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Wendel de Novais
Publicado em 6 de março de 2024 às 05:30
Nas paredes das casas nas imediações da Estrada do Derba em Valéria, onde há inscrições da sigla ‘T5’ em referência à saudação da facção Katiara, é possível ver um alerta: 'proibido roubar'! O aviso faz parte de uma norma fiscalizada por anos pelo traficante Pablo Ricardo de Assis Gomes Oliveira, o Escobar, morto pela polícia em operação na última segunda-feira (4). A prática, exercida também por outras facções, visa a reduzir o número de assaltos registrados e, consequentemente, a presença da polícia no bairro. >
Aliado ao número robusto de vigias nas áreas de atuação, foi essa estratégia que manteve Escobar longe da prisão por anos, como conta uma fonte da polícia. “Não deixar roubar é uma ação até comum das facções, mas levada à risca por ele. Em vários bairros, não se vê a proibição nas paredes. A determinação está ali para impedir que roubos atrapalhassem o escoamento de drogas e armas, principal atividade da facção que fica ali do lado da BR-324", conta a fonte. >
A apreensão da polícia na operação que alcançou Escobar é um exemplo deste foco. Em três acampamentos da Katiara, foram apreendidos 150 kg de maconha, seis granadas, rádios comunicadores, balanças de precisão e porções fracionadas de cocaína, crack, munições, além de sete aparelhos celulares. A presença de Escobar no grupo criminoso não é recente. Quem mora em Valéria diz que ele saiu de aviãozinho - integrantes que transportam as drogas – a líder. >
No entanto, só no fim do ano de 2022, passou a integrar o Baralho do Crime da Secretaria de Segurança da Bahia (SSP-BA), onde estão os criminosos mais perigosos do estado. A partir de então, ele virou figura central do combate ao crime na região de Valéria e da operação que acabou na morte do policial federal Lucas Caribé. No entanto, ficou longe da cadeia pelo esquema que montou para não ser pego de surpresa nas ruas do bairro. >
Quando a estratégia de limitar ocorrências no Penacho Verde não funcionava e a polícia aparecia, Escobar tinha um número alto de vigias que o alertavam da presença das forças de segurança, como explica Heloísa Brito, delegada-geral da Polícia Civil (PC). >
“Fizemos uma investigação passo a passo, muito cuidadosa, porque a gente não está numa área 100% urbana. E ele tinha essa possibilidade de fugir e tinha, inclusive, olheiros em locais privilegiados que a gente conseguiu levantar antes. Então, sempre que uma viatura da Polícia Civil, Militar se aproximava, ele conseguia fugir, e por isso essa dificuldade de fazer essa prisão”, justifica a delegada. >
A área de vegetação do Penacho Verde é para onde Escobar fugia toda vez que policiais se aproximavam. Na operação que o alcançou, o traficante fez o mesmo. Como as forças de segurança já sabiam da estratégia, elas o encontraram na mata e entraram em confronto com o criminoso, que foi atingido no tiroteio e não resistiu aos ferimentos.>