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Bruno Wendel
Publicado em 21 de dezembro de 2024 às 15:42
O mergulhador Williams da Silva Teixeira, de 54 anos, foi enterrado na tarde deste sábado (21), no cemitério Jardim da Saudade, no final de linha de Brotas. O corpo dele foi encontrado na Baía de Todos-os-Santos (BTS), nesta sexta-feira (20).
Williams havia desaparecido na última segunda-feira (16) enquanto realizava uma inspeção na âncora de uma balsa na região. Abalada, a família preferiu não falar. Mas os amigos fizeram questão de falar um pouco sobre o mergulhador.
" A gente não perdeu só um mergulhador. A gente perdeu um amigo, um irmão, um homem de bem, que lutava pela classe dos mergulhadores, que vai fazer muita falta. Ele me conhecia desde quando eu era menino. Fomos criados juntos. Estamos ainda sem entender. A morte vem com uma desculpa, mas, infelizmente, nós estamos aqui para enterrar um grande amigo", declara o mergulhador Jailson Caldas, 44.
Williams trabalhava para a Sapucaia Engenharia, empresa terceirizada contratada para auxiliar nas atividades de sondagem realizadas na Baía de Todos-os-Santos. Antes de atuar no consórcio para a construção da Ponte Salvador-Itaparica, Williams era mergulhador de compressor, uma modalidade de pesca irregular que utiliza um equipamento rústico ligado a um motor para levar ar aos mergulhadores.
"Era algo que ele gostava de fazer, dar o mergulho dele para pegar o peixe, a lagosta, levar o sustento paga casa, mas veio uma lei que proibiu de a gente usar o compressor, alegando impacto ambiental. Ele teve que buscar outra forma para sustentar a família e aí foi atrás de uma empresa de mergulho e acabou acontecendo isso", diz o mergulhador Alan de Souza Caminha, 32.
Williams sumiu por volta das 14h, quando a Capitania dos Portos da Bahia (CPBA) foi acionada e iniciou as buscas. Com a vítima, estavam mais três mergulhadores para fazer a sondagem e inspeção de âncora de duas balsas no local. Os três desceram antes de Williams, mas só chegaram a 15 metros de profundidade e voltaram por conta da maré.
A reportagem ouviu uma fonte, que prefere não se identificar, e conta que a correnteza estava forte, mas que o dono da empresa terceirizada teria pressionado os mergulhadores a fazerem o serviço.
“Na hora que os três voltaram, o dono começou a falar que ele mesmo ia ter que descer. Os mergulhadores falaram que só às 16h, mas ele [Williams] queria mostrar serviço para outras oportunidades e disse que ia tentar, mas não voltou mais. Ele fez porque houve pressão para realizarem o serviço”, completa a fonte.
Willians ainda teria descido sem os equipamentos adequados quando sumiu. O CORREIO obteve informações de que, ao fazer um mergulho de cerca de 40 metros de profundidade, ele estava sem os sistemas de ar necessários para mergulhos tão fundos.
A Capitania dos Portos informou que foi instaurado um Inquérito sobre Acidentes e Fatos da Navegação (IAFN) para apurar as causas e circunstâncias do acidente. Após a conclusão do procedimento, os documentos serão encaminhados ao Tribunal Marítimo.