Recado com destinatário: entenda por que traficantes queimam ônibus em Sussuarana

Bairro de ataque à ônibus queimado na Gal Costa foi violento e coordenado

  • Foto do(a) author(a) Wendel de Novais
  • Wendel de Novais

Publicado em 13 de setembro de 2024 às 15:00

Ônibus é incendiado e serviço volta a ser suspenso na região de Sussuarana; moradores relatam tiroteio
Ônibus é incendiado e serviço volta a ser suspenso na região de Sussuarana; moradores relatam tiroteio Crédito: Reprodução

Cerca de 48 horas após criminosos tentarem atear fogo em um ônibus na Avenida Ulysses Guimarães, no bairro de Sussuarana, em Salvador, novos suspeitos conseguiram incendiar um veículo de transporte coletivo no bairro. O caso foi registrado em um trecho da Avenida Gal Costa, por volta das 21h desta quinta-feira (12) e levanta ainda questões sobre o motivo que levou os suspeitos a atacar o ônibus. Na ação, que durou alguns minutos, cerca de 10 homens armados ordenaram que passageiros e rodoviários descessem e usaram gasolina para incendiar o veículo. Ninguém ficou ferido e, apesar dos disparos, não houve troca de tiros.

Questionado sobre o porquê da ação, Reginaldo Morais, tenente coronel da Polícia Militar da Bahia (PM-BA) e comandante do Batalhão Gêmeos, destaca que não se tem informações concretas que vinculem a tentativa de terça com o ataque de quinta. Ele confirma, no entanto, que o incêndio do ônibus seria forma de afronta entre grupos criminosos dispostos na região. “É uma estratégia que surpreende porque, geralmente, os criminosos fazem isso como resposta a ações policiais em determinado local, mas não foi o caso de ontem”, fala o tenente, que atua na intensificação do policiamento nesta sexta (13).

Diversos vídeos que circulam nas redes sociais flagram o momento em que o ônibus estava em chamas e os suspeitos davam tiros em volta dele. Em uma das imagens, é possível ver um dos homens armados já no meio da Avenida Gal Costa, atirando em direção ao lado oposto da via antes de dar as costas e fugir por becos com acesso à Rua Jota Silvestre. A via interna que fica ao lado do local do crime foi utilizada para que os criminosos chegassem e saíssem a pé sem muitas dificuldades.

Uma outra fonte policial, que terá nome e cargo preservados, explica que, em Sussuarana, há um domínio geral da facção Bonde do Maluco (BDM) no tráfico de drogas e em demais ações criminosas. O bairro, porém, assiste a entrada do Comando Vermelho (CV) em algumas localidades. “Sussuarana está como Salvador, rachada pelas facções. Por aqui, o BDM ainda é maioria, mas essas ações de tiroteios e até queima de ônibus vêm deles querendo prejudicar os rivais. Quando você vê alguém atirando daquela maneira em direção ao outro lado da pista, sabe que estão querendo dar um recado”, fala o policial.

Ainda de acordo com ele, ações do tipo não são de agora. No ano de 2023, até o mês de julho, segundo dados da Secretaria Mobilidade de Salvador (Semob), um em cada dois ônibus queimados na capital estavam em Sussuarana. Na época, seis veículos tinham sido incendiados na cidade. Ou seja, já eram três registros no bairro. A reportagem procurou a pasta para ter dados completos de 2023 e 2024 sobre queimas de coletivos, mas não obteve os números. A Semob confirmou apenas que esse é o sexto ônibus queimado em Salvador em 2024.

Procurada para comentar o caso desta quinta, a Polícia Militar informou que, quando os militares chegaram, os criminosos já tinham fugido. Além disso, a corporação confirmou que não houve feridos e até o momento ninguém foi preso. Ao chegarem, os militares encontraram o ônibus já em chamas, acionaram o Corpo de Bombeiros e permaneceram no local realizando o isolamento.