Quem é o chefão do tráfico no Calabar que permanecerá preso após denúncia do MP

Averaldo Ferreira da Silva Filho teve a prisão preventiva decretada pela Justiça na última sexta-feira (7)

  • D
  • Da Redação

Publicado em 10 de abril de 2023 às 05:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação / Polícia Civil

Averaldo Ferreira da Silva Filho, mais conhecido como Averaldinho e apontado pela polícia como o chefe de uma organização criminosa de tráfico de drogas que atuava no bairro do Calabar, em Salvador, teve a prisão preventiva decretada pela Justiça na última sexta-feira (7) após denúncia do Ministério Público estadual.

Ele e mais 22 integrantes, que também tiveram as preventivas decretadas, foram denunciados, no último dia 5, pelo Grupo Especial de Combate às Organizações Criminosas e Investigações Criminais (Gaeco), por crimes de associação criminosa e tráfico de drogas.

A decisão da Vara de Organização Criminosa (Vocrim) de Salvador foi cumprida no sábado (8), com o apoio da Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap). 

Averaldo estava preso temporariamente desde fevereiro deste ano, quando foi deflagrada pela Polícia Civil a Operação Garrote. A prisão temporária dele venceria ontem. Com a decisão da Justiça, ele permanecerá preso. As prisões preventivas foram solicitadas pelo Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco).

A Justiça também determinou o bloqueio das contas dos 23 denunciados. Conforme a decisão, as provas baseadas em interceptação telefônica apontam para Averaldo Ferreira como líder do grupo criminoso que atua no Calabar, “onde a disputa por pontos de venda de entorpecente vem impactando no aumento de Crime Violento Letal Intencional (CVLI)” no local e no Alto das Pombas.

Averaldo já integrou o Baralho do Crime da Secretaria de Segurança Pública (SSP) - ferramenta que exibe os suspeitos mais procurados estado - após descumprir as condições para a permanência da saída por liberdade condicional. Além dele, foram denunciadas, no dia 5, pessoas apontadas como vendedoras, olheiras, entregadoras e gerentes do tráfico de drogas.

Confira na linha do tempo a seguir algumas das principais passagens de Averaldinho pela polícia:

2008

Aos 19 anos, Averaldinho tinha um ponto de drogas na Vasco da Gama. Ele comandou um ataque a uma quadrilha rival do Alto das Pombas. 

Na época, a disputa acirrada por pontos de vendas terminou com quatro mortes e duas pessoas feridas, além de 30 homens armados com submetralhadoras, escopetas e pistolas. 

No local, traficantes rivais foram assassinados, principalmente aqueles que eram ligados ao grupo de 'Pity', o comandante Eberson Souza Santos, que morreu no ano anterior após confronto com a polícia. 

2010

Aos 21 anos, o líder do tráfico de drogas decidiu curtir a Micareta de Feira de Santana, mas acabou abordado por policiais, que reconheceram as tatuagens do traficante e constataram a participação dele em diversos crimes. 

Ele foi preso em abril daquele ano, mas já tinha um mandado de prisão em aberto, expedido pela Vara de Tóxicos e Entorpecentes. 

Na época, Averaldinho comentou sobre a tatuagem que carregava no corpo com o nome do filho, que tinha sido desenhado errado por um tatuador. O traficante explicou que o nome era "Cauê", mas acabou sendo tatuado como "Cauã". Questionado sobre o que poderia ocorrer com o tatuador atrapalhado, o líder do tráfico disparou: “Um dia ele vai pagar por isso”.

Com a prisão dele - e de outro traficante famoso da região, como Aquiles Alves Lima, de 29 anos, a Polícia Militar teve de reforçar o patrulhamento, já que outros integrantes da facção criminosa estavam fazendo ataques aos agentes no bairro.

Em maio daquele mesmo ano, 35 carros foram roubados e, conforme o presidente da Associação dos Praças da Polícia Militar, Marcos Prisco, os veículos seriam utilizados para fazer parte dos ataques em defesa de Averaldinho. 

- Clã Floquet

Com a prisão de Averaldinho, outra pessoa importante para a história do tráfico de drogas entre Calabar e Altos das Pombas foi presa: Selma Floquet, líder de uma das maiores organizações criminosas de Salvador, que iniciou o comércio ilegal em 1987.

Em 2010, a força do tráfico foi enfraquecida com a prisão dos dois líderes rivais, além da morte de Leandro Floquet, filho de Selma, morto durante uma operação policial na Boca do Rio.

No mesmo ano, Edeilton da Silva Miranda, o Coco, teve o pedido de prisão decretado em dezembro de 2010, acusado de matar um taxista. 

2011

Um ano depois da prisão, Averaldinho permanecia encarcerado no Presídio da Mata Escura e recebendo visitas íntimas, como a da namorada, Maria Gilmara de Jesus Santos, que na época tinha 19 anos e estava grávida dele. A jovem acabou presa ao entrar no presídio com uma carteira de identidade falsa.

Na época, o delegado que estava à frente de várias investigações sobre Averaldinho, disse que havia denúncias de que a namorada ficou no lugar dele, chefiando o tráfico, mas ela negou.

2016

Averaldinho entra para o Baralho do Crime após descumprir as condições para a permanência da saída por liberdade condicional. Nesse mesmo ano, ele foi acusado de agredir um homem de 40 anos, que teria encontrado um celular em uma escada do beco conhecido como "shopping do terror", próximo à localidade do Camarão, e teria ido vender um celular em uma boca de fumo.

Averaldinho não gostou da informação e foi atrás do morador, agredindo-o com pauladas nos braços, tórax, além de "sentenciar" o homem a pauladas por traficantes do bairro. 

2017

Sai Averaldinho, entra "Dona Maria". O Baralho do Crime teve atualizações e o traficante do Cabalar teve o mandado de prisão revogado pela Justiça. Com isso, uma mulher conhecida na região de Vitória da Conquista, no sudoeste do estado, Jasiane Silva Teixeira, virou a "Rainha de Copas".

2018

Averaldinho é preso descumprindo a liberdade condicional ao ser flagrado cima de um trio elétrico no circuito Barra-Ondina.

2020

Uma festa, no meio da pandemia da covid-19, chamou a atenção dos moradores do Jardim Apipema, Ondina, Barra, Federação, parte da Graça, Rio Vermelho e Amaralina. Averaldinho estava comemorando o aniversário no bairro do Calabar e recebeu mais de 15 minutos de fogos de artifício de presente.

Ele já respondia a dois processos que corriam em segredo de Justiça, de acordo com o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ), mas isso não impediu que Averaldinho fizesse uma festa para cerca de 20 pessoas que portavam armas e atiravam para cima.

Meses depois, a irmã de Averaldinho, Brenda Lima de Jesus, de 27 anos, foi presa após a polícia apreender 11 quilos de maconha dentro de um imóvel, no Alto das Pombas. Além disso, os agentes encontraram dois celulares e uma faca. 

2022

Fabíola Floquet Miranda Caldas, de 32 anos, foi morta a tiros por três homens perto da sua casa, no Alto das Pombas. Ela era filha de Selma Floquet, presa em 2016. A vítima estaria, supostamente, vendendo drogas na região, o que teria despertado a raiva dos rivais.

O clã Floquet tinha se associado ao Bonde do Maluco (BDM), que tomou conta do Alto das Pombas. No bairro vizinho, o tráfico é comandado pelo Comando Vermelho (CV).

Meses depois, outro integrante da família Floquet foi morto, mas desta vez, longe da região do Alto das Pombas/Calabar. 

Luiz Henrique Santos Miranda, de 40 anos, estava na Maternidade Climério de Oliveira, no bairro de Nazaré, em Salvador, visitando uma adolescente de 14 anos e sua filha recém-nascida. Na recepção da unidade de saúde, o homem foi abordado por três pessoas armadas que dispararam 50 tiros de uma metralhadora. 

2023

Averaldinho é preso em fevereiro, em um condomínio de luxo em Guarajuba, Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). 

Ele era um dos principais fornecedores de drogas do Carnaval de Salvador. O traficante já estava sendo monitorado há dois anos, segundo o delegado Alexandre Galvão. 

"Havia um antagonismo dele com a família Floquet, e em razão disso pelo menos dois Floquet morreram nos últimos 18 meses", explicou o delegado. 

Dias após a prisão de Averaldinho, a Polícia Civil fez uma ação no Calabar para investigar traficantes que estariam envolvidos nas mortes dos dois integrantes do Clã Floquet, Fabíola e Luís Henrique, mortos em um intervalo de menos de um mês em 2022.