Requalificação do terreiro Ilê Axé Omindeuá é entregue em Fazenda Grande IV

Entrega é a primeira de projeto de restauração das casas das religiões de matriz africana de Salvador

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  • Gilberto Barbosa

Publicado em 3 de julho de 2024 às 18:21

Terreiro Ilê Axé Omin Deua
Terreiro Ilê Axé Omin Deua Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

O som dos atabaques dava o tom da celebração dos presentes no terreiro Ilê Axé Omindeuá, no bairro de Fazenda Grande IV. A alegria tinha um motivo especial, afinal a casa foi entregue totalmente restaurada na tarde desta quarta-feira (3).

A entrega é parte do projeto Casa Odara, que prevê o restauro de até 100 terreiros da capital ainda em 2024. Segundo a Secretária Municipal de Reparação, Ivete Sacramento, o projeto ainda está em fase piloto e há expectativa de contemplar todas os espaços dedicados as religiões de matriz africana de Salvador até 2028.

"Essa reparação é um pedido das comunidades que estão na resistência de fazer valer a religião dos povos de terreiro de Salvador. Nosso dever é fazer ainda mais pelas comunidades que foram excluídas por muito tempo do processo de desenvolvimento de Salvador. Esperamos alcançar os mais de 2 mil terreiros da nossa cidade", afirmou.

Segundo a Secretaria Municipal de Reparação (Semur), 1.031 terreiros estão cadastrados nos sistemas da prefeitura, dos quais 258 possuem imunidade tributária. O prefeito de Salvador, Bruno Reis, explica que além da restauração, as entidades receberão a escritura definitiva do terreno através de um projeto de legitimação fundiária.

"A entrega é parte de um processo que começou com a isenção dos terreiros quanto ao pagamento dos tributos municipais. Depois iniciamos o processo de tombamento das casas, seguido pelas reformas. O próximo passo é garantir a propriedade definitiva dos terrenos para que além da realização dos atos religiosos com mais conforto, os terreiros tenham a garantia de que ninguém vai tirar eles das suas propriedades", disse.

Requalificação foi entregue na tarde desta qua
Requalificação foi entregue na tarde desta qua Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

A entrega foi celebrada pelos presentes no Ilê Axé Omindeuá, como a Yalorixá Lygia Maria Santos Souza. "Esse o resultado de muitos anos de luta. São 45 anos de axé, com 38 anos nesse terreiro e eu estou sem palavras com essa reforma. Além disso, é uma maneira da nossa fé continuar sobrevivendo por muitos anos", relatou.

Para o presidente do Conselho das Comunidades Negras de Salvador, Evilásio Bouças, a entrega é resultado de uma luta histórica das religiões de matriz africana em Salvador. "Essa é a primeira entrega, mas nós, que lidamos com essa temática por tanto tempo, reivindicamos que todos os terreiros de Salvador sejam contemplados. A regularização fundiária é a garantia de proteção desses espaços, dos lugares onde eles estão constituídos e de que nenhum outro tipo de necessidade faça com que eles deixem de existir"

O Ilê Axé Omin Deua foi o primeiro terreiro contemplado pelo Casa Odara, que iniciou no dia 9 de maio e prevê um investimento de R$ 30 mil em cada obra. O secretário municipal de infraestrutura Francisco Torreão detalhou as intervenções feitas no local.

"Nós fizemos um serviço completo, com a pintura e o reboco das paredes, manutenção dos telhados, restauração do piso e das esquadrias de madeira, além de colocar um forro de PVC dentro do grande salão. Esse é o primeiro passo para uma grande restauração nos terreiros de Salvador".

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela