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Saulo Miguez
Publicado em 5 de novembro de 2024 às 17:14
Em meio à diversidade cultural de Toronto, encontramos um pedacinho da Bahia. Para além dos soteropolitanos que vivem em solo canadense, a primeira capital do Brasil está presente através da sua característica e cobiçada culinária. >
Na terra do poutine, o acarajé tem conquistado espaço na rotina gastronômica dos saudosos baianos e curiosos nativos e imigrantes de outras nações, que ousam se aventurar nas delícias do dendê.>
Natural de Salvador, a cozinheira Nilza de Sousa começou a sua história com o Canadá em 2010, através do intercâmbio das filhas na cidade de Vancouver. Após o casamento de uma delas com um canadense, Nilza passou a visitar o país com frequência e, desde 2020, reside por aqui.>
Filha de uma baiana de acarajé que comercializava os quitutes no Porto da Barra, um dos principais pontos turísticos de Salvador, Nilza desde muito cedo aprendeu a preparar pratos típicos. Em Toronto, voltou a cozinhar para atender pedidos de amigos e familiares que sentiam saudade do tempero da Bahia. “O pessoal me pediu e eu comecei a fazer. A minha filha divulgou, as pessoas comeram, gostaram e assim começou”, conta.>
Além do acarajé, abará e do caruru completo, da sua cozinha saem moquecas, bolos, pãozinho delícia e outras maravilhas gastronômicas que fazem a alegria não só dos baianos. “Não estou querendo me botar lá em cima não, mas os baianos que comem gostam e os canadenses também”. Mais informações sobre o menu de Nilza podem ser acessadas no perfil do Instagram @nilzita_gourmet.>
Nerd e cozinheira>
Desde 2018 vivendo em Toronto, Juliana Abreu Lima relembra que a paixão pelos estudos a fez convencer uma tia a se mudar para o Canadá e, em seguida, acolhê-la. “Eu era muito nerd na escola e, quando estudei a geografia do Canadá, fiquei apaixonada e convenci a minha tia que pretendia morar nos EUA a mudar para cá”.>
Em 2009, Juliana, que também é natural de Salvador e cresceu entre os bairros da Graça, Bonocô e São Cristóvão, veio para o Canadá pela primeira vez, ficando até 2012, quando retornou ao Brasil. Seu regresso à América do Norte se deu seis anos depois.>
Além de sabor, sua relação com a culinária baiana é recheada de afeto, respeito e identidade. Ela reconhece a origem africana do acarajé e o valor histórico desse quitute enquanto alimento de libertação. Ela conta que na época do Brasil Colônia, o bolinho era comercializado pelas mulheres negras libertas com o objetivo de comprar a alforria e libertar outros negros escravizados.>
“O acarajé entra nesse lugar de me reinventar como pessoa e vejo que esse prato típico da Bahia pode abrir um caminho para, no futuro, me levar a ter uma vida mais tranquila aqui no Canadá”, disse. Atualmente, uma vez por mês, Juliana fornece acarajé para a Padaria Toronto. Ela divulga informações sobre os produtos no Instagram @acarajutoronto, onde também compartilha conteúdos sobre a história da África e suas curiosidades.>
Hoje, tanto Juliana quanto Nilza não têm a culinária como atividade econômica principal. No entanto, ambas vislumbram em breve poder viver da cozinha e, quem sabe até, gerar emprego e renda para outras pessoas. “Às vezes eu não tenho como pegar mais pedidos. É complicado, mas vou me organizar para ter pessoas me ajudando e atender a demanda”, disse Nilza.>
Ingredientes Baianos>
Apesar de atualmente ser mais fácil encontrar feijão fradinho, dendê e outros ingredientes necessários às preparações, nem sempre foi assim. Nilza relembra que chegou a recorrer à Amazon para ter em mãos o dendê que hoje está disponível nos mercados africanos. Quiabo, camarão seco, castanha, amendoim e outras especiarias, felizmente, podem ser comprados em lojas de produtos brasileiros e de outras nações que dialogam com a culinária do país da América Latina.>
Isso é acará?>
Entre as curiosidades envolvendo a culinária baiana em Toronto, Juliana relembra que certa vez teve uma encomenda extraviada. Ao despachar o pacote com os acarajés, o entregador, que era nigeriano, reconheceu pelo cheiro o que tinha nas mãos. “Isso é acará?”, perguntou para confirmar a suspeita. Diante da resposta afirmativa, não deu outra: o pacote nunca chegou ao destinatário, mas certamente alegrou o dia de alguém.>