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Wendel de Novais
Publicado em 13 de março de 2024 às 05:30
A ação de resposta ao processo de extorsão promovido pelo Comando Vermelho (CV) contra comerciantes do Engenho Velho da Federação terminou com um morto: Mateus Vieira dos Santos, o ‘Cara Preta’, traficante que era líder do grupo no bairro. O criminoso era velho conhecido da polícia já que, além de coordenar ações do CV no local, foi uma liderança do Milho, localidade do bairro do IAPI. Por lá, assim como fez no Engenho Velho, ordenou homicídios, intensificou ataques da facção e até torturou moradores.
Uma fonte da polícia, que prefere não se identificar, afirma que Cara Preta ficou marcado entre agentes de segurança por ser um criminoso agressivo e ‘sem limites’. “No jogo do CV, ele foi fundamental por consolidar o domínio em grande parte das localidades do IAPI. Cara Preta não era dos mais estratégicos, mas ‘compensava’ isso com a intensidade que se dedicava a conquistar território para a facção a partir do Milho. Era fator decisivo para ataques e homicídios”, descreve.
A descrição agressiva se confirma nos números de violência armada no Engenho Velho da Federação em 2024. De acordo com o Instituto Fogo Cruzado, o bairro já registrou 13 tiroteios, cinco mortos e dois feridos, liderando em Salvador nos episódios de troca de tiros. Antes do Engenho Velho, o traficante esteve no comando das ações do CV no Milho, ao menos, até agosto de 2023.
Na época, uma ação policial que terminou em confronto deixou cinco integrantes do CV mortos. Entre eles, estava um homem identificado como Kiki, braço direito de Cara Preta na organização criminosa. Kiki, inclusive, era responsável por comandar os bondes – grupos de homens armados – em ataques a outras localidades em volta do Milho a mando do principal líder da organização.
Na localidade, Cara Preta tinha como característica a imposição de medo entre os moradores, fiscalizando o contato de quem vivia no local com policiais em ronda na área e integrantes de outras facções, já que o bairro é fatiado por organizações criminosas. Segundo a fonte da polícia ouvida pela reportagem, o traficante chegou a sequestrar uma jovem do bairro para torturá-la por conta da sua postura em relação ao CV.
“Cara Preta, com a ajuda de Kiki, tirou uma mulher da casa dela porque ela não estaria seguindo as ‘normas’ de comportamento estabelecidas pelo CV no Milho. Sequestraram ela e, como castigo, atiraram em uma das suas mãos e nas pernas. A jovem não chegou a morrer porque conseguiu se arrastar e pedir por socorro. Mas o recado, que é o que eles queriam, foi dado”, completa.
Na ação que terminou na morte de Cara Preta, foram apreendidos um revólver calibre 38, dinheiro em espécie e porções de maconha e cocaína. De acordo com informações, ele estava dentro de uma residência e acabou morto enquanto tentava fugir, trocando tiros com agentes que faziam rondas na região.