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Thais Borges
Publicado em 24 de março de 2024 às 13:00
A Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) recebeu 74 vinhos da Receita Federal para desenvolvimento de pesquisas. As garrafas foram apreendidas pela Alfândega em dezembro de 2022, quando foi identificada uma tentativa de contrabando. A doação faz parte do programa Cidadania Fiscal, que tem como foco destinar mercadorias retidas para contribuir com a gestão ambiental, ecoeficiência e responsabilidade social. Nos últimos dois anos, universidades públicas de todo o país têm recebido diferentes itens do órgão.
No ano passado, após quatro meses de estudo, um grupo de professores e estudantes do curso de Tecnologia em Alimentos na Educação do Campo, no campus de Feira de Santana, criou e lançou a geleia de vinhos. A UFRB tinha recebido um lote de um mesmo vinho chileno do tipo tinto.
O processo para a criação da geleia levou tempo porque envolve algumas fases, de acordo com a professora Samantha Serra Costa, doutora em Biotecnologia e coordenadora do projeto.
O primeiro ponto foi remover todo o álcool da bebida, garantindo que não ficasse nenhum resíduo. Isso é feito a partir do aquecimento, para que o álcool evapore. Depois, os pesquisadores adicionam açúcar ao vinho, como é feito com uma geleia normal, e cozinham por um tempo.
Na sequência, é o momento de adicionar pectina, que garante a consistência de gel. A geleia é regulada até chegar à temperatura entre 60 e 65 graus brix (1 grama de açúcar por 100 gramas de solução). Em seguida, a mistura recebe ácido cítrico, que serve para estabilizar e conservar. Depois, é só envasar.
“Nossa ideia é que a gente desenvolva uma forma de produção e transfira a tecnologia para que eles consigam produzir e comercializar”, explica a professora.
Cada garrafa gera até quatro potes de geleia de 200g. Agora, eles estão testando outros sabores (como vinho com abacaxi e vinho com pimenta), doce de vinho em barra, vinagre e calda. “Muitos dos nossos alunos são agricultores familiares e já trabalham em cooperativas, então é uma experiência muito produtiva para eles, com possibilidade de transformar o produto e gerar renda”, pontua.
Gastronomia
Já a Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia (Ufba) recebeu 602 garrafas de vinho que serão direcionadas às aulas de nutrição e gastronomia. Este último, inclusive, é uma graduação noturna e quase todas as suas disciplinas são de natureza prática, de acordo com a diretora da unidade, Adenilda Queirós.
Tanto os vinhos doados à UFRB no final de 2022 quanto os mais recentes, entregues à Ufba, são derivados de diferentes apreensões. Não se tratam de bebidas falsificadas, mas que entraram no país de forma irregular, sem ter feito o pagamento dos tributos. Um dos rótulos apreendidos foi de garrafas Maison Pouget, que chega a ser vendido por R$ 1,9 mil no Brasil.
Uma das principais disciplinas que precisa de insumos como o vinho é a de Bebidas. “Essa disciplina tem o objetivo de caracterizar os aspectos históricos, econômicos e sociais das bebidas e coquetéis, além de conhecer a cadeia produtiva das bebidas alcóolicas e classificar segundo as técnicas de produção”, explica.
Nesse componente, os estudantes aprendem a preparar drinks com bebidas como vinho, gin e vodca. No caso dos vinhos, é preciso entender os tipos de uva, como são produzidas e de onde elas vêm. Também são ensinadas técnicas de harmonização com pratos e degustação.
“Foi uma surpresa muito boa, porque o curso de gastronomia demanda a compra de muitos alimentos. A universidade se esforça ao máximo para conseguir todos os insumos, mas o curso é quase 100% prático”, avalia.
Por semestre, as duas graduações - Nutrição e Gastronomia - precisam de pelo menos 100 litros de vinho. No entanto, esse total está longe de ser o ideal. O que acontece é que a escola solicita à Ufba, geralmente, o menor número possível devido à situação orçamentária.
“É muito importante essa parceria porque a universidade tem um orçamento restrito e às vezes, ainda tem cortes no orçamento. A gente tem uma demanda grande de alunos no semestre e nem sempre conseguimos colocar todo mundo numa turma ou oferecer as disciplinas”, acrescenta a professora.
Doações
As doações fazem parte do programa Cidadania Fiscal, criado pela Receita há dois anos e cujas entregas começaram a ir além de entidades da sociedade civil. Nas eleições de 2022, por exemplo, 200 smartphones foram doados para o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-BA).
Em todo o Brasil, o Fisco tem buscado universidades públicas para desenvolver parcerias semelhantes, com reflexos no ensino e no desenvolvimento de pesquisas. “A Receita Federal não é só para cobrar tributos ou fazer atuação de controle. A gente tem uma responsabilidade social muito forte. Dentro dessa linha, com o Cidadania Fiscal, a gente tem esse trabalho com as mercadorias apreendidas”, conta a delegada da Alfândega de Salvador, a auditora-fiscal Sandra Magnavita Castro.