Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Larissa Almeida
Publicado em 7 de novembro de 2024 às 17:57
A polícia baiana matou 1.321 negros durante operações ao longo de 2023, apontou o boletim Pele Alvo, realizado pela Rede de Observatórios de Segurança. Ao todo, foram 1.702 mortes em operações policiais no ano passado na Bahia, o segundo maior já registrado pela entidade no Brasil. Dessas, 1.396 descrevem a cor/raça das vítimas - em 381 casos, esse dado não foi registrado). Ou seja, a morte de negros representa 94,6% dos números em que o dado foi considerado.
Em 2023, a Bahia foi o único estado brasileiro a registrar mais de mil mortes decorrentes de ações policiais.
O cenário de violência policial, no entanto, não é o único que a Bahia lidera. O estado é campeão de mortes violentas no primeiro semestre de 2024, com 2.087 homicídios dolosos registrados, segundo a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Sinesp), sistema do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). É também o que mais mata mulheres e negros, conforme dados do Atlas da Violência 2024.
Pesquisa
Em cada um dos 365 dias de 2023, pelo menos sete pessoas negras sofreram com a letalidade policial em todos os estados monitorados, mas somente a Bahia teve um número de mortes que representou quase a metade (47,5%) de pessoas negras mortas em ações policiais em todos os nove estados abarcados pelo boletim Pele Alvo.
Para Ana Paula Rosário, porta-voz da Rede de Observatórios de Segurança, os dados são alarmantes e colocam em xeque as estratégias da segurança pública baiana. “A pergunta é: por que o uso da violência para combater a violência? Estamos em um estado que cada vez mais tem registrado o crescimento do índice de pessoas vítimas da letalidade e da violência, já que, ao mesmo tempo em que a violência urbana cresce, a policial cresce também. A estratégia do estado não tem sido eficaz”, aponta.
No ponto de vista de Samuel Vida, coordenador do Programa Direito e Relações Raciais da Universidade Federal da Bahia (Ufba), a política de segurança pública foi projetada para chegar a esse quadro de violência. “Não há nada de extravagante ou anormal. É o resultado deliberado de uma política pública de segurança que optou por intensificar a lógica do confronto e de transformar a letalidade policial em indicador de eficiência da segurança pública”, frisa.
“Nós estamos assistindo esse projeto que começa no governo de Jaques Wagner, se intensifica no governo Rui Costa e ganha, agora, o ápice no governo de Jerônimo Rodrigues. Ou seja, é uma política deliberada do PT baiano. [...] Eu também tenho insistido que a Bahia tem como projeto, e está consumando esse objetivo, de se transformar na locomotiva do trem do genocídio negro no Brasil”, acrescenta Samuel Vida.
A reportagem procurou a Polícia Militar e a Polícia Civil para se posicionarem sobre os dados divulgados pelo boletim da Rede de Observatórios de Segurança. Ambas as pastas sugeriram o contato com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA). Procurada, a SSP-BA inicialmente não respondeu ao CORREIO sobre os números da letalidade policial nem sobre estratégias para reduzir tal cenário. Um dia depois, a secretaria divulgou a nota abaixo:
A Secretaria da Segurança Pública ressalta que as ações preventivas realizadas pelas Forças Policiais e de Bombeiros resultaram na redução de 6% das mortes violentas em 2023, na comparação com o ano anterior.
Informa também que em 2024 (entre janeiro e outubro), com ampliação do trabalho de inteligência, as ocorrências de homicídio, latrocínio e lesão dolosa seguida de morte apresentaram diminuição de 10%. Lembra ainda que nos meses de maio, junho, julho e agosto, a Polícia Civil contabilizou os menores índices de mortes violentas dos últimos 12 anos.
A SSP acrescenta ainda que tem investido em capacitação, tecnologia e equipamentos de investigação, buscando sempre retirar das ruas armas de fogo. Em 2023, as Forças da Segurança apreenderam 55 fuzis, número recorde. No total, 6 mil armas de fogo foram apreendidas naquele ano.
Acrescenta que durante as ações para localização de armamentos, nos últimos três anos, cerca de 300 viaturas foram atingidas por disparos de armas de fogo.
Por fim, a SSP reitera o compromisso com a atuação dentro da legalidade, buscando sempre proteger a população.