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Por que terreiros comemoram Iemanjá em datas diferentes e o que faz o dia 2 de fevereiro especial?

Festa completa 101 anos em Salvador

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 1 de fevereiro de 2024 às 10:00

Religiosos depositam rosa às flores que compõem o presente de Oxum e Iemanjá
Religiosos depositam rosa às flores que compõem o presente de Oxum e Iemanjá Crédito: Foto: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

No terreiro de José Luiz Moreno, em Simões Filho, a celebração à Iemanjá foi feita no domingo (28). Já no Ilê Axé Ya L’Odo Nibu, onde Carlos Sousa é babalorixá, os rituais para a Rainha do Mar acontecem só em abril. Os dias em que a orixá é cultuada variam conforme a tradição das casas de candomblé, apesar de os festejos do dia 2 de fevereiro terem se popularizado em Salvador.

“Cada terreiro segue um ciclo anual de acordo com uma raiz religiosa, a depender da nação de candomblé. Nas casas matriciais, o ano se inicia em setembro, a partir das águas de Oxalá”, explica José Luiz Moreno Neto, hungbono neto de Oxum do terreiro Ilê Axé Obá Koso Loke Omi, em Simões Filho. Lá, o culto a togbosi, as divindades da água, é feito no primeiro mês do ano e Iemanjá é celebrada em 28 de janeiro.

Nos terreiros guiados pela orixá, o dia da celebração também pode corresponder ao dia em que o pai de santo foi iniciado. “No dia 2 de fevereiro fazemos um ritual só com os filhos da casa. Já no dia 18 de abril, quando eu fui iniciado, temos festa para Iemanjá com as portas abertas para o público”, explica Carlos Sousa, do terreiro em Fazenda Grande.

Mas por que o dia 2 de fevereiro ficou tão popular em Salvador? A tradição remonta a 1923, quando pescadores da capital baiana decidiram fazer uma oferenda a Iemanjá para que o período de escassez de peixes fosse superado. O ritual deu certo e foi repetido ao longo dos anos.

“Os pescadores eram, em sua maioria, negros e pobres que tinham ligação com os terreiros de candomblé. A festa cresceu e virou atrativo turístico que muitas vezes se desloca das tradições, com as oferendas se tornando objeto de consumo”, analisa Rodney William, babalorixá e doutor em Ciências Sociais.

Independente do dia, a tradição das oferendas segue os desejos de Iemanjá. Por isso, são colocados nos balaios os presentes que a orixá gosta. “São alimentos que agradam aquele orixá. No caso de Iemanjá, alguns fazem comidas à base de arroz, milho e feijão branco. Além de perfumes e espelhos”, completa José Luiz, o pai Neto.

A preocupação com o meio ambiente tem ganhado cada vez mais espaço no ritual. Por isso, alguns terreiros de Salvador só depositam no mar oferendas biodegradáveis, que não poluem o meio ambiente. “Propomos o retorno ao sentido original das tradições dos terreiros e, para agradar Iemanjá, eliminamos o que agride o meio ambiente. Deixamos de usar sabonetes e panos, para depositar flores e ervas naturais”, reforça Rodney William.