trânsito Crédito: Thomaz Silva/Agência Brasil

A Bahia enfrenta uma histórica crise no trânsito com acidentes que já se tornaram episódios frequentes no dia a dia de quem pega as estradas baianas. Só em 2024, 4.035 casos foram registrados, deixando 610 mortos e 5.234 feridos nas rodovias federais que cortam o estado, de acordo com dados fornecidos pela Polícia Rodoviária Federal na Bahia (PRF-BA). As causas principais dos acidentes apontam para falhas comportamentais por parte dos condutores de veículos, o que indica que, apesar da maior especificidade das legislações e suportes tecnológicos, ainda há dificuldade em manter uma boa conduta no trânsito.

Nos primeiros dois meses de 2025, as rodovias federais que cortam a Bahia já registraram 545 acidentes até o dia 26 de fevereiro deste ano, o que resultou em 729 feridos e 72 mortos. De acordo com a PRF-BA, transitar na contramão, velocidade incompatível e velocidade indevida são as três causas mais comuns dos acidentes que resultaram em óbitos nas estradas baianas.

Para Fábio Rocha, policial rodoviário e integrante do núcleo de comunicação da entidade, as infrações têm em comum o desrespeito às normas de trânsito e a imprudência. “A pressa excessiva, a impaciência e a falsa sensação de controle sobre o veículo são fatores que levam motoristas a cometerem essas infrações. Muitas vezes, os condutores assumem riscos desnecessários ao ultrapassarem em locais proibidos, transitarem em alta velocidade ou invadirem a contramão, o que pode resultar em colisões frontais de grande gravidade”, afirma.

Ao longo dos últimos anos, a tecnologia automotiva apresentou avanços no que diz respeito à segurança, com a inclusão de freios ABS – também conhecido como freios antitravamento, que têm como principal objetivo evitar o travamento das rodas e prevenir acidentes –, airbags frontais, controle de estabilidade e sistemas de alerta de colisão.

Essas mudanças tiveram impacto positivo na queda de acidentes a nível nacional que, em uma década (2012-2022), saiu de 184.563 casos para 64.547, representando uma diminuição de 65%. Na Bahia, o número de acidentes foi de 10.438 em 2011 para 3.313 em 2021, registrando queda percentual de 68,2%. A comparação levou em conta o ano com maior número de acidentes registrados na série histórica compilada pelo Painel da Confederação Nacional do Transporte (CNT), que traz dados de 2007 a 2024.

Desde janeiro do ano passado, algumas regras de trânsito mudaram e agora todos os carros novos devem ter ajuste interno da altura dos faróis baixos, luz de freio piscante em emergências, setas laterais, luzes diurnas, alerta para o cinto de segurança e controle eletrônico de estabilidade. As medidas foram estabelecidas por meio de resoluções do Conselho Nacional de Trânsito (Contran).

Apesar dessas conquistas no segmento da segurança automotiva, o número de mortos em decorrência de acidentes de trânsito no ano passado cresceu 9,4% em comparação com 2023, de 556 para 610. Também houve crescimento na quantidade de acidentes e de feridos nas rodovias federais baianas, já que em 2023 ocorreram 3.687 acidentes, com 4.607 feridos.

Para Fábio Rocha, o aumento de ocorrências no trânsito mesmo diante do avanço tecnológico e da legislação reforça que nenhuma medida é capaz de frear esses casos se não houver um comportamento adequado do condutor.

“A principal variável no trânsito continua sendo o comportamento humano. Muitos condutores ignoram as normas de segurança, dirigem de forma imprudente ou desconsideram as condições da via. Além disso, a tecnologia não substitui a atenção e o bom senso do motorista. A conscientização e o respeito às leis de trânsito ainda são as melhores formas de reduzir acidentes”, destaca.

Fábio defende que condutores devem manter uma postura defensiva, antecipando possíveis riscos e reagindo de forma segura. Isso inclui respeitar os limites de velocidade, manter uma distância segura do veículo à frente, evitar distrações como o uso do celular e estar atento a condições adversas da via, como buracos, curvas fechadas e presença de pedestres ou animais na pista.

Ainda, reforça a necessidade de obedecer às regras. “Algumas atitudes fundamentais para um trânsito mais seguro incluem: respeitar as regras de ultrapassagem, usar sempre o cinto de segurança, não dirigir sob efeito de álcool ou substâncias psicoativas, manter a manutenção do veículo em dia e ter paciência no trânsito. Essas condutas reduzem significativamente as chances de envolvimento em acidentes e garantem um trânsito mais previsível e seguro para todos”, frisa.

Motociclistas: o grupo vulnerável

Além das estatísticas gerais, um olhar específico revela que os motociclistas enfrentam riscos ainda mais graves, uma vez que estão envolvidos em alguns dos mais graves acidentes de trânsito. De maneira geral, esse grupo está mais suscetível em razão de utilizarem um veículo pequeno e mais leve quando comparado a carros e caminhões. No último ano, o número de acidentes envolvendo motos cresceu 25% nas rodovias federais baianas. Em 2023, foram 1.382 casos contra 1.730 em 2024.

Também houve aumento no número de óbitos e feridos. Enquanto em 2023, 1.667 motociclistas ficaram feridos e 177 morreram em acidentes, em 2024 esses números saltaram para 2.093 e 194, respectivamente.

Em janeiro e fevereiro deste ano, foram 211 acidentes, com 268 feridos e 23 mortes. O cenário atual preocupa Marcelo Barbosa, presidente do Sindicato dos Motociclistas, Motoboys e Mototaxistas do Estado da Bahia (Sindmoto-BA), que alega a falta de iniciativas eficazes para aumentar a segurança no trânsito para quem utiliza a motocicleta como meio de transporte.

“É preciso implementar política pública voltada para educação no trânsito, ter uma qualificação melhor das autoescolas, com aula específica para motociclista, e criar uma via exclusiva para motociclista. Em Salvador, já vai ser implantada a moto faixa na Av. Bonocô, que é uma reivindicação do Sindmoto-BA", diz.

No segmento tecnológico, as motocicletas ganharam reforço na segurança com o airbag autônomo nos modelos mais novos de algumas marcas, que monitoram em tempo real a velocidade, aceleração e posição do piloto, com o freio ABS, com o sistema de radar inteligente – que ajuda a identificar objetos na estrada mais facilmente –, e com o sensor de medição inercial.

Ainda assim, Marcelo Barbosa analisa que os motociclistas se sentem inseguros no trânsito das cidades e nas rodovias por falta de sinalização e pela falta de experiência do condutor nas rodovias. Por isso, ele recomenda a adoção de cuidados ao pilotar, que incluem o seguinte:

1) Utilização de capacete

2) Uso de jaquetas, calças e botas de couro

3) Pegar velocidade antes de entrar nas rodovias e se misturar a outros veículos

Ciclistas: a invisibilidade no trânsito

Outro grupo vulnerável quando se trata de trânsito são os ciclistas. Segundo a PRF-BA, eles foram vítimas de 104 de trânsito nas rodovias federais que cortam a Bahia em 2024. Esses casos resultaram em 12 mortos e 128 feridos. Neste ano, já são 19 acidentes, com quatro óbitos e 18 feridos.

Dado Galvão, ciclista e idealizador do Movimento Ciclo-olhar, que defende maior segurança aos ciclistas no trânsito, afirma que muitos dos acidentes envolvendo ciclistas, no entanto, não são registrados. Ele afirma que há uma prevalência de casos que só viram números quando acontece morte.

No trânsito urbano, as causas mais comuns de acidentes envolvendo ciclistas incluem falta de atenção, ausência de ciclofaixas, transitar na contramão e falta de campanhas de conscientização. Já nas rodovias, os acidentes são causados, sobretudo, por falta de sinalização pré-ciclismo, velocidade, problemas de visão, e utilização de drogas para se manter acordado.

A falta de estrutura propícia para ciclistas desponta como principal agravante dos acidentes, porque o uso comum das pistas dificulta a visão de veículos maiores. “Quando estou pedalando e faço paradas nas BRs, tenho dialogado muito com caminhoneiros sobre a presença de ciclistas nas rodovias do Brasil. A principal observação dos diálogos é a dificuldade de visualização de alguns ciclistas, o que, segundo os caminhoneiros resultam em atropelamento de saída de pista”, diz Dado Galvão.

Para os condutores de veículos maiores e mais pesados, o ciclista pede que haja maior cuidado com quem está de bicicleta. “Fique atento ao posicionamento e trajetória dos veículos ao seu redor, evite ultrapassar pela direita, sinalize quando virar ou mudar de faixa, reduza a velocidade quando visualizar que um ciclista está próximo, sem preconceito, porque bicicleta também é um veículo/modal”, pontua.

10 dicas para ciclistas se protegerem no trânsito:

1) Sempre usar capacete

2) Não pedalar na contramão

3) Pedalar em fila indiana, se estiver em grupo

4) Antes de mudar de lado em uma via, utilizar braços e mãos para sinalizar

5) Usar equipamentos de sinalização na bicicleta

6) Pedalar sempre do lado direito da via onde não existem ciclovias e ciclofaixas

7) Prefira roupas claras para se tornar visível

8) Use adesivos refletivos na bicicleta

9) Mantenha os pneus calibrados

10) Evite vias com velocidade superior a 60 km/h

Panorama brasileiro

No Brasil, foram computados 72.571 acidentes nas rodovias federais entre novembro de 2023 e outubro de 2024, conforme dados da CNT. Esses acidentes deixaram um total de 6.005 óbitos, o equivalente a oito mortes a cada 100 ocorrências. Ao total, 83.950 pessoas ficaram feridas.

O motivo principal dos acidentes foram colisões. A rodovia BR-101 foi a que mais registrou acidentes no período, com 12.654 acidentes (17,4% do total). Já a principal causa de acidentes que resultaram em óbitos foi transitar na contramão, que culminou em 879 ocorrências (14,6% do total). A rodovia com mais mortes foi a BR-116, que teve 781 óbitos (13% do total).

No Guia CNT de Segurança nas Rodovias 2025, publicação datada de dezembro do ano passado, ficou evidenciado que 67% da extensão das rodovias apresenta algum tipo de problema, com 2.446 pontos críticos identificados ao longo delas, o que mostra a necessidade de ações não apenas por parte dos condutores, mas também pelos órgãos reguladores de trânsito.

O Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (PNATRANS) tem como meta reduzir pela metade o número de mortes no trânsito até 2030, em comparação aos dados de 2020 (5.293). Essa meta leva em conta as informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que aponta que os acidentes de trânsito são a principal causa de morte entre jovens de 5 a 29 anos em todo o mundo.

Os dados mais atualizados, que correspondem ao mês de outubro de 2024 no Painel CNT de Acidentes Rodoviários, no entanto, mostram que essa meta ainda está longe de ser alcançada, visto que 5.016 mortes no trânsito foram registradas em 2024 – o que representa uma diminuição de somente 5,2% no número de óbitos.