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Gil Santos
Publicado em 30 de junho de 2023 às 05:30
Febre alta e dores atrás dos olhos, na cabeça, no corpo e nas articulações, náusea, vômito e manchas vermelhas pelo corpo. Esses são os sintomas clássicos bem conhecidos por quem já teve dengue. A boa notícia é que a nova vacina contra a doença, a Qdenga, que serve para imunizar quem nunca foi contaminado, já está disponível em Salvador e na Região Metropolitana (RMS). Os valores começam em R$ 399, cada dose, podendo chegar a R$ 599. São necessárias duas aplicações, com intervalo de três meses, para a imunização completa. O que torna o processo todo de proteção bastante salgado para o bolso, podendo chegar ao valor de R$ 1198.
Atualmente, já existe uma vacina contra a dengue no Brasil, mas ela só é eficaz em quem já teve a doença. A Qdenga é o primeiro imunizante liberado no país para pessoas que nunca entraram em contato com o vírus. A produção é do laboratório japonês Takeda Pharma e, por enquanto, a vacina pode ser encontrada apenas na rede privada de saúde. A reportagem entrou em contato com os laboratórios que oferecem a Qdenga em Salvador e RMS pelos canais de atendimento ao cliente e fez o levantamento dos preços praticados nesta primeira semana após a liberação da nova vacina no país.
Na clínica Delfin, o valor da dose é R$ 399, para o ciclo completo, de duas doses, o investimento é de R$ 798,00. Na rede Sabin, uma dose sai por R$ 428 e as duas doses por R$ 836, valor que pode ser dividido em até 11 vezes. No Labchecap, cada aplicação custa R$ 495, e pode ser parcelado em até 12 vezes.
Na Clínica de Saúde e Imagem (CSI), em Brotas, as doses custam R$ 430 cada, e o valor pode ser parcelado em oito vezes. Já na Amo Vacinas, no Salvador Shopping, cada aplicação custa R$ 599, e pode ser dividia em até seis vezes. O Laboratório DNA ainda não tem o imunizante e o Grupo Fleury informou que irá disponibilizar as doses a partir de julho. No Leme, a vacina chegou nesta quinta-feira (29), mas o valor da dose não foi divulgado.
A Qdenga foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março deste ano. Também foi liberada pela agência sanitária europeia (European Medicines Agency – EMA). Os ensaios clínicos que levaram à aprovação do imunizante foram realizados em cinco núcleos de estudos do Brasil, incluindo o Centro de Pesquisa Clínica das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), em Salvador.
O imunizante é composto por quatro diferentes sorotipos do vírus causador da dengue, o que amplia a proteção contra a doença. O infectologista e professor de Medicina da Universidade Salvador (Unifacs), Fernando Badaró, explica que o imunizante pode ser aplicado em pessoas que têm de 4 a 60 anos, mas que existem algumas restrições.
“A vacina é a base de vírus atenuado, ou seja, de vírus enfraquecido. Por isso é contraindicada para mulheres grávidas ou que estejam amamentando, pessoas com algumas deficiências imunológicas, como portadores de HIV sintomáticos e pessoas que estejam em uso de algum medicamento imunossupressor”, explica.
Quem está com sintomas ou recebeu diagnóstico positivo para dengue vai precisar esperar um pouco mais para se proteger. É o caso da estudante e modelo Vitória Amorim, 21 anos, que há duas semanas precisou de atendimento médico para conseguir lidar com os sintomas. Ela contou que está melhor, mas ainda sente fraqueza e náuseas.
“Comecei sentindo febre alta, calafrios, dor de cabeça, tontura, náuseas e fraqueza, uma fraqueza que eu nunca senti. No quinto dia, eu estava passando muito mal e desmaiei. Fui para o médico e precisei tomar soro. Voltei para casa, mas ainda estou me recuperando e com sintomas, o processo é lento”.
Entre janeiro e 17 de junho deste ano, a Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) notificou 30.188 casos prováveis de dengue no estado, 6,9% a mais do que os 28.249 registrados nesse mesmo período do ano passado. Cinco pessoas perderam a vida por conta da doença.
A pediatra Ludmila Carneiro lembra que a dengue tem maior sazonalidade nos períodos de chuvas e orienta os pais a redobrarem a atenção com as crianças. “Sinais de gravidade na dengue são sangramento de mucosa, desidratação, plaquetas baixas, dor adnominal, acúmulo de líquido, vômitos persistentes, letargia ou irritabilidade, dentre outros. A maioria dos casos não requer hospitalização, porém, ainda assim debilita o indivíduo”, explica.
No dia 6 de junho, um representante do Ministério da Saúde (MS) participou de um debate sobre a Qdenga na Câmara dos Deputados e afirmou que o imunizante deve chegar ao Sistema Único de Saúde (SUS) em cerca de um ano e meio, por conta dos trâmites de importação.
Dos 372 municípios baianos que notificaram casos de dengue este ano, 147 apresentaram incidência da doença e 18 estão em situação epidêmica. A vacina é importante para frear os avanços desses números, mas não protege contra outras doenças transmitidas pelo mosquito Aedes Aegypti, como a Zika e a Chikungunya, por isso os especialistas afirmam que a prevenção é sempre o melhor remédio.
O infectologista Fernando Badaró é preceptor do Programa de Residência Médica do Hospital Couto Maia e professor do curso de Medicina da Unifacs; e respondeu as principais dúvidas sobre a nova vacina contra a dengue. Confira abaixo:
1. O que é a nova vacina?
A Qdenga é uma vacina contra dengue, do Laboratório Takeda, recentemente aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), contra os 4 subtipos do vírus da dengue. O nome Qdenga faz referência a uma das teorias sobre a origem do nome da dengue, que viria da língua suaíli, falada em diversos países da África, Ki-dengu pepo;
2. Quem pode receber as doses?
A vacina foi liberada para pessoas de 4 a 60 anos e deve ser aplicada em duas doses no intervalo de três meses, cada. É importante lembrar que a vacina só protege contra a dengue e não contra a Zika e a Chikungunya, outras arboviroses transmitidas pelo mosquito;
3. Há contraindicação?
A vacina é feita à base do vírus atenuado, ou seja, do vírus enfraquecido. Por isso é contraindicada para mulheres grávidas ou que estejam amamentando, pessoas com algumas deficiências imunológicas, como portadores de HIV sintomáticos e pessoas que estejam em uso de algum medicamento imunossupressor;
4. Quem está com dengue pode ser imunizado?
Não pode tomar se tiver sintomas. Se foi diagnosticado recentemente ainda está doente, não pode tomar. Quem teve há, pelo menos, dois ou três meses, pode tomar. Não será necessário tomar todos os anos, apenas as duas doses no intervalo de três meses, cada.