Acesse sua conta

Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google

Alterar senha

Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.

Recuperar senha

Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre

Alterar senha

Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.

Dados não encontrados!

Você ainda não é nosso assinante!

Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *

ASSINE

Risco para comer: disputa entre CV e BDM reduz movimento do restaurante popular de São Cristóvão

Moradores chegaram a ficar em meio a fogo cruzado na fila do estabelecimento

  • Foto do(a) author(a) Wendel de Novais
  • Wendel de Novais

Publicado em 30 de outubro de 2024 às 05:00

Restaurante Popular de São Cristóvão Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

As filas do Restaurante Popular de São Cristóvão, que foi inaugurado em julho deste ano em Salvador, não apresentam um volume parecido com o que é registrado nas outras seis unidades espalhadas pela capital. Por lá, assim como acontece com a educação, a saúde e o transporte no município, o braço armado das facções impõe uma barreira para o serviço. Isso porque o restaurante fica entre as localidades de Vila Verde, que tem atuação do Comando Vermelho (CV), e Colinas de Mussurunga, onde há uma presença histórica do Bonde do Maluco (BDM) no tráfico de drogas.

A disposição das facções na área coloca o restaurante no meio do conflito armado, gerando tiroteios e tensão nas imediações do local, o que faz com que as pessoas evitem passar por lá mesmo com refeições gratuitas. O problema foi apontado pelo prefeito Bruno Reis (União Brasil), quando o gestor lamentou o impacto do crime no serviço da Secretaria Municipal de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (Sempre) em coletiva de imprensa na semana passada.

"Vocês sabiam que o tráfico impede as pessoas de se alimentarem no Restaurante Popular de São Cristóvão? Que as pessoas não podem sair para se alimentar onde está o restaurante? Vocês acreditam nisso? Eu soube disso pelo meu secretário de Promoção Social. Nós oferecemos 300 refeições diárias e não está tendo gente para comer, porque as pessoas não conseguem sair de uma área para outra porque o tráfico não permite", apontou Reis.

No local, funcionários preferem não comentar o assunto, mas quem acessa o serviço confirma o perigo. Um homem, que prefere não se identificar por medo, conta que, há duas semanas, um tiroteio foi registrado enquanto as pessoas formavam a fila para esperar a refeição que é servida, de segunda a sexta, no fim da manhã. Na hora, enquanto alguns invadiram o restaurante para se proteger, outros ficaram expostos.

"Já teve dois tiroteios, sendo que o último aconteceu há 15 dias. [...] Aqui você corre risco, precisa fugir de uma bala de graça [perdida] aqui. Eu mesmo, no dia que o bicho pegou, tive que me deitar. A 'bala comeu', parou e depois começou de novo. Quando o povo abriu [a porta do restaurante], eu entrei aí e levou um tempão até a coisa se acalmar", relata ele.

Tiroteios foram registrados nas imediações do restaurante Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Procurado, o Instituto Fogo Cruzado, que monitora a violência armada em Salvador e Região Metropolitana (RMS), confirmou registros na área. De acordo com a instituição, na localidade de Vila Verde, em 2024, já foram registrados sete tiroteios, cinco mortes e dois feridos. Em Colinas de Mussurunga, foram registrados dois tiroteios, duas mortes e nenhum ferido. Os moradores confirmam que, por conta do conflito das facções, diariamente há temor que novos confrontos aconteçam.

Um morador, que não revela o nome, afirma que, em alguns dias o restaurante não bate a meta de 400 fichas disponíveis para almoço. Segundo ele, pessoas que frequentavam o local deixaram de aparecer por medo de acabarem sendo vítimas dos tiroteios registrados na região.

"Como é que vem comer? Muitos colegas meus desistiram por isso. Não querem mais porque dizem que não vale a pena se arriscar. É por isso que, às vezes, não bate as 400 fichas. Uma mulher que, desde o começo vinha para cá, não apareceu mais desde o tiroteio. O marido dela proibiu ela de vir por medo de rolar tiro de novo”, conta.

O morador acredita que as pessoas na fila ficam expostas aos tiros e estão em constante perigo. Para ele, a decisão de parar de ir ao local está próxima, visto que a tensão entre os grupos criminosos não apresenta uma redução.

"Já pensou se a pessoa toma um tiro e perde a vida só porque veio almoçar aqui, por causa de um prato de comida? A gente vem porque é uma coisa popular e tem as 400 fichas, mas não está fechando. É dois ou três dias que eles distribuem todas, batem a meta. Principalmente, quarta e sexta. Nos outros dias, é mais vazio, muita gente está desistindo”, completa o morador.

A Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP) foi procurada para responder se tem um plano de combate ao conflito, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem.

No local, os funcionários, que preferiram não dar maiores informações, afirmaram que todas as fichas disponíveis têm demanda durante a semana. A Secretaria Municipal de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (Sempre) foi procurada e, em nota, informou que, “mesmo com a ocorrência de situações de insegurança no território, cuja responsabilidade de apuração e atuação para manter o direito de ir e vir da população seja do governo do estado, a gestão municipal continua a manter a oferta da alimentação diariamente”. A pasta disse ainda que, de julho até hoje, já foram fornecidas 25.648 refeições no equipamento de São Cristóvão, custeadas totalmente pelo município, beneficiando cerca de 400 pessoas por dia.

Leia a nota na íntegra:

A Secretaria Municipal de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (Sempre) comunica que desde a inauguração, em julho de 2024, o Restaurante Popular Vida Nova de São Cristóvão, cumpre a sua função de promover a segurança alimentar e nutricional, através da oferta de alimentação gratuita, nutricionalmente equilibrada e em quantidade suficiente para pessoas que estão em situação de vulnerabilidade e risco socionutricional, que residem no bairro e em comunidades vizinhas.

Cabe ressaltar que, mesmo com a ocorrência de situações de insegurança no território, cujas responsabilidade de apuração e atuação para manter o direito de ir e vir da população sejam do governo do estado, a gestão municipal continua a manter a oferta da alimentação diariamente. De julho até hoje, já foram fornecidas 25.648 refeições no referido equipamento de segurança alimentar, totalmente custeado pelo município, beneficiando, assim, cerca de 400 pessoas por dia.