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Quase metade dos feminicídios na Bahia é cometida com arma branca

As armas de fogo foram usadas em 26,3% dos casos registrados em 2024

  • Foto do(a) author(a) Tharsila Prates
  • Tharsila Prates

Publicado em 19 de março de 2025 às 17:38

Auxílio aluguel para mulheres vítimas de violência
Auxílio aluguel para mulheres vítimas de violência Crédito: Agência Brasil

A maior parte dos 111 feminicídios registrados na Bahia em 2024 foi cometida com arma branca, segundo dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), em parceria com a Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP-BA). O instrumento foi utilizado em 45,5% dos crimes. Já as armas de fogo foram usadas em 26,3% dos casos, seguidas de objeto contundente (8,1%) e outros (20,2%).

A maioria esmagadora dos autores são os companheiros ou ex-companheiros das vítimas (82,2%). Eles cometem os crimes preferencialmente na própria casa das vítimas (72,1%), sendo o interior do estado que concentra os casos: 87,4%. Em Salvador, foram registrados 8,1% dos casos de feminicídio do ano passado. Ao menos um feminicídio foi registrado em 73 dos 417 municípios da Bahia em 2024.

Ainda de acordo com o estudo da SEI em parceria com a SSP, mais da metade das ocorrências tem como motivação passional (54,5%), seguida de briga intrafamiliar (41,8%) e briga interpessoal (3,6%).

De 2017 a 2024, a Bahia registrou 790 feminicídios. Isso significa dizer que uma mulher foi vítima letal de violência de gênero a cada três dias. O número de 2024 (111) representou uma redução de 3,5% em relação ao ano anterior, quando foram registrados 115 casos.

Em termos comparativos, em 2024, 1,4 mulheres foram vítimas de feminicídios a cada 100 mil baianas, enquanto que, em 2017, 1 mulher foi vítima de feminicídio a cada 100 mil mulheres na Bahia. Ainda em 2024, de cada cinco mulheres que morreram de forma violenta, duas delas foram vítimas de feminicídios. Sobre o perfil de quem é morta, a maioria tem entre 30 e 49 anos, é negra (pardas e pretas) e possuem parceiro íntimo.

Sociedade misógina

Segundo a advogada Flávia Gomes, pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Estudos Intredisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo, da Universidade Federal da Bahia (PPGNeim-Ufba), os elevados casos de feminicídio traduzem uma sociedade misógina, que usa todas as tipologias como representação de poder e destacam vulnerabilidades e a (in)ação do Estado. "Este aumento trágico nos casos de feminicídios [se referindo ainda ao Monitor de Feminicídios no Brasil]  sublinha a importância de ações coordenadas e efetivas por parte das autoridades e da sociedade civil para reverter essa tendência devastadora", afirma.

Ainda segundo ela, entre os fatores que prejudicam o combate às violências de gênero, e em específico aos feminicídios, tem sido a subnotificação e a dificuldade de reconhecimento dos casos de morte de mulheres como adequados à aplicação da qualificadoras. "Isto porque, muitas das vezes, os casos de feminicídios ocorrem em ambiente privado e familiar ou, ainda, em contexto diverso que desqualifica o ato a partir da aplicação de outros critérios, como tráfico de drogas ou questões religiosas, por exemplo."