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Larissa Almeida
Publicado em 25 de janeiro de 2025 às 02:25
Palco principal da boemia de Salvador, o bairro do Santo Antônio Além do Carmo deixou de ser o sossego de parcela dos moradores por conta do som alto, trânsito desordenado e problemas de higienização durante festas, sobretudo nos finais de semana. Alguns residentes mais antigos chegaram a deixar o bairro por conta dos transtornos, mas moradores e comerciantes defendem a permanência de eventos no bairro, desde que seja de maneira ordenada. >
“Uma festa de sucesso é aquela com ordenamento do trânsito, organização sonora e ajuste de distância entre comércios informais. Esse perfil de festa bem-organizada favorece bastante o bairro. Traz visibilidade e cria, para quem vem pela primeira vez, a sensação de um espaço harmônico”, destaca Jota Moraes, que comanda o restaurante Casa de Farinha e se declara a favor das festas organizadas. >
Ele aponta que, recentemente, quando um evento ocorreu sem aviso prévio aos moradores, as ruas do bairro foram fechadas e deram prejuízo. “Foi um domingo e, naquele dia, um amigo meu vendeu apenas 10% do habitual. Naquele final de semana, nós da associação de bares e restaurantes do bairro, conversamos entre nós e vimos que tivemos queda no faturamento de 65%, em média, por conta da falta de organização que houve com o evento”, conta Jota. >
No comando de um restaurante e uma pousada no Carmo, uma comerciante que preferiu não se identificar saiu em defesa das festas pelo aspecto cultural e teceu crítica às reclamações que podem afastar turistas e visitantes. “Querendo ou não, os eventos são interessantes para o bairro em termos culturais e sociais. Quando há demonização disso por pessoas que estão sendo prejudicadas de alguma forma por falta de comunicação, é extremamente negativo”, diz. >
“Eu raramente sou impactada quando esses eventos acontecem. A única questão é quando foge do controle de fechar uma rua toda, que fica sem ninguém poder entrar ou sair. Não à toa, achamos errados mini trios na rua durante o Carnaval. Isso não faz parte do bairro nem caracteriza a parte cultural dele”, completa a comerciante. >
Mesmo com queixas quanto a desordem durante os finais de semana e desrespeito de visitantes – que chegam a fazer xixi nos muros das casas e deixam garrafas e bagas de cigarro no peitoril de janelas durante a folia carnavalesca –, o químico Júlio César Mato Grosso, 59 anos, acredita que o bairro está melhor após a aquisição do status de boêmio. >
“Na minha época, as pessoas tinham até vergonha de dizer que moravam no Santo Antônio. Elas preferiam dizer que moravam no Barbalho. Com o passar do tempo, o Santo Antônio ganhou esse ar ‘gourmetizado’ e passou a ser considerado bairro chique. [...] Eu, particularmente, prefiro que o bairro esteja com empreendimentos formais do que um local com sublocação ou que não tenha centros de cultura. Só discordo que aqui tenham eventos de grande porte, porque as ruas não comportam”, pontua. >
Milena Palácios, produtora cultural e vice-presidente da Associação de Moradores do Bairro do Santo Antônio Além do Carmo, está à frente de ações que visam promover a ordenação dos eventos no bairro, como definição de horário limite para festas som alto e regulação do trânsito. A associação chegou a abrir um inquérito junto ao Ministério Público da Bahia (MP-BA), que já conta com mais de mil páginas, e está em diálogo com a Prefeitura de Salvador e o Governo do Estado. >
Em entrevista ao CORREIO, Milena enfatizou que não é de interesse da associação dos moradores que não haja mais festas e eventos no bairro. “Só precisamos de um pouco mais de controle do que está acontecendo para que nós consigamos manter a estrutura boêmia, mas respeitando as pessoas que moram aqui”, frisa. >