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Larissa Almeida
Publicado em 18 de fevereiro de 2025 às 06:30
Salvador teve o segundo gás de cozinha mais caro entre as capitais do país na última semana. De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o botijão de gás de 13 kg teve preço médio de revenda definido em R$ 130,71 na capital baiana, ficando atrás apenas de Boa Vista, capital de Roraima, que teve preço médio de R$ 136,91 entre os dias 9 e 15 de fevereiro. >
Para o economista Eric Gil, que integra o Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps) e a Associação dos Engenheiros da Petrobrás, Núcleo Bahia (Aept-BA), os altos preços vistos em Salvador se devem basicamente à privatização da antiga Refinaria Landulpho Alves, que atualmente se chama Refinaria de Mataripe e é gerida pela Acelen. >
Além disso, ele acredita que a disparada de preço da Acelen em relação a Petrobrás contribuiu para o cenário do preço do gás de cozinha de Salvador. “Se compararmos com agosto de 2022, que é o dado mais antigo disponível na ANP para fazer esta comparação, Salvador era a 13ª capital em termos de preço”, aponta Eric Gil. >
Quem mais sentiu o aumento de preço foram os consumidores finais, ou seja, os baianos que precisam do produto para se alimentar e obter renda. Esse é o caso de Julita Pereira, que tem encontrado o gás de cozinha por R$ 140. >
Segundo ela, o valor já é com desconto devido à amizade que já estabeleceu com o vendedor. Ainda assim, ela demonstra que não tem como ficar satisfeita com preço. “Eu cozinho muito, porque tenho um negócio em que faço muita fritura. Então, busco ao máximo economizar e acabo trocando o gás depois de um mês e meio”, relata. >
Já a autônoma Juliana de Almeida, 30, para não passar aperto, tem recorrido ao cartão de crédito quando precisa comprar o GLP. “Eu comprei de R$ 125, porque foi no Pix. O preço original era R$ 130 e não está dando para pagar sem aperto. Eu tive que dividir no cartão, porque se não fosse dessa maneira eu não teria o valor à vista. Está sendo muito difícil essa questão, porque os valores são altos e se trata de algo que não temos o que fazer. Tem que cozinhar e utilizar todos os dias, então está sendo complicado”, desabafa. >
Robério Souza, presidente do Sindicato dos Revendedores de Gás do Estado da Bahia (Sinrevgas), vê a aparição da capital baiana no ranking das capitais com o GLP mais caro com preocupação, uma vez que não há razões logísticas que justifiquem a alta de preço. “Toda a região do Norte, especificamente Roraima e Amazonas, têm a particularidade de ter o transporte terrestre e hidroviário, o que encarece demais o frete. Ainda, têm a sazonalidade dos rios, que dificultam o acesso quando têm baixa”, frisa. >
Em Salvador, por sua vez, ele acredita que, além dos preços definidos pela refinaria, o que pode contribuir para o custo alto é o domínio da distribuição em poucas mãos. “Há quatro grandes distribuidoras que trabalham na Bahia como um todo, que são a Ultragaz, Ultragaz Brás, Liquigás e a Nacional Gás Butano”, fala. >
“A Ultragaz detém pouco mais de 55% de mercado na Bahia e tem o gás mais caro comparado às outras marcas. Por ela ser mais pulverizada e a marca preferida, quem comprar avulso vai adquirir mais caro do que as outras marcas, via de regra. Então, o preço médio de Salvador é realmente mais caro do que em outros municípios”, finaliza. >
Em nota, a Acelen esclareceu que o preço do GLP da Refinaria de Mataripe segue critérios do mercado internacional que levam em consideração variáveis como custo do petróleo, que é adquirido a preços internacionais, dólar e frete, podendo variar para cima ou para baixo. >
“Os preços do GLP da Acelen são reajustados mensalmente de acordo com as variáveis mencionadas, respeitando regras contratuais estabelecidas junto aos seus clientes e homologadas pela ANP. No mês corrente, os preços do GLP foram impactados pelo forte alta do dólar durante o mês de janeiro”, escreveu a Acelen em resposta ao CORREIO. >
A empresa ainda acrescentou que, assim como as demais refinarias privadas no Brasil, busca maior competitividade na oferta de petróleo brasileiro, matéria prima que considera essencial para produção de derivados, já que adquire o produto a preço internacional. >