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Gilberto Barbosa
Publicado em 22 de janeiro de 2025 às 21:43
Todos os dias, às 5h, um grupo de 15 pessoas embarca no metrô, na Estação Pirajá. Os encontros diários se transformaram em pequenas conversas durante o trajeto. O contato constante se transformou em uma amizade que saiu dos vagões e foi parar no whatsapp, com a criação de um grupo chamado “Resenha do Metrô”.
Os integrantes organizaram um café da manhã nesta terça-feira (22) no modal. Uma das participantes foi a auxiliar de serviços gerais Sandra Noel dos Santos, 37. Ela contou que o grupo começou há três anos e que ideia de criar um chat no aplicativo de mensagens surgiu há cerca de cinco meses, sugerida por uma das integrantes.
“A amizade surgiu e com isso veio a ideia de trocar o número. A gente conversa sobre o que acontece no dia a dia, marca de se encontrar ou de confraternizar no metrô. Quando a pessoa não vai, ela tem que dar satisfação para não ficar sem saber o que se passa no grupo. Já tivemos até 30 pessoas com a gente, mas com a inauguração da Estação Águas Claras [em dezembro de 2023], ficou difícil manter o contato e pegar o mesmo trem”, explicou.
“Nós fomos nos conhecendo e com o tempo uma outra pessoa se juntava. Eu tinha um pequeno conflito com Sandra porque gostávamos de ficar no mesmo lugar e quem não conseguia ficava em outro lugar. A partir disso, nos aproximamos e viramos amigos”, contou o auxiliar de almoxarifado Carlos da Conceição Santos.
Café da manhã
Cerca de 10 pessoas participaram do café, que celebrou mais um ano de união entre os passageiros. A ideia original era se despedir de um dos colegas, que vai se mudar para Belo Horizonte, que não pôde comparecer. Apesar do imprevisto, os passageiros seguiram com a ocasião.
“O horário dele muda o tempo todo e ele avisou que não poderia ir para o metrô de manhã. Com isso, mudamos para o café da manhã e cada um levou uma coisa. Eu ofereci para os outros passageiros e quem queria entrava na nossa resenha. Foi uma maravilha, todo mundo se divertiu”, relatou.
Sandra lembrou que no último Natal, o “Resenha do Metrô” organizou um amigo secreto entre os participantes. A ideia original era realizar o encontro na estação. No entanto, o tempo curto da viagem mudou o local para o Shopping Center Lapa.
Rotina
A auxiliar de serviços gerais acorda todos os dias às 3h30 para sair de sua casa, em Jardim Cajazeiras e pegar um ônibus para a Estação Pirajá. Ela faz a viagem de aproximadamente 20 minutos até a Estação da Lapa, onde pega um ônibus para o seu trabalho, na Federação.
“Antes eu aproveitava o trajeto para dormir, mas eu roncava muito e o pessoal percebia e dava risada. Isso foi aproximando a gente e a partir disso começamos a conversar e fomos nos identificando. Quando eu ficava de férias, eu fazia chamada de vídeo para todos e eles ficavam pedindo para eu ir porque estavam com saudade. É uma amizade tão grande que parece que somos irmãos”, complementou.
A história do grupo não é a única de pessoas que se uniram nos trilhos soteropolitanos. Participantes do Big Brother Brasil 25, a ex-policial militar Aline Patriarca e o promotor de eventos Vinícius Nascimento se conheceram em uma das estações do metrô de Salvador e construíram uma amizade tão forte que culminou na parceria da dupla no programa.
Para o supervisor de estações da CCR Metrô Bahia Sidmar Copque, essas histórias reforçam o modal como um local de integração humana, onde pessoas de diversas origens se conectam e constroem relações que vão além dos vagões. “O metrô de Salvador é um espaço democrático, onde as pessoas estabelecem vínculos afetivos. Além de conectar lugares, o modal é um ambiente para conexões humanas”, afirmou.
*Com orientação da subeditora Monique Lôbo