Preço do café dispara e acumula 30% de aumento em 2024

Esse foi o produto com maior reajuste na cesta básica de setembro (8,54%) desse ano

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  • Gil Santos

Publicado em 23 de outubro de 2024 às 05:15

Até que horas você pode tomar café sem afetar o sono?
Café é consumido por maioria absoluta dos brasileiros Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A artesã e microempreendedora Vilma Neris é tão apaixonada por café que toma cerca de 1 litro e meio da bebida por dia, são sete pacotes por mês. Ela conta que mora com a filha, mas que consome quase tudo sozinha e não tem tempo ruim, pode ser moído, passado no coador, ou até expresso, o importante é ser café. Mas o reajuste de 30,13% no preço do produto, em 2024, tem deixado a trabalhadora preocupada.

"Gosto de café, independentemente do horário. Pela manhã, eu não tomo uma xícara, tomo uma caneca que tem quase meio litro. Gosto dele preto e não tenho limites para beber café durante o dia. Agora, o preço tem pesado muito. Eu gosto de uma determinada marca, estou tendo que comprar outra marca e pegando vários pacotes quando vejo uma promoção", explicou Vilma.

Dentre todos os produtos e serviços pesquisados para calcular a inflação oficial, o café teve o 3º maior reajuste do ano. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), entre janeiro e setembro de 2024, o café moído acumulou 30,13% de aumento em Salvador e Região Metropolitana, o produto ficou atrás apenas da manga (50,49%) e do alho (33,78%). Segundo os produtores, a estiagem nas lavouras é responsável pelo aumento dos valores.

O gerente da Cooperativa Agropecuária do Oeste da Bahia (Cooproeste), instituição que também produz e comercializa café no Oeste do estado, Ronaldo Henrique contou que existem dois fatores responsáveis por esse cenário, que o valor do produto deve se manter no patamar que está nos próximos meses e que a chuva será determinante para a queda nos preços.

"As condições climáticas e o baixo estoque mundial do produto influenciaram no preço. Tivemos um período de muito calor e poucas chuvas. A estiagem está passando, a partir de agora, começa o período mais chuvoso, no último fim de semana, por exemplo, tivemos chuva. Por enquanto o preço deve se manter”, explicou.

O Dieese apontou que o café em pó teve a maior alta dentre os 12 produtos da cesta básica (8,54%), em setembro. Em 12 meses, o acumulado foi de 42,32% em Salvador e Região Metropolitana. O preço do pacote com 250gm do produto moído pode passar dos R$ 13, dependendo da marca e do tipo de grão. Na casa do empresário Carlos Gama, no Rio Vermelho, a família abriu mão do café tradicional pela cevada do produto.

"Inicialmente, a troca foi por uma questão de saúde, porque a cevada não tem cafeína, mas, depois, com aumento no preço do café, a troca virou uma necessidade. Para se ter uma ideia, estamos pagando R$ 3,59 na cevada, enquanto o pacote do café está de R$ 8,59. O sabor da cevada é um pouco mais amargo, mas com o tempo a gente acostuma", disse.

Há quem tente trocar o café por chá, suco ou outras bebidas, mas os fãs dificilmente abrem mão. Na casa da professora Michele Oliveira, 31 anos, o café faz parte da rotina matinal. Ela prefere com açúcar, já a irmã gosta com leite e a mãe escolhe puro. Apesar dos gostos diversos, elas concordam que o preço do café ficou salgado. Michele conta as estratégias que tem adotado.

"A primeira alternativa é sempre trocar a marca por uma mais barata, mas, às vezes, nem isso resolve. A gente sempre comprava no mercado, na prateleira comum [varejo], mas agora estamos dando preferência por pegar no atacado. Está mais em conta. O que não dá é para ficar sem café", afirmou a professora.

Hábito

Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) mapeou os hábitos de quem consome essa bebida no Brasil. Foram entrevistas 4,2 mil pessoas em todas as regiões do país, nas classes A, B, C, D e E. No total, 46% dos entrevistados disseram que consomem de 3 a 5 xícaras por dia e 97% tem o hábito de tomar café logo ao acordar. O cafezinho após o almoço também é rotina.

No universo dos ouvidos, 61% deles disseram que bebem café para melhorar o humor e a disposição, o percentual foi maior que o registrado pela mesma pesquisa em 2021 (57%) e em 2019 (56%). A maioria dos entrevistados pela pesquisa consome café em casa e no trabalho, 55% prefere coador de pano e 38% recorre ao expresso de máquina.

As opções mais marcadas foram as de café com açúcar, café com leite e açúcar. Apenas 8% afirmaram gostar dele puro. Ao todo, 43% disseram que entre as marcas que preferem, escolhem a de menor preço. Outros 16% afirmaram que compram a mais barata, independentemente da marca.

A Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) foi procurada, mas até o fechamento da edição não havia se manifestado.