Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Gil Santos
Publicado em 29 de abril de 2024 às 12:05
Salvador pode amanhecer sem ônibus nesta terça-feira (30). A diretoria do Sindicato dos Rodoviários fará uma reunião às 16h para discutir se haverá paralisação. Se optarem pela manifestação, haverá assembleias nas portas das garagens no começo da manhã. A categoria ainda vai decidir se vai apenas atrasar a saída dos coletivos ou se fará uma paralisação durante todo o dia. Os dirigentes pedem que a prefeitura ajude na negociação da categoria com o sindicato patronal. >
Nesta segunda-feira (29), os ônibus não saíram da Estação da Lapa, entre às 11h e às 13h30. Manifestantes levaram faixas e cartazes cobrando a pauta de reivindicações. Passageiros que desembarcam no terminal precisam caminhar até os Barris para conseguir pegar um coletivo ou fazer o caminho inverso para pegar o metrô, o que deixou algumas pessoas indignadas. >
A fila de ônibus começou dentro da estação, ocupou todo o Vale do Tororó, alcançou a rotatória dos Barris e avançou pelas marginais do Dique. O trânsito ficou caótico. Na rotatória, houve um princípio de desentendimento entre rodoviários e passageiros. Os primeiros desligaram os motores e disseram que iriam aderir ao movimento, enquanto os segundos exigiram o dinheiro da passagem de volta. >
No coletivo que fazia a linha Trobogy/Lapa, passageiros se recusaram a desembarcar. Alguns argumentaram que não tinham dinheiro para pagar outra passagem e acusaram os rodoviários de fazerem uma paralisação sem avisar à população. O CORREIO flagrou pessoas com deficiência visual, outras em cadeiras de rodas e outras com muletas tendo que caminhar dos Barris até a Lapa. >
Reclamações >
A estudante Marcela Souza, 26 anos, ficou nervosa e teve uma crise de choro. Ela estava a caminho de uma entrevista de emprego. "Demorou tanto para conseguir essa oportunidade e agora estou correndo o risco de perder por causa desse atraso. Se eu soubesse que teria protesto, eu teria pegado outra rota", disse. >
Quem ainda tinha dinheiro tentou chamar um carro por aplicativo, mas os preços estavam mais altos que o normal e os motoristas não conseguiam chegar devido aos congestionamentos. Quem estava sem dinheiro sentou na grama para esperar. Um idoso ficou indignado. >
"Eu tive que andar da Vasco da Gama até a Lapa nesse sol, isso é desumano. Não é assim que se protesta, fazendo a população pagar. Quer protestar, coloque catraca livre, assim o prejuízo não será nosso", disse, ofegante. >
A categoria reivindica a reposição da inflação e ganho real de 4% sobre os salários, reajuste de 10% em cima do ticket alimentação, hoje em R$ 25, e vale transporte com integração ao metrô. Atualmente, o cartão que os trabalhadores usam para se deslocar para o trabalho só permite acesso aos ônibus. Eles também reclamam de assédio moral, afirmam que as empresas querem autorizar os ônibus a rodarem sem cobrador aos domingos e querem pagar horas extras com seis meses de carência. >
O prefeito Bruno Reis (União Brasil) comentou sobre o caso durante a entrega de duas encostas no bairro da Caixa d'Água, nesta segunda-feira. Ele voltou a afirmar que as questões devem ser debatidas entre o sindicato, os patrões e a justiça, e que a população não deve ser penalizada.>
"Hoje, o que a empresa arrecada é insuficiente para pagar o custo do sistema. A prefeitura vinha assumindo essa conta, mas eu não tenho mais condições de botar nenhum real. Então, quando impedem os ônibus de saírem, diminui o faturamento. Tem outros caminhos que não a paralisação, então, eu acho isso uma irresponsabilidade e espero que seja cobrado compromisso dos líderes sindicais com a cidade e com as pessoas", afirmou. >
Os rodoviários pedem a intermediação da prefeitura na negociação com os patrões. O presidente do sindicato, Hélio Ferreira, disse que o protesto desta segunda-feira teve como objetivo chamar a atenção da sociedade para os problemas enfrentados pela categoria. >
"O prefeito pode evitar isso. Ele tem meu telefone e sabe que pode chamar o sindicato para conversar, chamar as empresas, destravar a campanha para a gente continuar negociando e resolver os problemas dos assédios. Isso é simples. Amanhã só não terá paralisação se o prefeito chamar a gente, destravar a campanha e resolver esse problema interno", afirmou o presidente.>
Procurada, a prefeitura informou que, por enquanto, não há nenhuma reunião marcada em relação ao caso. >