Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Bruno Wendel
Publicado em 20 de maio de 2024 às 05:01
Bairro de Salvador, o Pelourinho se destaca pela maior concentração da Arquitetura Colonial Barroca Portuguesa e, por isso, é um dos locais mais visitados pelos turistas que chegam à cidade. Mas as suas ruas estreitas e intrigantes, ladeiras charmosas e chão de pedras, dividem o espaço com inúmeras “biqueiras” (pontos de venda de crack).
“Aqui está infestado. Estão nesses casarões abandonados, onde eles vendem e consomem. Nas vias principais as pichações não ficam, porque nós apagamos, mas nas ruas descendo por aí tem um monte. É terrível”, disse o dono de uma loja no Largo Terreiro de Jesus. Segundo ele, o motivo é o Bonde do Maluco (BDM).
“É uma praga! Depois que este grupo aí das três letrinhas se instalou aqui, tudo piorou. Os assaltos acontecem por minuto", declarou. Segundo ele e outros empresários, a insegurança no ponto turístico está crítica. "Em qualquer rua dessas você pode dar de cara com esses ‘sacizeiros’ (nome pejorativo atribuído aos usuários de crack), que levam tudo. Os desavisados, sempre turistas, acabam depenados”, contou.
Seguindo as informações do empresário, a reportagem desceu a Rua da Oração e chegou a uma de suas transversais, a Rua Guedes de Brito. Lá, encontrou paredes de casas em estilo colonial com as inscrições do “BDM” ou “T3”, que significa Tudo 3 (BDM).
“Essa facção já matou muita gente. Nesse momento, há uma trégua porque chegou um novo mandachuva. O pessoal chama ele de ‘Coroa’. Ele chegou de Pirajá para fortalecer o varejo aqui, a venda em pequena escala”, relatou o comerciante.
Na Rua Guedes de Brito, a reportagem encontrou cinco “aviões” (passadores de droga) atuando livremente, mas que se dispersaram ao verem a equipe de reportagem.
A situação é a mesma na Rua São Francisco. “Essas ruas, junto com a 3 de Maio e a Ladeira da Praça, são as mais perigosas, porque eles conseguem se esconder nas ruínas e correr para a Baixa dos Sapateiros e aí ninguém pega”, contou o comerciante.
"Cracolândia"
O Centro Histórico conquistou em 1985 o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, conferido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Mas hoje concentra a maior quantidade de usuários de crack da região antiga da cidade. “Antigamente, havia essa quantidade assustadora de usuários. Quando o BDM entrou aqui, há mais de 10 anos, tomou os pontos de venda dos traficantes independentes, aqueles que se juntaram ao grupo, foram mortos, e passou a distribuir somente crack, transformando o Pelourinho numa 'Cracolândia', em uma terra de zumbis", disse um morador, fazendo referência a usuários da droga.
No dia 31 de março deste ano, um turista de São Paulo foi baleado na Ladeira da Praça. A situação aconteceu após uma mulher, também turista, ser assaltada na região. Na ocasião, a Polícia Militar informou que, durante patrulhamento, PMs avistaram um grupo de suspeitos correndo, após roubarem uma corrente de ouro da turista. Durante a perseguição policial, houve troca de tiros e o turista acabou sendo atingido.
Dois suspeitos conseguiram fugir e um deles foi detido e levado à Delegacia de Proteção ao Turista (Deltur), no Pelourinho, juntamente com o material apreendido, onde a ocorrência foi registrada. Os turistas eram passageiros de um cruzeiro que passava pela capital baiana. Segundo os comerciantes, violência acaba sendo um problema “enorme para nós porque acaba afetando nossas vendas, atinge todo o comércio em geral”.
“Nós sobrevivemos exclusivamente do turismo. Se o turista deixa de vir, como ficamos? Ele quer chegar aqui e se sentir seguro para desfrutar das maravilhas do nosso Pelô. A gente vê alguns policiais passando, mas não dão conta, caso contrário não havia assalto. Roubam correntes de ouro, relógios, levam tudo”, disse a dona de um outro restaurante localizado na Rua Portas do Carmo.
Circulando pelo Pelourinho na manhã desta quinta-feira (9), entre 9h e 11h, o CORREIO encontrou policiais militares abordando dois rapazes na Rua Guedes de Brito, supostamente “biqueiros” - eles foram liberados em seguida – e também a presença da Guarda Municipal na Rua Frei Vicente, a que faz ligação com a Avenida José Joaquim Seabra, mas mesmo assim o medo ainda prevalece.
“Não tem como ser diferente. Nem a polícia e nem os guardas conseguem resolver o problema da insegurança. As câmeras não intimidam mais, porque eles agem na ‘cara dura’, confiantes na impunidade”, pontuou a comerciante.
O CORREIO procurou a Guarda Civil Municipal de Salvador (GCM). Em nota, a GCM informou que cabe às polícias Civil (PCBA) e Militar (PMBA) investigar situações deste tipo. A reportagem buscou também o posicionamento da PCBA e da PMBA e da Secretaria de Segurança Pública. No entanto, as demais instituições não se posicionaram até o momento.